CAPÍTULO - TRÊS

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▶  C H A R L E E — M A N S F I E L D ◀

NO DIA SEGUINTE, a dor se fez presente em todo o meu corpo. Que noite insana!  Mais muito produtiva. O Capo ainda estava adormecido, e por um breve momento, me esqueci de onde estávamos. Ah, sim... em um motel. Estávamos em um motel. Porra, esse homem acabou comigo! Suspiro, buscando forças para me levantar. Olho as horas no relógio de parede. Merda, eu estou atrasado!!! 

Corro para o banheiro, tomando cuidado ao sair da cama para não acordar Yves. Tomo um banho rápido, tirando qualquer vestígio de esperma em meu corpo, já que ele... bem, é melhor não lembrar. Pego mina bolsa, pegando minha roupa extra: calça jeans e moletom branco. Observo Yves, preso em um sono profundo. Olho em volta, pegando sua calça e checando seus bolsos, encontrando sua carteira. Pego as notas correspondentes ao meu preço e prendo meus cabelos em um rabo de cavalo.

— Um dos meus melhores clientes. — Balbucio, rindo baixo e saindo dali, quase perdendo o ônibus, mas nada que uma correria e um grito desesperado não sirva. Cheguei em meu segundo emprego quinze minutos depois.

— Está atrasado. — Meu chefe me abordou na entrada, o que me fez suspirar.

— Não tenho mais desculpas para dar. Apenas peço desculpas. Não vai se repetir. — Falo e ele revira os olhos, me arremessando o avental.

— Sorte sua que os clientes gostam de você. — Resmungou, seguindo para os fundos. Sorri vitorioso, colocando o avental e seguindo para o balcão, cumprimentando Rose. Ela também trabalhava ali e me ajudava sempre que podia.

— Charlee! — Elias e Aisha chegaram da escolinha, poucas horas depois. Como era pertinho do meu emprego, facilitava para mim.

— Oi, meus amores! Sentem-se, eu irei preparar algo para comerem. Mas os dois têm que se comportarem, ouviram? — Falo e Aisha puxa meu avental, chamando minha atenção.

— Se a gente se comportar... ganhamos sorvete? — Questionou, com os olhinhos brilhando. Confiro minha carteira, suspirando.

— Claro! Façam suas atividades, se precisarem de ajuda, estou aqui. — Falo e eles comemoram, abrindo as mochilas e botando os cadernos e livros na mesa. Felizmente eu tinha irmãos compreensivos, mesmo que eles fossem muito novos, nunca me deram tanto trabalho.

Volto para meu serviço, preparando o almoço deles e colocando o dinheiro no caixa. Felizmente era um lugar simples e que não me custava tanto. Deixo eles almoçando e vou atender os demais clientes.

— Deixa que o sorvete é por minha conta. — Rose falou, risonha, pegando dois sorvetes de chocolate e servindo aos meus irmãos assim que terminaram de almoçar.

— Eu vou te devolver. — Falo e ela nega.

— Não precisa me devolver. É só um sorvete e eu amo crianças. Está tudo bem. — Falou, o que me fez suspirar, cruzando os braços.

— Você é um anjo, sabia? — Falo e ela ri, revirando os olhos.

— Eu sei! — Rimos. Após o meu expediente, me arrumei, retirando o avental e fechando a lanchonete, pegando a mão de Elias e Aisha e seguindo para casa. Já era noite e era inevitável eu me sentir nervoso. Minha aparência chegava a incomodar muita gente, e pior ainda seria a ideia de ser assaltado ou coisa parecida. Cada centavo que eu ganhava era importante, mas eu dividia muito bem meus gastos. Apenas com o necessário.

Pego a chave da minha casa, pequena e com uma coloração gasta nas paredes em um tom que deveria ser azul claro, mas já não sei dizer que cor ela se tornou. As crianças correram para dentro de casa, jogando as mochilas na mesa e pulando no sofá.

— Podemos ver desenho, Charlee? — Elias pediu, animado.

— Crianças, já está tarde. — Aviso, pegando as mochilas deles e entregando de volta para os dois. — O que combinamos? Nós três nos ajudamos, certo? Então sem bagunça. Anda, vão tomar banho e tirar essa roupa. — Falo, vendo eles fazerem bico, mas já era nítido a cara de sono dos dois. Iriam capotar assim que deitassem na cama. Eles não insistiram mais e subiram para o quarto.

Retiro meus tênis, suspirando de alívio, mas logo minha atenção é puxava de volta quando batem na porta da minha casa, me fazendo entrar em alerta instantaneamente. Eu não tinha amigos que me visitavam, então só havia uma pessoa que poderia estar ali. Me levanto, pegando o bastão de madeira que eu mesmo acabei fazendo para minha própria defesa e sigo até a porta, a abrindo e avistando a pessoa que mais desprezo em toda a minha vida.

— Charlee...

— O que faz aqui? — Questiono, seco, encarando o homem que um dia já chamei de pai. John só ganha desprezo de mim hoje em dia depois de tudo que fez a mim e aos meus irmãos.

— Eu preciso de dinheiro...

— Para gastar com drogas e bebidas? Não. Além disso, é muita cara de pau você vir me pedir qualquer coisa depois me espancar e tentar fazer o mesmo com os meus irmãos. Você quase matou o Elias naquela escadaria, lembra?! — Exclamo, com o rancor se sobrepondo em minha voz.

— Foi um acidente! — Exclamou, o que me fez ri sem humor.

— Claro... vai jogar a culpa na bebida de novo. Suma daqui ou eu não me responsabilizo. — Ordeno, exibindo o bastão em minhas mãos. Notei ele travar o maxilar, irritado, querendo avançar em cima de mim, mas ele já estava bem ciente de como isso iria acabar caso ele tentasse. Busquei meus próprios métodos de autodefesa para lidar com aquele alcoolotra que vuve querendo sugar o pouco que ganho, chegando a tentar me roubar. A melhor coisa que fiz foi abandonar a casa em que vivia com ele e arrumar um lugar para viver seguro com meus irmãos, nem que fosse uma casa simples, mas ao menos não seríamos agredidos diariamente.

— Isso ainda não acabou. Você é um ingrato! — Exclamou, se afastando.

— Pense o que quiser de mim. Já tem muito tempo que seus insultos não me afetam mais. — Rebato, fechando a porta e a trancando. Respiro fundo, subindo para o quarto e vendo Aisha e Elias sentados na cama, me esperando para tomarem banho.

Só mais um pouco, mãe... Eu vou te ajudar. Eu prometo... Não vou te deixar morrer... Aguenta só mais um pouco...

DONO DA MÁFIA, DONO DE MIM - Nova versão (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora