F U I E S C O L H I D O

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-Victor, tem certeza disso?

É a segunda vez que a Beta faz a mesma pergunta. Estou em sua sala no orfanato, desde o sábado não penso em outra coisa. Ao ouvir o relato do Leornado aos prantos do porquê aceitou ir passar o final de semana com a família que queria adotá-lo.

"Eu pedi para eles adotarem também a Clara ou escolher ela no meu lugar, mas não aceitaram e ainda falaram que minha irmã é defeituosa por isso fugi." Como a Clara ele não saiu dos meus braços até se acalmar.

-Sim. Eles são os meus filhos, quero os dois! É só falar o que eu tenho que fazer, quais papéis...

-Vitor, calma, respira homem! -Põe suas mãos em meus ombros sacudindo meu corpo. -Isso. Agora senta!

Obedeço e fecho os olhos fixando minha atenção na minha respiração para desacelerar, mas a imgem dos dois chorando e buscando em mim proteção não sai do meu pensamento, só fui para casa quando tive a certeza que estavam bem. A noite só consegui dormir após conversar por horas com minha mãe.

"Filho, tem certeza que são eles os meus netos? Dois netos, um casal. É muita felicidade!" Foram suas palavras à cada coisa que eu falava dos irmãos. Só não estive no domingo no orfanato para falar com a Beta porque era seu dia de folga, mas é claro que liguei para saber deles. Sem ter o que fazer escolhi passar o dia em silêncio como dona Helena aconselhou. Me recolher e pensar em tudo porque é uma escolha sem volta.

-Muito bem, decisão tomada não pode mais voltar atrás e não podemos dar esperanças falsas para os dois.

-Betinha o que está querendo fazer, pensei que daria gritos de felicidade quando ouvisse.

-Esse é o meu trabalho, com sua certeza o próximo passo é conversar com os outros interessados.

-Por isso estou aqui, nem consegui trabalhar de tanta ansiedade.

-Percebi, você nunca esteve aqui em plena segunda feira. Senta antes que faça um furo no piso da minha sala.

Mas não consigo sentar, vou até a janela vejo algumas crianças chegando da escola, suas agitações e brincadeiras arrancando um sorriso dos meus lábios

-E eles como estão? A clarinha dormiu bem? Por que está rindo? -Com um grande sorriso sentada em sua cadeira virada para onde estou.

-De você, de quem mais? Por que demorou tanto para perceber que eles eram seus?

-Não entendi! -Sento na cadeira de frente para sua mesa.

-Responda quantas vezes o Leornado bateu naquela porta quando estava aqui ou quantas ele te seguia nos corredores e ainda almoçava ao seu lado?

Paro para pensar e constato que muitas vezes em que estive aqui o Leornado estava ao meu lado. Um sorriso nasce. Levanto novamente sem conseguir ficar parado.

-E por que nunca falou isso antes, poderia ter me alertado! Eu já poderia tê-los adotado.

-Não podia te induzir a escolher eles só porque eu estava falando. Você sempre sorria quando via a Clara ao lado do irmão, mesmo não se aproximando dela.

-Eu gostava de observá-la, acho lindo seus cachinhos! -falo com um sorriso. -Você viu quando ela falou comigo: "Vito, quero o meu irmão" e não me largou mais, tão fofa.

-Tão bobo esse novo papai...

-Ai meu Deus! Beta eu vou ser pai de duas crianças, isso é maravilhoso!

-Que susto homem, acalme você sabe que falta muitas coisas para serem feitas, quando quer...

Alguém bate na porta, desconfiamos quem seja, Beta autoriza a entrada. E não apenas o Leornado, a Clara dessa vez está com ele e para minha felicidade ela corre para o meu colo.

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