Meninas e meninos

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Olá,

O episódio de hoje é uma releitura do capítulo 123 do mangá. Me comuniquem qualquer irregularidade (palavras repetidas, parágrafo bagunçado, etc).
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Aos que já responderam: boa leitura.

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Conforme o navio avançava mar adentro, Paradis tornava-se uma coisinha verde no horizonte. Até os peregrinos mais animados sentiram um aperto no peito quando seu lar desapareceu. A esse ponto, a vista era uma larga e densa paisagem homogênea e sem nivelamento. Nada se via além do azul da água e o branco da espuma das ondas. As gaivotas que acompanhavam o barco sumiram; não haveria terra próxima por boas horas.

A princípio, os viajantes inexperientes deleitaram-se. O balanço das ondas e o cheiro de sal eram uma novidade e tanto, sobretudo para Armin. O soldado assistia ao oceano com ansiedade e curiosidade. O mar, entretanto, era indiferente à bisbilhotice do ser humano expectante, e nem uma graça fazia ou tesouro mostrava. O oceano deixava claro, "se vocês estão esperando ver uma baleia ou o fantasma de um pirata, tirem o cavalo da chuva". Desse modo, os outros sete logo cansaram do mar e de seu resguardo. Com minutos de diferença, os paradisianos entediados recolheram-se para o interior da embarcação. Levi, contudo, retirou-se por um motivo diferente.

— Jean, você viu a Hange?

Levi perguntou a Jean ao encontrá-lo na ala dos dormitórios. Hange havia evaporado. Levi a procurou em todos os cantos do navio, inclusive na cabine do capitão. Hange era a única pessoa no mundo capaz de se perder numa embarcação isolada.

— Eu a vi sim, capitão. — Respondeu Jean. — Ela estava procurando o banheiro.

A busca de Hange dizia muito mais do que Jean imaginava. Tendo a referência, Levi não teve dificuldade em achar a comandante. Ele a encontrou encostada ao lado da porta do banheiro único, com as mãos atrás da cintura. A comandante o cumprimentou com um sorriso abatido.

— Você está bem, Hange? — Perguntou Levi, preocupado. — Cadê a sua gravata?

Hange mostrou o que escondia: uma gravata amassada e suja. O capitão revirou os olhos. Horas atrás, quando Levi viu Hange amarrando a gravata no pescoço, Levi teve o mesmo pressentimento que você certamente teria caso visse o seu melhor amigo prestes a jogar um balde d'água numa panela de óleo em chamas – a certeza de que uma coisa terrível vai acontecer. E assim como você descobre estar certo sobre as iminentes queimaduras de segundo e terceiro grau, Levi comprovou sua premonição.

— Eu avisei que você ia emporcalhar essa merda, doente.

— Pelo menos serviu pra eu limpar a boca. Não tem papel no banheiro.

— Você vomitou muito?

— Vomitei tudo que comi antes de embarcar. — Hange acariciou a barriga. — A Ferinha está revoltada hoje.

Por causa dos enjoos intensos, Hange pegara uma mania insuportável de chamar o bebê de Fera/Ferinha. Quando o bebê resolvia maltratar Hange, ele a atacava com força total. Hange até culpou o pai - "essa criança vai ser rabugenta e brava igual a você". Na opinião de Levi, agourar fetos significava botar um bolo de carma no forno.

— Pare de insinuar que o nosso bebê é um bicho.

— Eu não quis dizer isso.

— Quis, sim.

— Você é chato, hein? Estou avisando, se você quiser mais filhos no futuro, é bom procurar outra mulher, porque eu não v- inferno.

Hange entrou no banheiro correndo. Levi a seguiu. Hange vomitou o restinho da refeição. O capitão perguntou se ela queria se deitar e Hange negou. Comandante e subordinado subiram para o convés, onde os soldados se postavam juntos. Os viajantes fitaram o pedaço de terra despontando no cenário azul.

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