18. Quando você sumiu

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Maximillian

Ele não sabia como tudo aquilo aconteceu. As coisas somente foram acontecendo como num passo de mágica, literalmente. Ou como dizia a teoria do caos: um detalhe pode mudar toda a trajetória de uma história.

Quando Dory pegou o carro e foi embora, ele sentiu raiva pelo abandono, e depois se sentiu perdido e vulnerável. Sem contar que o remorso caiu sobre si como uma onda de Nazaré e o deixou ali, sem saber como reagir.

Logo após a saída de Dorothy, Emi ofereceu a ele um copo d'água e até um quarto para ele ficar, mas Max recusou. Ele estava sentindo o fio que ligava ele a Dory pouco a pouco se partindo com a distância assim como aquelas cordas grossas que vão estourando fio por fio até se partir de vez. Max sabia que essa conexão, uma vez quebrada, nunca mais seria recuperada.

-Preciso ir atrás dela, -ele passou os dedos entre os fios de seu cabelo encaracolado. -Fiz besteira, Emi.

Emi segurou o próprio queixo, pensativa.

-Eu posso levá-lo até o seu hotel, -ela sugeriu, pegando a chave do carro em cima da mesa de jantar. -Vamos.

-Não é longe daqui, -Max afirmou, indo atrás da irmã.

No caminho até o hotel, Max viu Dory morando de aluguel em sua mente. Ela estava por todos os lados, em todos os pensamentos e até em seus planejamentos para o futuro.
   
Max odiava admitir, mas a única pessoa que tinha agora era ela. A única pessoa que o entendia e sabia sobre sua condição "sobrenatural". E odiava admitir também que gostava dela, mesmo com toda a implicância, mesmo com todas as diferenças e mesmo com todas as desconfianças.

    -Ela era sua namorada? -Emi perguntou de repente, virando na esquina do hotel.

    -Quê? Não...-Max balançou a cabeça.

    -Quem é ela?

Max coçou a nuca.

-Ela me ajudou a encontrar você. Dory é...uma pessoa que eu conheci.

-Você gosta dela, isso é certo, -Emi sorriu, freando o carro até parar diante do hotel. -A gente se vê por aí, Max. Seus sobrinhos vão querer conhecer você.

Ele sentiu um calor reconfortante se espalhar pelo seu peito.

-Eu vou tentar voltar, -ele prometeu saindo do carro.

-Traga Dory, se ela quiser futuramente. -Emi disse, sorrindo.

    Max sentiu que estava prestes a chorar.

    -Eu vou tentar manter contato, Emi, é que...

    Ele queria dizer que tudo os separava: a história deles, sua condição e a distância discrepante entre Japão e Itália. E ele estava certo, tudo os separava, por mais que tentassem manter contato. Mas ele voltaria, seja lá como.

    -Eu preciso ir,-ele disse olhando para o relógio.

Emi ligou o carro e voltou para a casa. Max queria muito poder ter mais tempo com sua recém-descoberta irmã, mas tinha que ir atrás de Dory, caso contrário, a perderia para sempre.

    Era meia-noite. Fazia meia hora que Dory se foi no carro alugado deles. Se tiver sorte, ainda poderia encontrá-la. Se não tiver, bom, ele teria que rodar o universo do espaço-tempo para achá-la.

Max correu as escadas que levavam ao andar do hotel onde eles estavam hospedados. O quarto número 8 era o de Dory. Ele bateu duas, três vezes na porta e na quarta ele desistiu: invadiu o quarto, o que acionou as sirenes do hotel.

    -Não...-ele sussurrou, vendo o quarto vazio com as coisas de Dory arrumadas.

    A primeira coisa que ele viu no meio dos pertences dela foi o aviãozinho que ele havia comprado para ela. No início ele imaginou que aquilo fosse o resultado da fúria de Dory, mas depois, lembrando do que aprendeu sobre sacrifícios, repensou e viu que ela havia, na verdade, pulado no tempo.

Contra o Verso [EM EDIÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora