Piper já estava em sua terceira taça de champanhe, mas não se sentia nem um pouco borbulhante. Tecnicamente, ela ainda não poderia estar bebendo daquele líquido cor de ouro, contudo, em eventos como aquele, pouco se importavam se uma menor de idade carregasse uma taça junto a si. Ainda mais se aquela menor de idade fosse filha do dono da festa.
Annabeth tinha desaparecido com Percy em algum canto escondido daquele imenso hotel e, como de costume, a McLean se encontrava sozinha, entediada enquanto observava os movimentos das cordas dos violinos e dos casais apaixonados (e dos não tão apaixonados assim) pelo salão.
Quando era mais nova, sonhava com os dias em que poderia participar dos grandiosos bailes ao invés de ficar espiando do andar de cima (ou da cozinha, se estava com fome), porém, depois de cerca de seis meses ouvindo as mesmas melodias, comendo os mesmos aperitivos e encontrando as mesmas pessoas, Piper percebera que, nesse caso, o objeto em análise parecia maior de longe. Até tentou fugir de alguns eventos, mergulhando termômetros em quentes xícaras de chá, mas seu pai era esperto demais para deixar-se enganar. E ela ainda esperava que algum dia algo extraordinário aconteceria e transformaria uma daquelas noites em um evento diferente de todos os outros.
E também não poderia perder o momento em que a orquestra tocasse sua música favorita. Mesmo que a seleção de canções fosse quase idêntica em todas as festas, um sorriso sempre se formava em seus lábios quando escutava os primeiros acordes de Vienna. Naquela noite, isso aconteceu durante sua quinta taça de champanhe, e, mesmo que levemente atordoada, Piper fez questão de se aproximar dos músicos. O que pareceu esquecer foi que estava usando seus novíssimos saltos e seus pés ainda não estavam acostumados com aquele par em si.
O resultado foi uma bandeja no chão, o líquido dourado estampado em seu vestido e um estrondoso som que fez a orquestra parar de tocar. Todos os olhares se voltavam em sua direção, entretanto esses foram ofuscados pelo par de eletrizantes olhos azuis que se encontravam na sua frente, estendendo a mão para ajudá-la a levantar.
Piper demorou alguns segundos para se recuperar, mas aceitou o gesto do rapaz assim que recobrou todos seus sentidos.
— Você está bem? — ele perguntou próximo ao ouvido da garota. Apesar de não lembrar exatamente seu nome (sabia que era algo mitológico, todavia não se recordava ao certo), McLean reconhecia seu rosto dos corredores do hotel. Sua pele branca em contraste com o terno preto do uniforme e os cabelos dourados que caiam em seu rosto como a água na Fontana di Trevi não passavam despercebidos.
— Acho que o que mais me preocupa aqui é que a orquestra parou na melhor música... e que meu pai vai ficar furioso se me ver nesse estado.
O menino do qual o nome não lembrava fez um sinal para que os músicos tornassem a tocar, que prontamente o atenderam. As notas de Vienna voltaram a inundar o salão, tirando um sorriso do rosto alegre demais de Piper. Ela tentara se aproximar mais dos instrumentos, mas foi impedida pelo braço firme do garçom.
— Acho melhor te tirarmos daqui, senhorita McLean.
— Me chame de Piper, por favor — Ela expressou, antes de quase tropeçar novamente.
— Cuidado, senhorita McLean — Ele disse, ao passar o braço por trás da cintura da garota — Estamos quase chegando no elevador.
O caminho até o quarto de Piper fora árduo, mas não impossível. Não sabia quantas vezes havia tropeçado, mas em todas elas, o loiro estava ali para segura-lá. No momento só achava tudo engraçado e agradecia aos deuses pelas fugas que seu pai dava com Salmacis Tanaka em eventos como aquele. Tristan já implicava demais com a filha, e ela não precisava de mais broncas por uma confusão boba. Sabia que a história chegaria nos ouvidos dele, mas usaria da boa desculpa de "você sabe como essas pessoas são, elas adoram exagerar" seguida de algo que o distraísse.
