Hoje já é quinta feira, estou o dia todo dando voltas no escritório resolvendo documentações.
Ethan finalmente decidiu romper qualquer ligação com o Deputado, o que eu achei ótimo. Ele não está nada satisfeito com o rompimento, por mim um pedaço de concreto daquele ginásio poderia desabar na cabeça dele. Acho que só assim pra ele entender o que a gravidade faz.
O que tem de rico, tem de falta de noção.
Ah, seboso.
- Aqui está. Só precisa da sua assinatura. - Entrego um oficio ao meu chefe.
Ethan não demora em ler e assinar.
- Preciso ir até o local da obra, aquele homem está segurando a equipe lá. - Ele da a volta na sua mesa e pega o terno que estava jogado no sofá. Me olha. - Arrume suas coisas, você vai comigo.
- Eu vou? - Pergunto surpresa.
- Vai. Nicholas ainda está viajando. A partir de hoje você me acompanha dentro e fora da empresa. - Sai da sala.
Pego minhas coisas e me apresso para conseguir acompanha-lo.
Chegando ao hall do prédio desacelero meus passos. Ethan vai na frente, os funcionários e clientes no local acompanham sua saída com os olhos.
O sol está rachando hoje e para piorar estou de calça comprida e blusa com manga até o cotovelo. Burra, eu pensei que ficaria no friozinho do ar condicionado. Enquanto esperamos um funcionário trazer o carro dele eu apoio minha bolsa no ombro e tiro um elástico do pulso, tento amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo.
- Vai deixar crescer?
Alguém diz, olho para os lados e não tem ninguém além de nós dois. Ethan está com os olhos focados em algum ponto da rua.
Foi ele?
- Falou alguma coisa? - Questiono confusa.
Ele permanece olhando para a frente, mas responde.
- Vai deixar crescer? - Repete.
Me acostumei com o cabelo curto, mas confesso que estou gostando dele grande. Me deixou com um ar mais jovem e eu amo fazer trança lateral. Me pergunto quando foi que ele reparou que está crescendo, nem eu tinha notado até poucos dias atrás.
- Acho que sim. - Dou de ombros.
Espero uma resposta, mas ele continua quieto.
O carro para na nossa frente, Ethan assume o volante e eu me acomodo no banco do passageiro. Chegando lá vamos direto ao centro da confusão. Alguns trabalhadores tentam sair com suas maquinas, mas o deputado permanece parado na frente de uma escavadeira.
Passa por cima. Vai, é só passar.
- Você pode parar de palhaçada e sair da frente da minha equipe? - Meu chefe diz firme ao se aproximar deles. Eu o sigo carregando uma pasta com o documento que o deputado precisa assinar.
- Ah, aqui está o causador de toda essa confusão. Tem noção do que está fazendo? A obra nem foi concluída. Escute aqui seu engenheiro de merda - Aponta o dedo para meu chefe - Você não pode fazer isso, assinamos um contrato e...
- Eu tô pouco me lixando pra um pedaço de papel. Sarah, entregue o documento para esse homem assinar. - Ethan está se controlando.
- Que documento? O que isso quer dizer? Não... Se eu fosse você não faria isso... - Ele está nervoso. Deve estar pensando no dinheiro que não vai mais receber da obra para desviar.
- Sarah. - Meu chefe me chama de novo.
Tiro o papel da pasta e estendo em direção ao deputado. O papel é puxado a força da minha mão. Ele lê, o rosto rechonchudo começa a ficar vermelho... Roxo. Parece uma batata doce.
Ih, vai explodir.
Meu riso interno morre quando ele aponta para mim com raiva e balança o papel.
- Não vou assinar nada, eu não pedi pra você entrar em contato com o verdadeiro dono daquela porcaria? É um inútil mes...
- Se você apontar mais uma vez para minha secretária pode ter certeza que eu quebro seu dedo. - Ethan explode e vai até ele em passos lentos. - Assina logo de uma vez e vamos terminar logo com isso. Caso contrário tem algo que seu superior gostaria muito de saber. - Ameaça.
- Merda. - O senhor cabeça de batata doce puxa um de seus homens pela gola da camisa e usa suas costas como apoio para assinar.
Estendo a mão para recolher o papel, mas Ethan o pega primeiro, lê e me entrega. Meu chefe dá uma ultima olhada nele e vai em direção ao carro.
Ué, já vai? Acabou?
Voltamos em silêncio. O trânsito estava lento, a quantidade de carros na avenida não nos permitia ver o que tinha acontecido. Descanso a cabeça no banco com os olhos fechados. No rádio toca uma música que nunca ouvi, mas o toque era calmo e acolhedor. Fiquei assim por alguns minutos e só despertei porque Ethan falou.
- Você está bem? Tá dormindo? - Pergunta.
Não me mexo um milímetro.
- Estou bem. Só estou com dor de cabeça. - Respondo baixinho.
Silêncio.
- Tem um remédio no porta luvas. Pode pegar. - Oferece. Penso em aceitar, mas não adiantaria de nada.
- Não almocei, por isso a dor de cabeça. - Me arrumo no banco, olho para ele que me observa de esguelha.
- Deveria ter me avisado. O horário de almoço já passou a muito tempo.
Respiro fundo.
- Ainda não aprendi a fazer duas coisas ao mesmo tempo. - Cruzo os braços.
- O que? - Me olha diretamente dessa vez.
- A documentação. Não tive tempo de almoçar. - Me explico maneirando o tom de voz.
Ethan batuca os dedos no volante e avança alguns metros com o carro. O trânsito está começando a fluir.
- Quando chegar na empresa você tem trinta minutos para comer alguma coisa.
- Não precisa - Nego - Meu expediente acaba em uma hora.
- Não ligo. Trinta minutos. - Abro a boca para falar, mas desisto. Não iria aguentar esperar até chegar em casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caminho do coração
RomanceSarah quer reconstruir sua vida depois daquela noite, ela precisa se encontrar de novo. Não é fácil, mas o destino faz questão de dar um empurrãozinho. Ethan tem tudo sobre controle, sua vida, família e profissão. O que ele não sabe, é que ainda fal...