Então eu e Catarina chegamos em sua casa.
A casa de Catarina sempre me passou uma energia pesada; era uma casa escura, em uma rua sem saída.
Mas mesmo assim lá eu me sentia em casa, por estar com ela, e também por ja ter frequentado aquela casa inúmeras vezes.
Fomos para seu quarto, e quando ela abriu a porta, eu olhei imediatamente com uma cara de espanto para toda aquela zona! Mas mesmo assim, tentei disfarçar, para que ela se sentisse acolhida por mim, e não julgada.
Logo após isso, ela foi tomar um banho frio, para se acalmar, e eu fiquei no quarto dela; decidi pegar um pijama que parecia meio velho, estava no fundo de sua gaveta toda descascada, e era cor de vinho.
Eu fiquei olhando para as coisas dela, por mais que o quarto não estivesse cheio de coisas, por conta de doações que ela fez; e também confesso que era inevitável não reparar nas coisas monstruosas desenhadas de preto, vermelho e azul nas paredes, muitos pedidos de socorro rabiscados, e seres nunca vistos.
Até que escuto a porta do banheiro se abrindo, e vejo o quão linda ela fica de cabelo molhado, mas na hora, só consegui falar: "finalmente" rindo da reação dela.
Ela pegou um cobertor peludinho e se deitou, acabou cochilando por volta de uns 40 minutos, e eu fiquei a olhando, para ver se não aconteceria nada com ela.
Quando ela acordou, se virou pra mim, e ficou extremamente perto do meu rosto.
Acho que ela não notou eu olhando discretamente para sua boca, por mais que eu tentasse não fazer muito isso, não sei se eu fazia sem querer; logo depois, ela olhou pra mim, e me beijou.
Lembro-me de ela segurando forte o meu cabelo, e conseguia sentir que ela estava totalmente feliz em fazer aquilo.
Era como se eu estivesse sentindo tudo e nada ao mesmo tempo; era como se tudo que eu quisesse estivesse acontecendo, mas também era como se tudo que eu mais temesse estivesse ocorrendo de uma vez só naquele momento.
O pânico surgiu, lembranças vieram, a vontade de gritar era enorme; mas eu não podia fazer isso, afinal, na hora eu tive que agir imediatamente, ela estava me beijando, e eu não sabia como reagir.
Eu sentia a mão dela cada vez mais apertando meu cabelo, e percebi que a cada segundo, ela acelerava um pouco mais aquele beijo, por mais que nao estivesse muito eufórico.
Eu coloquei a minha mão delicadamente em seu rosto e apenas continuei seu beijo, continuei por menos de 40 segundos, porque eu tinha que processar se era aquilo mesmo que eu queria; logo depois desses 40 segundos, eu me afastei devagar, eu estava vermelha, e não sabia se olhava para sua boca, para seus olhos, ou para baixo.
A única coisa que me lembro de ter falado, foi um pedido, pedi pra dormir na sala; tudo que eu queria naquele momento era colocar tudo pra fora, eu estava com uma sensação estranha no peito, me faltava ar e eu só queria chorar, por mais que eu quisesse aquilo que aconteceu, não sabia se eu queria demonstrar que queria aquilo pra ela, porque da última vez que ousei fazer isso, foi a mesma sensação de uma facada no peito cada vez que eu tentasse amar alguém, eu me tornei uma pessoa confusa, não queria a deixar ir, mas também não dava motivos para ela ficar.
Fui para sala, e por la fiquei, até as 05:48 da manhã, que ouvi Catarina acordando.
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Tudo o que eu deveria ter dito
PoesiaAlgumas coisas não podem ser simplesmente ditas, algumas coisas são preferíveis serem guardadas la no fundo do coração, e para que a dor seja amena, nós desabafamos por meio de palavras, por códigos, que só podem ser decifrados por nós mesmo. Ou ta...