Capítulo 4: A falência

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– Mamãe? – chamei furiosa entrando no quarto dela. Era totalmente inaceitável eu passar por essa vergonha.

– Oi? – respondeu sem tirar os olhos da penteadeira, colocando seu brinco.

– O meu cartão recusou a compra de um vestido, mãe! UM VESTIDO! – gritei indignada.

– Andy, calma – pediu se virando para mim.

– Não! Calma não! Eu passei a pior vergonha da minha vida! Você tem noção disso? – perguntei irritada.

– Olha, Andy, você tem que enten... – não deixei ela acabar de falar.

– EU NÃO TENHO NADA PRA ENTENDER! EU QUERO AQUELE VESTIDO! AGORA! JÁ! – gritei furiosa.

– EU NÃO POSSO COMPRAR – gritou de volta. Seus olhos se encheram d'água e eu não entendi nada.

– Como não? – perguntei contendo o nervosismo.

– Andy, tem uma coisa que eu preciso te contar – falou abaixando o olhar – a empresa faliu. – falou com peso. Vi uma lágrima descer pelo seu rosto, isso só pode ser um pesadelo.

– Q-quê? – perguntei incrédula, em choque com a notícia.

– É isso mesmo, Andy... – respondeu se sentando na cama com a cabeça baixa – há um tempo a empresa tomou um golpe de um antigo funcionário, isso desequilibrou o capital da empresa. E agora com alguns funcionários colocando a empresa na justiça por ação trabalhista é oficial que quebramos – concluiu, já era impossível segurar as lágrimas – mas ainda podemos dá a volta por cima se vendermos nossa casa, seu carro, algumas jóias...

– Mamãe, o meu carro... – falei agoniada. Vender o meu carro é como um castigo.

– Eu sei, filha, mas vamos precisar cortar gastos e em breve voltamos a nossa vida normal...

Alex Watson

– Tem certeza disso, mamãe? – perguntei insegura.

– Vai ser uma distração perfeita, por favor, não falhe! – pediu firme.

– Mas e você, mamã? – perguntei preocupada, não quero deixar ela.

– Não se preocupe comigo, meu bem – ela disse se aproximando e beijando o topo da minha cabeça – salve-se antes que perca sua vida como eu – ela me abraçou, um pouco sem força.

Mesmo vivendo nesse buraco tomado por ratos e baratas durante dezessete anos, eu não quero escapar. Na verdade, não quero deixar minha mãe nessas condições, porém não temos outra escolha além de aproveitar essa oportunidade.

A porta foi aberta em um rangido ensurdecedor. O traste estava ali, com um balde aparentemente pesado. Ele deu uma risada amarga, abafada pela balaclava, e despejou o "líquido" do balde no chão. O cheiro estava insuportável e a aparência totalmente asquerosa. Ele fechou a porta com força e deu para escutar a mesma sendo trancada.

Nos abaixamos perto daquela comida, se é que podemos a chamar assim. Aquilo era uma mistura de arroz, ovos cozidos um pouco esverdeados, restos de pães e alguns pedaços de carnes cruas, sem contar os inúmeros pedaços de legumes irreconhecíveis. Ver minha mãe tentando colocar aquilo na boca e fazendo vômito não é a melhor vista pra se comer. Eu só queria acordar deste pesadelo.

– Jantar em família? Que fofo! – aquela voz repugnante foi ouvida assim que a porta foi aberta.

– Carlos, por favor, deixe a garota ser livre – minha mãe pediu suspirando. Ela estava prendendo a respiração na intenção de conseguir comer aquilo.

AesirOnde histórias criam vida. Descubra agora