Capítulo 16 -Beijo

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Girei a chave vagarosamente, após destrancar a porta rodei a maçaneta com cuidado. Eu não sabia se Scarlett estaria em casa ou se estaria dormindo. De qualquer forma, não queria fazer muito barulho. Entrei com cuidado fechando a porta assim que eu passei. Dei uma boa olhada na cobertura. A porta de entrada dava direto em uma grande sala de estar com uma enorme TV na parede e um sofá que parecia ser extremamente confortável. Brie disse que era pra colocar o casaco na porta ao lado da TV, mas há duas portas!

- Merda, Brie. Você e sua riqueza de detalhes. – Xinguei baixinho.

Decidi então colocar o livro na mesa que havia flores, mas toda mesa desse maldito apartamento tem flores. Mas que merda, Brie, poderia ter sido mais específica. Ela faz de propósito, tenho certeza. Olhei novamente para as portas.

- É a da esquerda. – Uma voz de criança soou atrás de mim. Meu coração disparou com o susto.

- Misericórdia. - Sussurrei com a mão no peito. 

Olhei em direção a voz e havia duas menininhas loiras paradas perto do sofá. De onde elas surgiram? Sussurrei um agradecimento a elas antes de abrir a porta esquerda que dava em um closet pequeno de casacos. Me virei para as crianças novamente que me olhava com carinhas fofas, elas que pensem que me enganam. Apontei para o livro em minhas mãos, a mais alta sorriu travessa.

- Pode deixar com a gente, Brie sempre faz isso. – Ela sorriu. Essa garotinha tá querendo me ferrar.

- Ela faz? - Perguntou baixinho a menor. A mais alta simplesmente lhe enviou um olhar severo. Ó o golpe.

- Não, não. Eu não posso. – Respondi baixo.

- Pode sim! – A mais alta respondeu em um tom elevado.

- Shiu... Fala mais baixo por favor.

- O que é isso? – A voz de Scarlett soou atrás de mim. Engoli em seco olhando para ela. – Anne e Rose, voltem para o quarto.

As duas sorriram para mim e voltaram para o seu quarto me deixando sozinha com o diabo em mulher. Minha respiração ficou descompassada assim que Scarlett começou a se mover em minha direção.É hoje que ela me arrasta para o inferno.

Por favor, que ela chame a cama dela de inferno...

- Oi... bom... eu só vou deixar isso aqui e estou indo embora. Me desculpa pelo incômodo. – Falei rapidamente. Larguei o livro na mesa de centro da sala.

Fui passar por Scarlett com a intenção de ir embora, mas a mais velha segurou meu pulso. Engoli em seco com medo de sua reação. Meus olhos subiram de sua mão em mim para o seu rosto. Seus olhos verdes estavam escuros e sua boca levemente aberta. Scarlett não falou nada, apenas me analisou, meu olhar desceu até a sua boca e poxa... como ela estava convidativa agora. Eu necessitava sentir seus lábios nos meus. Voltei meu olhar para o seu e ela olhava para os meus lábios também.

Não aguentei e acabei colando os nossos lábios. Pedi passagem e ela cedeu, era um beijo lento e gostoso. O corpo da mais velha parecia ter congelado com a surpresa, mesmo ela correspondendo ao beijo, mas logo ela se entregou assim como eu. O que não durou muito, já que ela me empurrou rapidamente. A encarei assustada com o meu ato, seus lábios vermelhos soltavam o ar que entrava pelas suas narinas e isso me fez engolir em seco e dar alguns passos para trás.

Merda, o que eu fiz?

***

Assim que entrei Brie agarrou o meu braço e me arrastou até a pequena cozinha.

- Não foi tão grave assim... É que as meninas me ajudaram. – Rapidamente tentei me explicar sabendo do que se tratava essa abordagem e é claro que eu omiti algumas coisas.

- Você falou com elas? É claro que você falou.... por que não fez uma festa do pijama com as meninas e me chamaram? – Perguntou sarcástica cruzado os braços. Na verdade, Brie, eu fiz pior... Beijei nossa chefe e sai correndo o mais rápido possível de lá depois disso. Obviamente eu não iria contar isso.

