Depois de cuidar de uma emergência, Vanil não teve muitos mais pacientes para atender. Essa "falta de afazeres" a deu oportunidade de pensar em sua situação o que ela não queria naquele momento, mas precisava, tinha que enfrentar seus problemas e seu marido, se preciso fosse iria contra toda a Nação Barbat para que Ludu fosse uma criança normal e feliz.Sua mente estava distante quando ouviu alguém chamá-la do lado de fora, estava indo em direção a saída quando um dos homens de Eduim passou pela porta apressado, mas deteve os passos quando viu Vanil.
Em seus braços estava um corpo pequeno enrolado em um pano sujo de sangue. Mesmo não podendo ver seu rosto, Vanil reconheceu os sapatos de couro que ela mesma havia feito para seu filho seguindo um modelo tradicional de sua cidade natal que naquele momento pingavam sangue sem parar criando uma poça no chão.
Tudo pareceu se mover em outra velocidade a sua volta, sentiu seu próprio sangue sumir de seu corpo, seu coração encolheu até o ponto que ela poderia jurar tê-lo perdido, suas pernas fraquejaram com seu peso, até mesmo o ar ao seu redor era pesado demais para que pudesse se sustentar.
Todas essas sensações vieram de uma vez em um milésimo de segundo e foram empurradas para o fundo de sua mente ainda mais rápido.
Ela tomou Ludu dos braços do homem e o colocou em uma das macas. Quando desembrulhou o menino ficou horrorizada, haviam cortes profundos em toda parte, seu rosto ensanguentado estava quase irreconhecível graças aos inchaços, haviam tantas coisas a serem tratadas de imediato que Vanil por um instante se sentiu uma total inútil por não ter noção de por onde começar.
Se recompondo ela checou os sinais vitais dele mais uma vez antes de correr para pegar água, ervas, seus materiais e tudo mais que iria precisar para tratá-lo. Ela o lavou com cuidado e até então não havia tido resposta quando o chamou, mas no momento em que pôs um pouco de aguardente em sua pele Ludu começou a se mexer, não recuperou a consciência, mas gemia de dor.
Terminou de lavá-lo e começou a costurar suas feridas profundas, suas mãos trêmulas não a ajudaram no processo, mas conseguiu trabalhar bem em todos os cortes. Começou então a lavá-lo por inteiro, foi aí que viu algo estranho em seu braço, o segurou firme e olhou para os céus como se pedisse por ajuda, suas lágrimas escorriam sem parar. Ao puxar o braço de Ludu e ouvir o barulho de seu ombro voltando para seu devido lugar ela soluçou.
Finalmente suas pernas se renderam, segurando a mão de seu filho ela se ajoelhou no chão derrotada e chorou, chorou como nunca havia chorado em sua vida.
— Como ele está? — A voz de Eduim soava como uma melodia pesarosa, ele se aproximou dela e esperou que lhe respondesse, mas ela não emitiu nenhum som.
Ele esticou o braço e tocou seu ombro em sinal de apoio, mas aquela não era a hora de dar apoio, ela não queria ter que receber apoio de ninguém, ela tinha um filho bom e saudável quando saiu de casa e não admitia que lhe apoiassem naquele momento as pessoas que poderiam ter evitado tudo aquilo. Ela mesma não se apoiaria para superar a dor que sentia porque sabia que Ludu sentia muito mais que ela e por isso assumiu que merecia cada sensação.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido por dois de seus homens que entraram o informando que Dukem o procurava. Vanil sentiu algo se agitar em seu estômago, um queimor que se irradiava. Eduim a olhou novamente e viu que algo não estava certo.
— Vanil, eu... — Transmitindo toda sua fúria ela encarou. Eduim que recolheu de imediato seu gesto de conforto ficou surpreso ao ver que ao invés dos olhos azuis que tanto admirava estavam duas pedras de fogo que queimavam por sua ira.
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A Última Elemental - O Estopim
AventurăE de repente todo encanto acaba e você nota que o paraíso não é nada mais que uma ilusão. Essa passou a ser a realidade fria e dolorosa de Vanil. Restava a ela duas opções: abaixar a cabeça e torcer por tempos melhores ou lutar. Ela escolheu...