Capítulo 8

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- Tia Sarah. Por que demorou tanto? 

Abracei o meu pequeno, não tão pequeno assim, mais forte que eu pude. O  cabelo molhado e o cheirinho de shampoo denunciou o banho recém tomado. 

- Estava com tanta saudades de você TomTom. - Apertei mais um pouco. 

Thomaz, meu sobrinho mais encantador e metido a adulto. Toda vez que o vejo ele está maior. Em pouco tempo estará da minha altura, o que não é muito difícil de alcançar. 

- Tia, eu tô muito feliz e essas coisas boas por você estar aqui, mas cadê meu presente? - Se afasta um pouco olhando minhas mãos em busca de algum embrulho. 

- Ah, seu pequeno interesseiro. - Aperto seu nariz. Abro minha bolsa tirando uma caixinha retangular de dentro. - Aqui, cuidado. Se quebrar você só vai ter outro com dezoito anos. 

- Pai, a tia me deu um celular. Pai, olha só. - TomTom corre gritando pela casa. 

 Sorrio olhando meu sobrinho. Até ontem ele era um pacotinho no meu colo que só sabia dormir, hoje virou um mini adulto que deixa qualquer marmanjo no chinelo. 

Dou risada com esse pensamento e sigo para a cozinha. Encontro meu irmão avaliando o celular com o cenho franzido, sentindo minha presença ele ergue o olhar para mim. 

- Quando você teve tempo e juízo para comprar um celular pra ele? 

- Não fala assim seu rabugento. Deixa eu mimar meu sobrinho, ele vai cuidar bem, não é TomTom? 

- É, pai. Deixa de ser rabugento. O que aconteceu com o outro celular foi um acidente. - Meu menino corre com o celular.

Por favor, garoto. Não faz eu me arrepender de ter te dado. 

- Fala direito comigo, moleque. Jogar o celular na jarra de suco pra ver o que acontecia não foi acidente. - Meu irmão grita para o filho, que pela porta de vidro da cozinha podemos vê-lo no jardim tirando fotos aleatórias. 

- Me dá atenção. - Cutuco Ricardo. 

- Tá carente pirralha? - Me abraça. 

- Sinto sua falta. - Confesso ainda abraçada a ele. 

- Não deveria ter ido embora, sabe que Natalie não se importaria de você morar com a gente. 

- Ela é um amor. Mas não posso tirar a privacidade uma família. 

- Você também é nossa família. 

Opa, terreno perigoso.

Nos separamos do abraço.

- Não vamos entrar nesse assunto de novo. Agora me alimenta, estou com fome. - Dou o maior sorriso que consigo. 

Recebo um peteleco em troca. 

- Você é um buraco sem fundo, como pode comer tanto assim? Passou fome na outra vida? - Resmunga pegando alguma coisa na geladeira. 

- Cala a boca. Estou em fase de crescimento. - Vou até a mesa esperando ele me servir. 

Ele coloca um pedaço de torta de maracujá na minha frente. Minha boca saliva tanto que temo ter babado. 

- Claro, fase de crescimento. Tá crescendo pros lados. 

- Olha quem fala. Sua barriga de homem casado tá maior a cada dia. - Brinco. Isso é uma total mentira, nunca vi um homem tão em forma quando ele. 

Bem... Tem meu chefe também que não está nada atrás. 

- Minha mulher não reclama. - Dá um sorrisinho cínico. 

Como um pedaço da torta antes de responder. Divina. 

- O amor é cego. - Pego outro pedaço. - Falando na deficiente, onde ela está? 

- Acabei de voltar da aula de pilates. Quem é deficiente? - Ouço a voz da minha cunhada atrás de mim. Como mais um pedaço da torta e me levanto lhe abraçando. 

-  Você está linda! O que fez no cabelo? - Passo a mão sentindo a macieis. 

- Hidratação e mechas. Olha o seu como está enorme, por favor, não me diz que vai cortar de novo. - Natalie tira a mochila das costas colocando no pé da mesa. 

- Na verdade, não. Quero deixar crescer e ver até onde vai. - Passo a mão no meu rabo de cavalo. 

Incrível, todo mundo está reparando no meu cabelo. 

- Deixa mesmo, está lindo. Mas voltando ao assunto, quem é deficiente? - Pergunta com a cara confusa.

Dou risada antes de responder.

- Você. Precisa de um oftalmologista. - Ela reveza o olhar confuso entre meu irmão e eu. - Olha bem pra ele, cunhadinha. O que você viu nesse cara? 

- Ah, Sarah. O amor é cego, a visão ficou embaçada e eu acabei dizendo sim no altar. - Natalie brinca indo até meu irmão e lhe dando um selinho. 

- Eca, casal feliz. - Forço a garganta com a língua pra fora. 

- Pode parar as duas. Amor, sabe o que sua cunhada engraçadinha fez? Deu um celular para aquela criança adulta. 

- Nossa, como você é linguarudo. - O repreendo. 

- Alguém quer apostar quanto tempo o celular tem de vida? - Natalie se anima. 

- Vocês são péssimos pais. Deveriam dar um voto de confiança a ele. - Olho meu menino do jardim, ele se distrai com alguma coisa e derruba o celular na grama. 

Engulo em seco. 

- Há, quero apostar. - Ricardo levanta a mão se oferecendo. 


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