Paredes rabiscadas.

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Voltando pra casa, eu surtei.

Estávamos voltando, eu e Amália.
Rindo, até as nossas barrigas doerem, rindo até que eu esquecesse de todos os meus problemas, rindo, até que as vozes começassem a rir também.
Por todos os lugares, era ensurdecedor,
e ecoava, cada vez ficava mais forte.
Eram risadas, eram gritos, eles chamavam meu nome.
Tampava minha orelha na esperança de que eu parasse de ouvir tudo aquilo, eu socava minha cabeça por quê queria que aquilo parece.
Eu não tive mais forças, e por fim, caí no meio da calçada, sem esperança nenhuma de que aquelas coisas parassem de me perturbar. A essa altura, ja tinha esquecido da presença de Amália.

Então, apenas com um toque gentil no meu rosto, vi Amália, parada ali na minha frente, pedindo para que eu me acalmasse, logicamente isso não funcionou.
Mas sua expressão era de partir o coração, que até nesse momento, ja havia sido partido em pedaços, e esmagados no triturador.

— posso dormir na sua casa?

As vozes pararam, meu coração parou, e toda a esperança que havia sido assasinada, ressurgiu dos mortos.

E então eu e Amália caminhos até a minha casa em silêncio.
O mundo por fim, era nosso.

Quando chegamos, fomos para meu quarto, ela se assustou, havia tempos que não vinha na minha casa e meu quarto a esse ponto, estava com as paredes rabiscadas, com as roupas jogadas, remédio por toda parte e alguns tufos de cabelo pelo chão. Um terror.

Mesmo assim ela ficou.

Eu a deixei no quarto, e fui tomar um banho para me acalmar.
Quando eu voltei ela havia vestido um pijama meu, nós éramos amigas a tempo suficiente para ela pegar minhas coisas sem nem pedir, eu fingi que não vi, e fui colocar meu pijama também.

Eu estava exausta, depois do meu surto, queria apenas dormir, então peguei o meu cobertor mais quente, deitei na minha cama e me envolvi nele.
Cochilei por uns 20 minutos, acordei com Amália atrás de mim, me abraçando, ela me olhava com um olhar de preocupação, me olhava como eu fosse uma bomba, que poderia explodir a qualquer minuto, não suportei esse olhar, então me virei para o lado dela, deixando nossos rostos apenas centímetros de distância.

Meu coração parou ali.
Eu queria beija-la mas tinha medo, ela poderia se afastar do meu beijo e fazer uma careta de quem não estava entendendo nada.
Ela poderia se levantar da cama e fugir de mim.
Ela poderia ficar no beijo e simplesmente aceitar o nosso amor.
E eu, poderia perdê-la.
Pensando em todas as consequências dessa minha ação, sacrifiquei toda a nossa amizade, e a beijei.

Tudo o que eu deveria ter ditoOnde histórias criam vida. Descubra agora