Não tenha medo do amanhã. Tenha medo do hoje pessimamente aproveitado.
-Autora
Garðabær, Islandia
2023 (tempo presente)
A despedida deles não foi como a de um casal comum, foi injusta. Dorothy só queria ter mais tempo com ele...não, ela o queria não na sua versão atual, mas ele adulto bem como quando se conheceram há cinco anos antes de tudo.
Aconteceu há pouco tempo. Dory passou a última década vendo seu marido "decrescer" enquanto "envelheciam" juntos. A cada mês ela notava que Maximillian ficava mais jovem até que, no final dos cinco anos, ele acabou como um bebê. Essa história lembrava um pouco o enredo de O Curioso Caso de Benjamin Button, e não tinha na trajetória deles um final feliz.
Dorothy suspirou e sentiu o cansaço invadir seu corpo e mente. Diante dela, Maximillian chorava e esperneava no restaurante Lauren's, atraindo olhares de irritação por parte de quem só queria tomar um café da manhã em paz. Era a quarta vez que Dory enfiava a chupeta na boca dele para suprimir o choro. Obviamente ele reclamava por um peito e leite de verdade, mas ela se recusava em ao menos pensar nessa possibilidade.
Mas que droga, nem mãe ela almejava ser.
-Quieto...Shhhhhhhhhhh!-ela levantou o dedo e os olhinhos azuis de Max acompanharam o movimento.
Aos poucos, o bebê parou de chorar à medida que ele percebia o rosto cansado de Dorothy. Momentos como esse a fazia refletir esperançosa se em alguma região daquela cabecinha minúscula, ele se lembrava de tudo que viveram. Se, talvez, em algum espaço de seu subconsciente existisse o Maximillian de 35 anos que um dia disse que a amava.
Mas toda essa reflexão era vã porque Maximillian não era mais aquele que um dia fez seu coração bater em sua caixa torácica e doía ter plena consciência dos fatos.
Quando ele chegou aos 16, ainda a amava, mas algo o impedia de tocá-la. Ela entendeu com o tempo que ele passou a ter vergonha de namorar uma mulher mais velha mesmo que ambos teoricamente fossem adultos. Ele, no caso, sendo cerca de dez anos mais velho que ela. Aos 13, ele não queria mais sair do game...qual era o nome mesmo?
Ah, League of Legends.
Ele chamava de LOL.
Era LOL isso ou LOL aquilo e tudo também se resumia a ir em festas com outros adolescentes ou beber ilegalmente em alguma esquina. Houve um dia em que Dorothy o flagrou beijando uma jovem de quatorze anos e isso marcou o final de Doromillian (nome que os dois criaram para representar sua união).
No fim das contas, Dorothy o amava o suficiente para permitir que ele tivesse essa liberdade, mas era egoísta o suficiente para não querer que ele fosse embora.
Ela o queria na forma romântica da palavra "querer". Contudo, ela tinha que admitir que, à medida que Max ia se tornando cada vez mais jovem, ela não conseguia mais enxergar o homem através do corpo pequeno de um menino. Quando ele atingiu os doze anos, ela parou de pensar nele da mesma forma porque era dolorido e doentio demais amá-lo além do limite ético.
Uma nova onda de choro do bebê Max tirou Dorothy de suas reflexões depreciativas sobre o passado. Para piorar, Max não apenas chorava e esperneava, mas berrava ao ponto de quase quebrar os vidros do restaurante. A gerente do Lauren's convidou para que Dory se retirasse do estabelecimento porque estava incomodando outros clientes, o que Dorothy achou ridículo pois "convidar a se retirar" é a mesma coisa que "caia fora, sua otária". É só um eufemismo chulé.
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Contra o Verso [EM EDIÇÃO]
RomanceMaximillian vive em um paradigma onde o tempo transcorre de forma inversa sobre seu corpo. Em outras palavras, ele nasceu com 48 anos e, ao invés de envelhecer, fica cada vez mais jovem até que aparente ter 0 anos de idade no final de cinco anos. A...