As dezesseis histórias são inspiradas nas personagens e no consagrado formato de vídeos do canal de humor Porta dos Fundos (YouTube). Cada capítulo consiste em um roteiro de esquete autoral e independente (Short-fic). Foi abordado diversos temas, co...
Sinopse: Ninguém é igual a ninguém, ainda assim odiamos e violentamos a diferença. E aceitamos essa intolerância porque "de bem" somos apenas nós, não os outros. Mas o paradoxo é que não podemos tolerar a intolerância. Infelizmente episódios de racismo são recorrentes nos Estados Unidos — a "bola da vez" (ou bala) é o George Floyd — e, às vezes, o ato racista é inconsciente. No Brasil, em diversas expressões a palavra negro e seus derivados representam algo ruim, como "lista negra", "ovelha negra", "mercado negro", "humor negro", "serviço de preto", "a coisa está preta", entre vários outros. Em contrapartida, o antônimo representa algo bom, como "inveja branca" e "dia de branco". A única exceção negativa é "deu branco", mas para esquecer foi necessário ter algum conhecimento epistêmico, pois estudar é privilégio de caucasiano.
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(Sala de jantar. O Guilherme Soares senta ao lado do filho Enzo Soares, que observa um livro de história.)
GUILHERME SOARES — Qual é a lição de casa?
ENZO SOARES — A professora pediu para fazer uma redação sobre racismo. O que é racismo, pai?
GUILHERME SOARES — É preconceito racial. Mas hoje não existe mais racismo, já existiu na época da escravidão.
ENZO SOARES — Racismo não existe mais?
GUILHERME SOARES — Sim, porque no Brasil negros não têm assento marcado em ônibus. Se estiver ainda com dúvida, a nossa mercadoria, aliás, faxineira, que é preta do cabelo ruim, trabalha aqui em troca de um lugar para morar. Ô Solange, vem aqui agora!
SOLANGE — Oi patrão Guilherme, estava lavando a louça.
GUILHERME SOARES — Falei para o Enzo que o seu trabalho não é mais igual à época da escravidão, né?
SOLANGE — Sim. É análogo. (sussurrando)
GUILHERME SOARES — Desculpa, não escutei?
SOLANGE — Não, nada.
GUILHERME SOARES — Já que não está fazendo nada, limpe o chão do banheiro de novo. E cadê o café que eu mandei você fazer?
SOLANGE — Vou passar o café agora.
GUILHERME SOARES — Demorou. Tá esperando o quê?
SOLANGE — Patrão, eu esqueci minha marmita.
GUILHERME SOARES — Têm bananas na fruteira, fique à vontade. (Solange saí de cena) Está conversando com quem no celular?
ENZO SOARES — Estou respondendo um amigo da escola. (risos)
GUILHERME SOARES — Por que está rindo?
ENZO SOARES — Nada.
GUILHERME SOARES — Me dá o celular! (pega o celular) Agora não é hora de brincar.