Carmesim - ShiIta

1 - Carmesim

Como Shisui tinha previsto, o festival havia sido interrompido e todas as pessoas foram orientadas a deixar o local. Ele sequer percebeu que o dia tinha amanhecido até que a luz do sol fez com que seus olhos cansados ardessem. Havia passado a noite na delegacia, lendo o relatório do legista repetidas vezes, buscando entender o que aconteceu.

Era surreal.

Tanto a imagem do corpo, totalmente ensanguentado e repleto de marcas semelhantes a mordidas, quanto a que viu logo em seguida, do par de olhos vermelhos encarando-o por trás das árvores.

Chegou a cogitar estar alucinando, abismado demais com a morte para pensar com clareza. Mas aqueles olhos estavam o perseguindo desde então e, toda vez que olhava a foto do cadáver, os orbes brilhavam maliciosamente de forma vívida em sua memória, embrulhando o seu estômago.

Olhando o celular pela primeira vez em horas, ele viu a mensagem de Itachi respondendo à sua que havia enviado há algum tempo, informando-o superficialmente do que tinha acontecido e que, por conta disso, teria que trabalhar durante a madrugada.

Shisui sorriu minimamente antes de mandar uma mensagem de bom dia e, depois disso, se atentou às horas, vendo que já eram sete da manhã. Em alguns minutos, a polícia ambiental estaria ali para analisar o relatório do legista e o Uchiha seria o responsável em apresentar os detalhes do caso para o oficial.

Levantando-se da cadeira, deu-se conta de que as costas doíam devido ao tempo em que ficou sentado e, por isso, engoliu um analgésico com o auxílio de um grande copo de café enquanto andava em direção à sala do legista.

Um suspiro cansado deixou seus lábios quando ele abriu a porta, adentrando o local e notando, no mesmo instante, o clima de tensão entre Kakashi, o legista, e o homem que deveria ser o policial ambiental.

Ambos se encaravam com seriedade e demoraram a notá-lo ali.

O Hatake foi o primeiro a se afastar, virando-se de costas antes de revestir as mãos com luvas e retornar ao trabalho. A expressão de desagrado não passou despercebida por Shisui e ele fez uma anotação mental para descobrir o que havia aborrecido o colega mais tarde.

Diferente deste, a outra pessoa no recinto não parecia tão abalada e o cumprimentou com um aceno de cabeça antes de estender uma das mãos.

— Obito Uchiha, polícia ambiental.

— Shisui Uchiha, responsável pelo caso — Respondeu à saudação.

— O que tem para mim, Shisui? — Perguntou, um sorriso leve nos lábios que o mais novo reconheceu como nervosismo — Kakashi já me apresentou, resumidamente, o relatório — Ambos dedicaram um olhar ao outro homem na sala, que retribuiu rapidamente, a face irritada voltada para Obito.

Shisui observou a interação com curiosidade.

— Não temos muitas informações — Iniciou, alcançando o relatório do Hatake sobre uma mesa — Interrogamos algumas pessoas, a maioria delas vendedoras de barracas próximas ao local. Ninguém viu nada.

Obito assentiu antes de estender um mapa sobre a superfície de madeira.

— O local da morte está a poucos metros da entrada do bosque — Mostrou, com o auxílio de uma caneta, o trajeto no documento — A hipótese mais provável é de que o animal tenha saído de lá.

O tom de voz incerto do policial alarmou Shisui.

— Há alguma outra hipótese? — No instante que a pergunta deixou seus lábios, os olhos vermelhos retornaram à sua mente e ele tentou, a todo custo, ignorar o pensamento.