Dezesseis

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Sara chegou em casa, deixou a bolsa no chão e jogou-se no sofá. Sua vida tinha dado uma volta completa em menos de meio dia, só queria enrolar-se com um edredom e chorar.

Estava quase sem trabalho, grávida e sozinha.

Porque, apesar de Abby Lee ter lhe dado uma chance, ficar não era opção. O que faria quando a barriga começasse a crescer? E com as náuseas e vômitos, no momento, não podia dançar.

Lembrou das vitaminas prescritas pelo médico e foi à cozinha pegar água. Ele havia dito que as náuseas sempre variam entre cada mulher grávida e, infelizmente, quase qualquer coisa a fazia sentir-se mal.

Inconscientemente colocou a mão na barriga. Sobre o seu bebê. Uma vida estava crescendo em seu ventre, sentia essa conexão, nessa altura já soluçava. Era o seu bebê... E de Ava.

Certamente tinha que dizer a ela.

Mas não agora.

Várias semanas depois conseguiu combater as horríveis náuseas e ficou satisfeita com isso.

Decidiu permanecer na academia até não dá mais, e com dor, deixou seu currículo em várias academias da cidade, mas é difícil em seu estado atual. Talvez seja melhor tirar uns meses de férias e usar suas economias enquanto isso.

Na academia, no entanto, tudo era estranhamente normal, exceto pelos olhares furiosos e os comentários de duplo sentido de Jess, que sempre se esquivava.

Falou com Alicia, Sara contou tudo o que aconteceu, exceto a gravidez. Disse a ela mais ou menos como as coisas tinham acontecido com sua mãe, e embora Ali tivesse ficado cabisbaixa, tinha que aceitar. A menina não ficou mais triste do que a própria Sara por esse fato, teve que segurar várias lágrimas. Ainda não havia dito a Alicia que iria se afastar da academia, não sabia como dizer, mas precisava.

Ava... Essa era outra história... Não a viu desde o dia em que ela saiu de seu apartamento. Ela não deixava mais Alicia na porta da sala de aula, nem saía do carro quando a buscava. Nem a ligou! Maldição! Sentia tanto sua falta que chegava a sentir dor no corpo. Lembrava de seus beijos, suas carícias, sua voz, cada palavra que pronunciou.

Você é muito linda!

Você está perfeita hoje.

Não consigo parar de pensar em você.

Minha cama sente sua falta, mas não mais do que eu...

Será que Ava ainda sentia sua falta? Não sabia, mas estava claro que ela sentia.

Talvez fosse o produto da gravidez, se convenceu, mas não conseguia tirar a loira de sua cabeça. Abraçava seu travesseiro todas as noites ansiando que fosse a bela loira de sorriso cativante, afastando-se do seu celular muitas vezes para evitar ligar para ela. Dormia todas as noites com a camisa que Ava tinha deixado em seu apartamento um dia, e isso causou suas lágrimas. Charlie disse que era normal ser sensível durante a gravidez, mas suspeitava que estava indo além do que era possível...

Sim, talvez Ava tivesse preenchido um vazio na sua vida sem perceber. Encheu o espaço esquerdo da sua cama, a mesa no café da manhã e às vezes nos jantares, seu corpo ocupava sua pequena cozinha.

Até a barriga dela a tinha enchido com um bebê! O que, depois de assimilá-la, manteve-a feliz. Mas e o seu coração? A julgar pelo vazio que sentiu, provavelmente teria preenchido isso sem que ela percebesse.

Agora tudo, exceto por sua barriga, estava vazio. Novamente...

Também perdeu seu emprego. Embora, se fosse honesta consigo mesma, tinha que admitir que não foi tão ruim. Talvez porque odiava ter que se esgueirar no meio da aula quando estava tonta ou talvez porque não se sentia bem em um lugar onde não poderia ter a vida privada que queria sem afetar sua vida profissional. Ela até admitiu que estava aliviada de sair. Talvez fosse culpa da revolta das emoções em sua cabeça. Não sabia ao certo.

𝑨 𝒑𝒓𝒐𝒇𝒆𝒔𝒔𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒆 𝒃𝒂𝒍é - 𝐀𝐯𝐚𝐥𝐚𝐧𝐜𝐞✬ Intersexual✬Onde histórias criam vida. Descubra agora