O presente (im)perfeito

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Sinopse: Matheus é a criança mais jovem da casa. Juntamente com suas duas irmãs mais velhas esua prima que veio de longe, ele está disposto a aproveitar o natal ao máximo, sejafazendo guerras de mangueira no quintal da avó, atuando em peças ou reencontrandoparentes queridos. Porém, quando uma torta de climão é servida no momento de abrir ospresentes, Matheus se vê em um dilema: ele precisa decidir entre manter seu própriopresente ou seguir o espírito de natal.


Matheus se recostou na cadeira de plástico colorida e levou o picolé caseiro feito de suco de limão à boca. Ao seu redor, o quintal de sua avó se encontrava no mais completo caos. Isso porque, na falta de uma piscina, ele, suas duas irmãs mais velhas e sua prima haviam acabado de travar uma intensa batalha, lutando pelo monopólio da mangueira enquanto jogavam baldes de água uns nos outros.

— Eu não aguento mais esse calor! — Disse sua prima, deitada no chão do quintal.

Matheus deu uma mordida em seu picolé. Ele sentia mais gosto de gelo do que efetivamente de suco, mas devido ao calor intenso, era melhor do que nada.

— Oh, tenha piedade! — Mariana, sua irmã do meio, se jogou em outra cadeira colorida, levando uma mão ao coração e estendendo a outra mão que segurava um picolé para o céu — Não posso morrer de calor antes de abrir meus presentes de Natal!

Água escorria do local em que sua irmã estava sentada até formar uma poça no chão. Matheus se abaixou, olhando da própria cadeira, confirmando que uma pequena quantidade de água também se acumulava ali. Por isso, não viu quando sua mãe apareceu no topo da escada do quintal, colocando a cabeça para fora.

— Qual de vocês vai ser o primeiro a tomar banho? — Ela perguntou.

Mariana e Tati, a prima, se levantaram imediatamente.

— O Matheus! — elas gritaram, prontamente.

— O quê? — Gritou Matheus de volta, se levantando também. — Isso não é justo! Por que eu? — Ele choramingou.

— Porque você é o mais novo! — Devolveu Mariana.

— E a gente falou primeiro. — Completou Tati.

— Não! Mamãe, eu não quero! — Lágrimas começaram a se acumular nos olhos de Matheus à medida em que ele se preparava para fazer uma birra.

— Mariana, dê o exemplo ao seu irmão. — Disse a mãe.

— O quê? — soltou Mariana, revoltada. — De novo eu? Por que ele nunca vai primeiro?

A mãe não poderia simplesmente jogar a responsabilidade para sua sobrinha, que havia vindo de longe para visitá-los no Natal, então se virou para sua filha mais velha:

— Bruna, entre para tomar banho — Todos se viraram e a observaram em silêncio. Deitada no chão, descansando em cima de uma toalha macia, ela apenas levantou o braço e mostrou o dedão em um sinal de positivo.

Depois de muita gritaria e brigas, Mariana acabou sendo obrigada a entrar no banho após sua irmã mais velha, seguida pelo choroso Matheus e então por Tati, que, afinal, era a visita.

No fim das contas, eles quase se atrasaram para o grande evento beneficente de Natal que faziam todo ano no Abrigo São José.

— Todos já decoraram suas falas, não é? — Perguntou Mariana, vestindo um chapéu verde em formato de cone com um pompom vermelho na ponta.

Mariana havia tomado a frente e escrito um grande roteiro para que eles apresentassem uma peça de Natal para os residentes do abrigo naquele ano. Não demorou muito para que ela percebesse que seu roteiro estava complexo demais para o seu pequeno e jovem elenco de atores e se viu obrigada a cortar vinte páginas da sua obra de vinte e quatro.

Antologia de Natal (escrita pelos seguidores)Onde histórias criam vida. Descubra agora