Capítulo 7

2 1 0
                                    


Hoje já é quinta feira, estou o dia todo dando voltas no escritório resolvendo documentações. 

Ethan finalmente decidiu romper qualquer ligação com o Deputado, o que eu achei ótimo. Ele não está nada satisfeito com o rompimento, por mim um pedaço de concreto daquele ginásio poderia desabar na cabeça dele. Acho que só assim pra ele entender o que a gravidade faz. 

O que tem de rico, tem de falta de noção. 

Ah, seboso. 

- Aqui está. Só precisa da sua assinatura. - Entrego um oficio ao meu chefe. 

Ethan não demora em ler e assinar. 

- Preciso ir até o local da obra, aquele homem está segurando a equipe lá. - Ele da a volta na sua mesa e pega o terno que estava jogado no sofá. Me olha. - Arrume suas coisas, você vai comigo. 

- Eu vou? - Pergunto surpresa.

- Vai. Nicholas ainda está viajando. A partir de hoje você me acompanha dentro e fora da empresa. - Sai da sala. 

Pego minhas coisas e me apresso para conseguir acompanha-lo. 

Chegando ao hall do prédio desacelero meus passos. Ethan vai na frente, os funcionários e clientes no local acompanham sua saída com os olhos. 

O sol está rachando hoje e para piorar estou de calça comprida e blusa com manga até o cotovelo. Burra, eu pensei que ficaria no friozinho do ar condicionado. Enquanto esperamos um funcionário trazer o carro dele eu apoio minha bolsa no ombro e tiro um elástico do pulso, tento amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo. 

- Vai deixar crescer? 

Alguém diz, olho para os lados e não tem ninguém além de nós dois. Ethan está com os olhos focados em algum ponto da rua.

Foi ele? 

- Falou alguma coisa? - Questiono confusa. 

Ele permanece olhando para a frente, mas responde.

- Vai deixar crescer? - Repete. 

Me acostumei com o cabelo curto, mas confesso que estou gostando dele grande. Me deixou com um ar mais jovem e eu amo fazer trança lateral. Me pergunto quando foi que ele reparou que está crescendo, nem eu tinha notado até poucos dias atrás.

- Acho que sim. - Dou de ombros. 

Espero uma resposta, mas ele continua quieto. 

O carro para na nossa frente, Ethan assume o volante e eu me acomodo no banco do passageiro. Chegando lá vamos direto ao centro da confusão. Alguns trabalhadores tentam sair com suas maquinas, mas o deputado permanece parado na frente de uma escavadeira. 

Passa por cima. Vai, é só passar.

- Você pode parar de palhaçada e sair da frente da minha equipe? - Meu chefe diz firme ao se aproximar deles. Eu o sigo carregando uma pasta com o documento que o deputado precisa assinar. 

- Ah, aqui está o causador de toda essa confusão. Tem noção do que está fazendo? A obra nem foi concluída. Escute aqui seu engenheiro de merda - Aponta o dedo para meu chefe - Você não pode fazer isso, assinamos um contrato e... 

- Eu tô pouco me lixando pra um pedaço de papel. Sarah, entregue o documento para esse homem assinar. - Ethan está se controlando. 

- Que documento? O que isso quer dizer? Não... Se eu fosse você não faria isso... - Ele está nervoso. Deve estar pensando no dinheiro que não vai mais receber da obra para desviar.

- Sarah. - Meu chefe me chama de novo. 

Tiro o papel da pasta e estendo em direção ao deputado. O papel é puxado a força da minha mão. Ele lê, o rosto rechonchudo começa a ficar vermelho... Roxo. Parece uma batata doce.

Ih, vai explodir. 

Meu riso interno morre quando ele aponta para mim com raiva e balança o papel. 

- Não vou assinar nada, eu não pedi pra você entrar em contato com o verdadeiro dono daquela porcaria? É um inútil mes... 

- Se você apontar mais uma vez para minha secretária pode ter certeza que eu quebro seu dedo. - Ethan explode e vai até ele em passos lentos. - Assina logo de uma vez e vamos terminar logo com isso. Caso contrário tem algo que seu superior gostaria muito de saber. - Ameaça. 

- Merda. - O senhor cabeça de batata doce puxa um de seus homens pela gola da camisa e usa suas costas como apoio para assinar. 

Estendo a mão para recolher o papel, mas Ethan o pega primeiro, lê e me entrega. Meu chefe dá uma ultima olhada nele e vai em direção ao carro. 

Ué, já vai? Acabou? 

Voltamos em silêncio.  O trânsito estava lento, a quantidade de carros na avenida não nos permitia ver o que tinha acontecido. Descanso a cabeça no banco com os olhos fechados. No rádio toca uma música que nunca ouvi, mas o toque era calmo e acolhedor. Fiquei assim por alguns minutos e só despertei porque Ethan falou. 

- Você está bem? Tá dormindo? - Pergunta. 

Não me mexo um milímetro.

- Estou bem. Só estou com dor de cabeça. - Respondo baixinho. 

Silêncio. 

- Tem um remédio no porta luvas. Pode pegar. - Oferece. Penso em aceitar, mas não adiantaria de nada. 

- Não almocei, por isso a dor de cabeça. - Me arrumo no banco, olho para ele que me observa de esguelha. 

- Deveria ter me avisado. O horário de almoço já passou a muito tempo. 

Respiro fundo. 

- Ainda não aprendi a fazer duas coisas ao mesmo tempo. - Cruzo os braços. 

- O que? - Me olha diretamente dessa vez. 

- A documentação. Não tive tempo de almoçar. - Me explico maneirando o tom de voz. 

Ethan batuca os dedos no volante e avança alguns metros com o carro. O trânsito está começando a fluir. 

- Quando chegar na empresa você tem trinta minutos para comer alguma coisa. 

- Não precisa - Nego - Meu expediente acaba em uma hora. 

- Não ligo. Trinta minutos. - Abro a boca para falar, mas desisto. Não iria aguentar esperar até chegar em casa. 


Caminho do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora