Eu Sou Bom O Suficiente Para Você?

13. Sofrer Internamente

— E como é esse rapaz? — tenho que afastar o telefone do meu ouvido para não correr o risco de surdez.

Estou começando a me arrepender de ter contado pra minha mãe. Ela não é lá tão discreta.

— Mãe, ele é namorado da Liezel. Não temos nada a ver. — devo deixar tudo bastante claro, antes que minha mãe ache que estou presa numa paixonite — É só que... ele é um completo babaca, narcisista e gosta de me importunar. E se continuar assim, eu vou morar na Universidade.

— Espera, ele fez alguma coisa com você? — Há um mini pânico na voz da minha mãe, mas sou rápida em tranquilizar:

— Nem pensar! Petrus não fez nada disso, pelo contrário! Ele nos ajudou num pequeno problema que a gente teve. Só que isso não o torna menos babaca... a senhora me entende?

— Bom, se você não gosta da presença dele, o melhor é conversar com a Anneliese, filha. Nós já investimos muito para a sua estadia aí e tudo ficaria bem mais caro se você for morar na Universidade. Compreende?

Tive que concordar e logo em seguida me sentir uma filha ingrata. Foram anos de preparação, planejamento e muita burocracia para que eu pudesse fazer faculdade nos Estados Unidos. Eu não posso deixar que uma simples cisma me faça mudar de planos.

— Claro, mãe! A senhora está certa, me desculpe.

Conversamos por mais alguns minutos até nos despedirmos.

Minha cabeça lateja fortemente e eu nem tive coragem de me olhar no espelho ainda. Assim como ontem.

Espero que Anneliese me perdoe pelo meu comportamento de ontem. Eu só estava zangada e cansada de toda aquela aproximação entre ela e Petrus.

Na verdade, eu estou cansada só de pensar em Petrus.

Como uma luta comigo mesma, preciso impedir qualquer pensamento que me leve àqueles olhos verdes.

O problema é que esses pensamentos estão cada vez mais frequentes e é bem cansativo impedi-los.

Tentando me manter longe de brigas internas, passo o resto da manhã cozinhando e arrumando a casa, que está uma bagunça.

Como uma casa de duas pessoas pode ficar tão bagunçada em tão pouco tempo?

A maior responsável por essa bagunça acaba de sair de seu quarto. O cabelo castanho fica quase preto quando molhado e o rosto ostenta algumas sardas, sem toda aquela maquiagem escura.

— Bom dia — ela me cumprimenta depois de uma breve espreguiçada.

— Bom dia — a cumprimento de volta com um sorriso, e felizmente sou retribuída.

Anneliese tem a habilidade de perdoar rápido e fácil. Ela já deve ter piadas na ponta da língua sobre o meu comportamento de ontem.

— E então, tá afim de sair mais tarde? — ela pergunta antes de tomar um gole de chá.

Penso sobre a sua proposta por um instante, e lembro da última vez em que decidi sair com ela.

— Nem pensar! — antes que eu possa calar a minha boca, as duas palavras saem de forma grossa — Sei bem como é sair com você.

Falei em tom de piada a última frase e ainda ri um pouco. Com sorte, consegui disfarçar.

— É, e eu sei como é sair com você. A cada 10 palavras, 9 são negativas. — ela também diz em tom de piada. Mas não sei se é uma piada sarcástica ou inocente.

Por via das dúvidas, é melhor fazer o que a mamãe recomendou e resolver isso.

Posso me sentir envergonhada e constrangida, mas não há outra saída.

— Anneliese, eu preciso me desculpar por ontem. Tudo bem que nada pode justificar o meu comportamento, mas eu só estava de saco cheio do Petrus e toda essa coisa.

Anneliese me observa séria enquanto falo. Por garantia, é melhor continuar.

— Sei que agora vocês estão namorando e pode ser inevitável que eu o veja. Mas eu prefiro que você evite ao máximo que puder.

Ela começa a rir.

Gargalhar.

Tossir de tanto gargalhar.

— Lin, você está doida? Eu não estou namorando ele.

Minha boca se abre imediatamente.

— Como é? Eu achei que ele fosse diferente de todos que você já tinha saído.

Aqueles olhos azuis me observam com tanto divertimento que me deixam mais constrangida do que já estou.

— Bom, ele quis me conhecer melhor antes de me levar pra cama. E ele foi um cavalheiro. — ela pega um cookie e dá uma bela mordida antes de continuar — Foi só isso. Não quer dizer que eu quero namorar com ele.

Meu olho direito pisca automaticamente, o músculo tremendo mais que meu queixo.

— Nem me olha desse jeito — Liezel abre as mãos em forma de rendição.

Anneliese não namora Petrus e provavelmente nem o verá mais, segundo o que conheço dela e de todas as suas aventuras amorosas. Isso quer dizer que... eu não preciso mais vê-lo.

Isso é como um piano saindo das minhas costas. Quase suspiro alto de alívio ao perceber isso.

Anneliese não namora Petrus... isso é um alívio!

Eu estou aliviada porque não o verei mais ou porque ele não namora a minha prima?

As mesmas cenas que me assombraram durante a noite anterior voltam: Liezel e Petrus juntos. Que nojo! Que ódio! Que...

Agora dois pianos estão bem amarrados em minhas costas.

Decido sair da mesa de café da manhã e fazer qualquer outra coisa que me faça esquecer da existência daquele homem de 2 metros.

— O que foi? Ficou estranha do nada! — Anneliese percebe a minha mudança de humor e tenho que fazer de tudo para não ter aquele comportamento deplorável de ontem.

Antes de dar qualquer desculpa, minha querida prima faz o favor de piorar a situação:

— Desde que eu comecei a sair com Petrus você tá estranha, bem que ele disse.

Me viro imediatamente e olho para ela.

— O que ele falou de mim? — 6 simples palavras e 10 gaguejos.

— Que você passa uma energia estranha, inquieta. E que é impossível ficar tranquilo ao seu lado. Eu tive que concordar.

Meus punhos se fecham tão fortemente que eu posso sentir os meus dedos doerem e quase ter uma cãibra.

Quem esse idiota pensa que é?

Eu estou tão zangada e nervosa que sinto minha pressão cair e o suor frio descer pela minha testa. Aposto que estou pálida nesse momento.

— Bom, eu acho que ainda não me adaptei ao novo país. Eu só preciso de tempo — foi a melhor desculpa que encontrei e a minha deixa para me trancar no quarto.

Por quê? Por que eu me importo com o que Petrus acha? Por que eu estou chorando tanto por causa disso?

Eu não quero vê-lo, eu o odeio e só posso pensar em coisas ruins ao lembrar dele.

Quando isso vai acabar?