Recomeços em uma noite de natal

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Sinopse: "Culpava-me por a ter deixado partir e ser o principal motivo da sua despedida."
Depois de um acidente, Nate não encontra esperanças no Natal. Está perdido dentro do seu próprio mundo solitário, sem nenhuma luz ao longo do imenso corredor que o separa da realidade, e não deveria estar tão acostumado com a escuridão, mas é algo muito familiar para ele.
Entre tantos devaneios e decaídas, não esperava encontrar a sua luz de maneira totalmente inesperada no próprio dia vinte e cinco, muito menos que ela tivesse os olhos castanhos mais bonitos que já vira e usa-se uns óculos com a armação vermelha.
Não se importava que ela visse as suas feridas. Tinha encontrado o seu mundo e pretendia ficar ao seu lado para sempre, pois, assim como a Terra e a Lua, eles também estavam destinados a ficarem juntos. Para sempre.

Epígrafe

Please call my name one more time

I'm standing still under the frozen light, but

I will walk towards you, step by step

Still with you

-Jeon Jung-kook

I

Nate

2 anos antes

Naquele branco e estreito corredor nenhum pensamento conseguia ligar os pontos soltos deixados dentro de mim. O angustiante hospital me impedia de pensar em algo que não fosse ela. Sentia apenas o vazio que Diana deixou.

A culpa é toda minha.

Uma música baixa preenchia o carro junto das nossas gargalhadas. Me lembrava vivamente de olhar para Diana e sorrir depois dela ter contado uma piada. Instantes depois a única coisa que consegui ver antes de perder a consciência foram os ofuscantes faróis do camião que cegaram os meus olhos. Mas era tarde demais. Não fazia sentido remoer aquelas memórias. Não depois de saber que não deveria ter bebido tanto, talvez se estivesse completamente sóbrio conseguiria ter evitado, desviado o carro. Eu sabia que não precisava daquele copo a mais. Mas como eu iria saber que...Não...

Eu me odiava. Me odiava por estar ali, com minúsculos ferimentos quando a pessoa que eu mais amava tinha partido. Eu faria de tudo para poder voltar atrás no tempo e impedir o acidente. Eu faria de tudo para ser eu no lugar dela naquele assento.

Sentia as quentes lágrimas descendo pela minha face. Não fazia questão de as limpar. Esperava que desaparecessem com todo o sofrimento que sentia.

Nós estávamos voltando para casa dos pais dela, para a ceia de Natal, depois do almoço demorado com os nossos amigos. Como iria olhar para eles agora?

As minhas mãos tremiam. Não só as minhas mãos. Todo o meu corpo. O suor frio escorria pela minha testa. A minha visão começava a ficar turva enquanto uma sensação de ânsia subia pela minha garganta.

Os meus olhos se fecharam lentamente e me deixei ficar naquela desconfortável cadeira com aquelas inesquecíveis e atordoantes lembranças.

***

Momentos atuais

Os pequenos flocos de neve caíam lentamente na grande cidade. Eu caminhava sem rumo aparente pela rua pouco iluminada, mas cheia de pessoas alegres e descontraídas que desciam a avenida até à grande praça principal. Continuei com a multidão, alguma coisa não me deixava parar. Era Natal. Final de ano. As ruas com enfeites natalinos deixavam o ambiente familiar e aconchegante. Mas não as lembranças.

Essas me impediam de pensar na festividade de forma afetiva. Honestamente, não esperava por esse dia como a maioria das pessoas o ansiava. Afinal, qualquer pessoa que conhecia a morte receava o Natal. Eu fazia questão de o esquecer, deixá-lo para trás. Da mesma forma que saí daquele hospital sem ela e me obriguei a esquecê-la .

Antologia de Natal (escrita pelos seguidores)Onde histórias criam vida. Descubra agora