10. Impulsos

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— Ai, ai, ai! — é a quinta vez que Anneliese acerta meu olho com o lápis. 

— Ora, fique quieta! Se você continuar se mexendo assim, é capaz de ficar cega. 

Eu viro minha cabeça e vejo a minha imagem refletida no espelho. Uma garota pintada e com olhos vermelhos. 

— Não precisaria me mexer se você não quisesse pintar a carne do meu olho! Isso é necessário mesmo? 

Anneliese tirou o dia para um SPA caseiro. Com direito a banheira de água quente, óleos essenciais e velas aromáticas. Só que ela gastou todos os meus óleos que comprei para o mês inteirinho. 

Não gosto de usar perfumes ou colônias, então prefiro misturar óleos essenciais para o banho. 

Mas no fim do dia, ela resolveu me transformar numa cobaia para testar seus dotes em fazer maquiagem. Ela se inspira numa foto da Tina Turner para fazer igual em mim. 

— Puxa vida, nenhuma base cobre essas sardas idiotas! — ela reclama. Obrigada pela parte que me toca. 

— Se você conseguisse escondê-las, eu agradeceria muito. — não sou tão ligada à maquiagem ou coisa do tipo, mas adoraria esconder minhas sardas de vez em quando.  

— Estou tentando… — Anneliese está tão concentrada e com olhos apertados que parece estar fazendo um trabalho delicado de artesanato. 

Mas todo esse foco se vai assim que escutamos a musiquinha da campanhia. 

— Devem ser meus livros. — há alguns dias pedi para o papai mandar o restante dos meus livros que deixei na Inglaterra. Tomara que o correio não tenha amassado. 

Saio da poltrona e ando em direção à porta da sala de entrada. Pobre carteiro… levará um susto quando ver a minha maquiagem horrível que Anneliese fez. 

Ponho a mão na maçaneta e a viro. A visão após abrir a porta me desespera e acabo fechando-a imediatamente. 

Meus olhos estão tão arregalados que acho que vão sair da minha cabeça. 

O que diabos Petrus está fazendo aqui? Ah, meu Deus!, o que fiz? Ele deve estar confuso agora. Não é muito educado receber uma pessoa batendo a porta na cara dela. 

— Quem é? — Anneliese chega perto de mim, curiosa pelo meu estado. 

— Petrus. — digo sussurrando. 

— O Petrus? — ela grita bem alto, como se ele não estivesse ouvindo. 

— Fale baixo! — sussurro da forma mais agressiva possível e a empurro para longe da porta. 

Escutamos outro toque na porta. 

— Ah, não… esqueci completamente. 

Esqueceu de quê?

— Marcamos outro encontro. Lin, e agora? 

Outro encontro? Com esse já são três encontros! Esse povo adora sair. 

— E agora? Ora, é só você pôr uma roupa e sair. — quanto drama.

— Ah, só isso? — ela solta uma risada abafada e faz uma careta sarcástica — Deixe-o entrar e diga que estou terminando de me arrumar… e… distraia ele. 

Pobre Anneliese… está toda atrapalhada com as palavras e nem sabe para onde ir. Se eu pudesse… 

— Espere aí, eu tenho que distraí-lo? Anneliese, olhe só o meu estado!

— Que estado? — lá vai minha não tão discreta prima gritar. 

— Eu estou parecendo uma palhaça com esta maquiagem e nem dá tempo de limpar direito. 

Eu Sou Bom O Suficiente Para Você?Onde histórias criam vida. Descubra agora