O menino achou o cartão do quarto na bolsa da morena (que em algum momento fora parar nos braços dele) e com uma das mãos empurrou a porta, usando a outra para conduzir a McLean para dentro da ante sala. Colocou a garota no sofá e desapareceu no quarto, deixando uma Piper confusa para trás.
Ela tirou os sapatos, e, achando que o dono dos olhos azuis estava demorando demais, foi atrás dele. O encontrou em seu closet e por algum motivo riu, o que fez com que ele percebesse sua presença.— Se estiver procurando por um pijama, eles estão na quarta gaveta da direita.
O loiro assentiu, pegando uma das várias camisolas que ela tinha ali e logo se aproximando dela.
— Eu consigo me trocar sozinha, sabe —Piper queria acreditar nisso, entretanto, quase que como o universo estivesse rindo da sua cara, tropeçou no instante em que tentou chegar mais perto dele. Malditos sapatos que deixara espalhados pelo quarto quando estava decidindo que roupa usar.
— Eu não teria tanta certeza disso — Respondeu, estendendo a mão para levantá-la pela segunda vez naquela noite e em seguida se colocando atrás dela. Abriu o zíper em suas costas, mas tomando cuidado para que ele não caísse quando estava aberto por completo — Levante seus braços, por favor
Passou a camisola pela cabeça de Piper, soltando o vestido manchado de champanhe assim que o tecido de seda do pijama estava cobrindo todo o corpo da garota e depois o tirando do chão.
— Obrigada por cuidar de mim — Ela disse, já se direcionando a sua cama.
— Seria melhor você tomar um pouco d'água antes de se deitar, senhorita — Sugeriu, no mesmo instante que ia até o frigobar buscar uma garrafa e entregá-la. A dona dos olhos coloridos prontamente bebeu, enquanto ele dava espaço entre os lençóis nobres para que ela pudesse se aninhar em sua king bed.
— Você não precisava fazer tudo isso — afirmou, em forma de agradecimento, enquanto se deitava. Não demorou mais de dois segundos para perceber o quanto seu corpo estava cansado assim que se deixou relaxar.
— Não fiz mais do que minha obrigação, senhorita McLean
— Já disse, me chame de Piper — Sua voz saiu embargada de sono, o que não passou despercebido.
—Certo. Boa noite, Piper — Os olhos coloridos já estavam quase se fechando quando ouviram os passos do loiro ao se retirar do quarto.
— Fica aquiiii — Pediu ela, no clássico drama de quem está prestes a dormir.
— Já devem estar procurando por mim lá embaixo, senhorita McLean — Foi sua resposta, perto da porta que levava à ante sala
— Mas se souberem que você me deixou aqui sozinha alcoolizada vão brigar do mesmo jeito... — A morena disse, como uma criança travessa que acabara de descobrir como convencer seus pais a comprarem mais uma pizza.
O loiro então acaba voltando para o quarto e se sentando em uma das poltronas que Piper tinha ali. Satisfeita em saber que não era difícil fazer com que ele atendesse a seus pedidos, ela quase que pede para que o garoto a contasse uma história para dormir, contudo, estava mais ocupada em observar todos os detalhes do rosto dele, que a encarava de volta.
Ficaram minutos, que para McLean pareceram horas, daquela maneira, até que o sono já não conseguia ser evitado.
— Boa noite, dono dos eletrizantes olhos azuis — Sua fala saiu como um sussurro, mas tudo estava tão silencioso que o garoto ouviu.
— Jason
– Hã?
— Meu nome é Jason — Então seu nome realmente era o de um herói mitológico... Piper não estava ficando tão louca assim. Jasão... Criado por Quíron e, por causa de uma profecia, enviado para as mais malucas aventuras, as quais completava com vigor. Pensando nos acontecimentos daquela noite, achava que o nome combinava com ele.
— Boa noite Jason — Disse, por fim. E instantes depois seus olhos fechados encontravam os pares azuis em seus sonhos.

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Heartbreak Hotel - A Jasiper Fanfiction
FanficPelos corredores do Madrepérola Hotel, Piper e Jason descobrem o que é amar. Envoltos em seu conto de fadas, até esquecem que ao cortar a cabeça de uma Hidra, duas nascem no lugar. Será que o amor supera tudo?