- Já sei, já sei, eu errei. – Choraminguei em frustração comigo mesma.

- Adelaide, acho que você não está entendendo... se você for despedida isso pode prejudicar minha viagem para Paris. E eu vou revirar cada canto dessa cidade pra te achar, entendeu? – A loira me ameaçou, engoli em seco.

- Espera... ela vai me demitir?! – Desespero total. Mas que merda, Adelaide!

 - Eu não sei, ela não tá feliz.

- Adelaide! – A voz de Scarlett soou alto de sua sala. Engoli em seco olhando desesperada para Brie que apenas jogou seus braços em direção a sala da chefe.

- Scarlett, sobre ontem a noite... – Rapidamente fui cortada.

- Eu quero o novo livro de Stephen King para a minha filha e minha sobrinha. – Scarlett escrevia algo em alguns papéis e nem sequer ousou me olhar.

- Certo... – Sorri sentindo um alívio. Não estou demitida! Pelo menos por enquanto. - Eu vou buscar na livraria agora.

- Você caiu e bateu a cabeça em uma calçada? – Zombou a mais velha.

- Não que eu me lembre. – Respondi incerta.

- Elas tem todos os livros publicados, querem ler o próximo.

- Quer um manuscrito inédito? – Era só o que me faltava, porra!

- Conhecemos todas as editoras, isso não vai ser um problema vai? – Me encarou com um olhar extremamente frio. Diferente daquele que ela me olhava antes de eu fazer a burrada de beijá-la. - E você pode fazer tudo, não pode?

- Ela não entende, eu posso ligar para o Stephen, mas ele nunca vai me dar uma cópia do manuscrito. - Reclamei baixinho para mim mesma. Brie ria da minha cara do outro lado da sala. Vagabunda.

- Minha filha e minha sobrinha estão indo para a casa da avó as 16h, o manuscrito tem que estar aqui às 15h.

- Claro. – Sorri forçada.

- Ah e eu gostaria do meu almoço em 15 min. – Disse saindo para sabe-se lá qual departamento da revista pra assombrar.

- Puta que pariu, fudeu fudeu fudeu.. eu tenho 4h para conseguir um manuscrito. O restaurante que ela gosta não abre antes das 11h e 30... como que eu vou conseguir o almoço? Tá, eu vou voltar em 15 minutos. Me deseje sorte!

- Não mesmo! – Gritou Brie.

Eu liguei para todas as editoras enquanto ia para o restaurante que a Scarlett gosta. Literalmente TODAS, mas nenhuma iria me dar o manuscrito. E isso nem óbvio. Eu até tentei dizer que era para a tão temida Scarlett Johansson, mas foi em vão.

Sai do restaurante correndo ainda tentando as ligações. Pelo menos o almoço estava resolvido e ela não iria me demitir... de barriga vazia.

Um ônibus passou bem na hora com uma propaganda escrita: Shakespeare no estacionamento, Hamlet sem teto da rua Houston por Gal Gadot.

Gal Gadot! Minha salvadora. Disquei rapidamente seu número, na terceira chamada ela atendeu.

- Oi, eu sei que você não vai se lembrar de mim, mas nos encontramos na festa do Chris Hemsworth. Eu sou a assistente da Scarlett Johansson.

- Ah, oi! – Disse animada. – O que devo a honra?

- Eu sei que vai parecer estranho... mas... eu queria ver se você conseguiria o manuscrito do Stephen King, Scarlett me pediu isso e eu sei: é um absurdo, mas se eu não conseguir ela vai me demitir! – Falei tudo de uma vez.

- Peraí, o manuscrito do Stephen King? Você tá brincando?

- Desculpa te pedir isso, mas... É QUE EU TO DESESPERADA! – Desesperada e quase surtando.

- Então diz pra ela que não dá. Você vai ter que encontrar outra maneira. - Respondeu-me calma.

- Estamos falando da Scarlett Johansson e não há outra maneira só há essa maneira. – Respirei fundo. Gal não tinha culpa, então seria injusto criar uma cena em cima dela por conta disso. Agradeço o tempo dela e desligo o celular.

O Diabo Veste PradaOnde histórias criam vida. Descubra agora