So touchable

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Frustrado. Desgraçadamente frustrado. Estar completamente desprovido de inspiração é um verdadeiro inferno. Pra um artista, é como ainda estar preso às entranhas da Terra, esperando inutilmente que sua alma encerrada num molde de lama receba um sopro da vida.

Batia nervosamente a ponta do lápis contra a primeira folha do caderno que havia comprado especificamente para aquilo. No canto superior direito, o título: "Diário de Eros", porém, no restante da página um vazio de branco infinito e perturbador.

Já havia tentado de tudo. Procurara sofregamente por inspiração em todos os cantos. Assistiu e re assistiu episódios e temporadas inteiras de animes e séries, ficara horas escutando podcast's aleatórios, procurou por apresentações de teatro na internet, até chegou a reler toda a obra original de Otelo, que lera a última vez para sua última apresentação, mas de nada nada daquilo adiantara.

Nunca antes fora tão difícil pensar numa personagem. Iria interpretar Eros, o Deus do amor que aflora da carne. Por mais que a ideia parecesse simples e direta, não tinha a mínima noção de como faria para atuar naquela figura.

Bagunçou os fios castanhos em desespero. Estava para abrir sozinho sua caixa craniana a fim de arrancar à força dos neurônios algo de útil. O que quer que fosse. O detalhe mais insignificante já bastaria.

Escondeu o rosto nas palmas das mãos, deixando escapulir da garganta um som gutural e um tanto animalesco; um quase urro de um felino da savana.

— O que foi, amor?

Girou na cadeira de escritório para ver a fonte da indagação, já pronto pra vomitar sobre a vítima frases indecorosas e palavras de baixo calão, fruto de puro estresse; contudo, quando seus olhos encontraram Jimin, sua voz enriquecida de selvageria morreu no palato; em seu âmago outro animal tão selvagem quanto o anterior criando vida.

O mais velho acabara de sair do banho. Uma toalha enrolada na cintura, outra menor com a qual secava a cabeleira ruiva. O tronco bonito ainda molhado. Uma gotinha da água da ducha quente recém tomada escorregou por entre a musculatura abdominal bem delineada, descendo pela linha marcada que levava à virilha e se perdendo atrás do tecido. Suspirou, longa e profundamente. Será que era muito doentio ter inveja de uma gota d'água?

Jimin pendeu a cabeça pro lado e franziu o cenho, confuso com a expressão vazia que o outro tinha ao mirá-lo sem piscar.

Balançou os cabelos, expulsando o excesso de água deles com o movimento, e foi até o namorado. Se apoiou com uma mão no encosto da cadeira e com a outra na mesa, tocando a testa do mais jovem com a sua, arrancando mais um suspiro do Kim com o ato.

Ah... Jimin... Como podia sua presença ser tão reconfortante a ponto de o fazer esquecer de todos os seus problemas em poucos segundos?

— Quero um beijo. — Pediu baixinho, sendo prontamente atendido. Os lábios fartos se arrastavam preguiçosamente entre os dele, lhe causando arrepios a cada vez que contraíam. A língua quente procurou contato com a sua, pedindo abertura ao passar a ponta pela fenda da boca, logo invadindo seu interior.

Gostava da dualidade dos beijos de Jimin. Fazia com o mesmo afinco e curiosidade da primeira vez, fingindo que não conhecia cada mínimo detalhe do desenho dos seus lábios, ao mesmo tempo que o fazia com paixão tal que era como se já estivessem transando.

Estavam há quase um ano juntos e aquela boca ainda o deixava fora dos trilhos a cada mínimo contato.

— Agora vai me dizer porquê esta chateado? — Embrenhou os dedinhos nos cabelos de sua nuca, os puxando com força necessária para lhe causar um calafrio que subiu e desceu pela sua espinha.

I kissed a boy - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora