Trânsito de natal

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Sinopse: Audrey Peterson teve suas expectativas arruinadas na véspera de natal, fazendo com que a garota perdesse completamente a esperança de uma noite feliz. Henry Whitley tem pavor de reuniões de família, principalmente agora, que ele sabe que será o assunto principal na mesa de jantar. Os dois vizinhos já tem opiniões formadas um sobre o outro, mas essas estão prestes a ser abaladas com um pequeno acidente de carro. Agora, devido às circunstâncias, os dois precisarão passar o feriado juntos. Todavia, a pergunta que não quer calar é: Até quando os dois vão conseguir fingir ser um casal apaixonado?

Audrey Peterson

Eu estou começando a detestar o natal. Não me chame de amargurada à primeira vista, juro que tenho meus motivos. O natal parece ótimo nos filmes, é claro, a maioria deles se passa em lugares onde a temperatura está abaixo de 0. Também se passam em casas com lareiras acesas, com famílias amorosas e ansiosas pela chegada do papai noel. E eu te juro que estaria amando o natal, caso o meu fosse assim.

Os 40 típicos graus do Rio de Janeiro estão a todo vapor, as ruas lotadas, pessoas andando com caixas de presente pra lá e pra cá. É tarde do dia 24 de dezembro, não poderia ser diferente. Até para mim.

Novamente, meu pai me deu um bolo. Ethan Peterson, esse que costumo chamar de pai, mora em Copacabana. Um bairro que está a mais ou menos 3 horas de onde eu moro atualmente. Vermênia é uma cidade pequena no interior do Rio, com mais ou menos 5 mil habitantes e a decoração de natal mais bonita existente. O apartamento onde moro, foi deixado pela minha mãe, antes de morrer quando eu tinha 17 anos. É bonito, aconchegante, mas vazio demais.

O combinado era que eu passaria o natal na maravilhosa cobertura do meu pai, e da minha mais nova madrasta. Isso se ele não tivesse me desconvidado em cima da hora, com a desculpa de que alguns amigos de seu trabalho estariam presentes, que ele não queria me entediar. Como se eu ainda tivesse 13 anos, não 21. Ethan é o tipo de homem mais sem noção que você pode conhecer, daqueles que você para e pensa "Ele não faria isso". Quer um spoiler? Ele já até fez, antes que você pudesse ao menos pensar. Tudo isso enquanto já estou no carro, prestes a sair do meu condomínio, com as malas prontas.
Bloqueio a tela do meu celular, ignorando sua mensagem, a última que diz apenas "Quem sabe no ano que vem, Audrey."

Eu luto contra as lágrimas, porque, por favor, já fazem 21 anos que eu tenho esse cara como pai. Porque ainda insisto em criar um vínculo com alguém tão vazio? Mas meu corpo não parece entender isso, já que mesmo contra minha vontade, as lágrimas descem. Eu bato no volante, minha vontade é gritar tão alto até que as vozes da minha cabeça me chamando de idiota se tornem apenas sussurros.
Entretanto, sempre, tem como piorar. Eu tento dar ré com o carro, para estacionar novamente, mas escuto o barulho de algo amassando.
— Merda! – digo, torcendo para que tenha sido apenas um cone que não vi.
Eu abro a porta, saio do carro e a pessoa que vejo me faz querer entrar no meu apartamento e só sair de lá no ano que vem. Henry Whitley, meu vizinho de frente. Ele é negro. Com os cabelos pretos, os olhos castanhos, em um tom aproximado a cor do mel.
Como Taylor Swift definiria, ele é um "pesadelo vestido de sonho". Tantas pessoas no mundo com carros que eu poderia ter arruinado, o Universo colocou justo ele atrás de mim.

Henry Whitley

É oficial, não tem como esse dia piorar. Na verdade, eu venho repetindo isso há meses e é óbvio que é sempre mentira.
As luzes coloridas estão enfeitando todo lugar, as árvores cheias de enfeites e o cheiro de biscoitos saindo do forno é intenso.
É 24 de dezembro, eu sempre amei o natal, até eu começar a ter horror a reuniões de família. Eu devo estar na casa da minha avó às oito, como tradição, eu e minha família vamos passar a virada de noite juntos. Mas no momento, é impossível ficar tranquilo perante a ideia de jantar com eles. Principalmente quando fazem apenas dois meses que o único assunto da família Whitley tem sido o meu término, a traição que eu sofri.
Talvez, para começar a explicar o porquê da minha relação com Katherine ser tão importante pra minha família, eu possa começar falando da minha irmã gêmea. Coralina. A pessoa que mais amo acima de todas as outras. Porém, ela sempre foi um sucesso desde que saiu do útero, sete minutos antes de mim.

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