Capítulo 3

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               Lembranças

Angel havia dado diversas voltas pelo corredor de sua casa durante horas, mas continuava voltando para o mesmo lugar. Ela sempre se encontrava em frente a porta que levava ao seu jardim, parecia como se ela estivesse presa em um "looping" eterno. Ao dar um passo em direção a cozinha a menina esperava que voltasse para o mesmo lugar, mas foi surpreendida quando pode caminhar tranquilamente.

Conforme Angel andava a escuridão vinha consumindo qualquer luz que ousasse entrar em seu caminho, a impossibilitando de ver nem sequer um palmo a sua frente. Repentinamente a garota ouviu um barulho de passos vindo detrás dela, contudo, ao se virar não havia nada ali a não ser o puro breu, arrepios percorriam pela pele de Angel com a situação assustadora que ela se encontrava.

Ao virar-se novamente para continuar o seu percurso a menina se assustou quando encontrou o homem que havia visto ontem parado na frente dela. As roupas dele estavam completamente rasgadas e cobertas de sangue, a barba parecia mais como um ninho de pássaros, o cabelo totalmente desgrenhado e em sua mão ele carregava um machado afiado que aparentava estar velho.

Apavorada com a aparência deplorável do homem a garota tentou escapar, mas ele a segurou com firmeza a impossibilitando de fazer qualquer movimento.

— Essas asas devem valer milhões — Com um movimento brusco e um sorriso assustador o homem arremessou o machado que segurava em direção a cabeça de Angel, mas antes que algo horrível pudesse acontecer tudo ficou preto.

Um grito alto cortou o silêncio que se acomodava na casa dos Mansi. Anne que se localizava na biblioteca se assustou com o som do grito de sua filha e imediatamente correu em direção ao quarto da garota, preocupada que algo tivesse acontecido com ela. A mãe aflita abriu a porta do quarto, desesperada, mas relaxou ao não ver nenhum machucado evidente em sua filha.

— Angel? O que aconteceu? — A mulher se aproximou lentamente da jovem e passou a mão pelos cabelos dela tentando a acalmar. A menina que antes estava sobressaltada foi se tranquilizando com o cafuné de sua mãe e a abraçou com força, abrindo suas asas e envolvendo a mulher com elas.

— Tive um pesadelo — Anne continuou acariciando os cabelos de sua filha, focando em confortá-la, até que se lembrou do café da manhã que havia preparado. A mulher tinha certeza que isso deixaria Angel melhor.

— Foi só um sonho ruim filha, eu e seu pai estaremos esperando você na cozinha para tomar café da manhã, tudo bem? — Assim que a jovem assentiu, Anne deu um beijo em sua testa e se levantou indo embora. A garota lavou seu rosto antes de sair do quarto, esperando que acordasse mais para a realidade depois desse terrível pesadelo.

No caminho para a cozinha Angel se lembrou que não poderia ficar na floresta como forma de castigo por desobedecer seu pai, seu rosto ia se tornando melancólico a cada passo pensando no seu local de conforto habitual. Ao chegar em seu destino a menina desanimada se sentou à mesa junto dos seus pais e começou a comer.

— Suas asas parecem bonitas hoje — As asas da garota se elevaram ao serem elogiadas e Angel agradeceu baixinho pelo elogio de seu pai. Com o tempo a conversa terminou e tudo que havia sobrado era um silêncio confortável, dessa forma eram todas as manhãs na casa dos Mansi.

Comendo vagarosamente a menina desviou seu olhar para todos os lugares da cozinha até que o mesmo caiu numa singela colher de metal que estava sobre a mesa. Observando seu próprio reflexo no talher a garota se lembrou de uma memória antiga guardada com carinho em sua mente.

As pequenas asas de uma criança batiam repetidas vezes tentando de tudo para levantar no mínimo um pouco da menina, mas sem sucesso. Angel se encontrava sentada no chão, decepcionada após inúmeras tentativas falhas de voar, lágrimas já podiam ser vistas em seu rosto. Uma batida na porta de seu quarto chamou a atenção da criança, que virou imediatamente escondendo os vestígios de choro.

— Filha? — Entrando no quarto de Angel, Hiago notou a pequena menina sentada no chão tentando secar o máximo que podia de suas lágrimas. Inquieto com o que poderia estar afligindo a garota o homem a pegou no colo e a colocou cuidadosamente sentada na cama ao seu lado.

— O que você estava fazendo Angel? — Dizia o homem para a criança, preocupado com a sua única filha.

— Eu queria voar, papai — Hiago sorriu e limpou as lágrimas do rosto da menina, em seguida a colocou de pé na cama e segurou a mão da garota a incentivando a fazer mais uma tentativa. Ela até chegou a ficar ligeiramente no ar, mas só por alguns minutos e não muito longe da cama, porém, aquilo havia sido o suficiente para fazer a pequena criança feliz.

— Eu consegui, papai! Você viu como voei? — A menina esbanjava alegria enquanto abraçava seu pai, satisfeita pela sua pequena conquista.

— Eu vi meu amor! Estou orgulhoso da minha passarinha — Após se soltar do abraço, o homem bagunçou o cabelo de sua filha carinhosamente e sorriu demonstrando o quanto amava aquele pequeno ser.

De volta para o presente, Angel se encontrava sorrindo lembrando da memória feliz com seu pai. Anne e Hiago olharam confusos para a garota pela sua repentina felicidade, mas voltaram a comer sabendo do quão estranha ela podia ser às vezes.

De repente a jovem se lembrou do papel que havia encontrado em um livro.

"O papel! Como esqueci dele? Preciso descobrir como ele veio parar na minha casa e o que significa".

Rapidamente a garota devorou seu café da manhã e saiu apressada após dar um beijo na bochecha de seus pais, em direção ao seu quarto.

— Tchau?

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Logo após Angel chegar em seu quarto, ela pegou seu notebook e deu início as pesquisas.

— Primeiro de tudo, quem colocou esse papel no livro? Meus pais não têm motivo para fazer isso, só pode ter sido alguém de fora — A menina batia com a unha no teclado tentando pensar.

— Os amigos do meu pai? Não, eles são só um bando de bêbados — Repentinamente a jovem abriu o navegador para pesquisar sobre magia, mas os únicos resultados eram claramente fraudes. Frustrada pela falta de explicações ela fechou o notebook com força.

No passado Angel passou diversos dias a fio buscando qualquer tipo de informação sobre suas asas, ela era a única a nascer assim? Será que havia uma espécie de iguais? De toda forma ela nunca achou resultados para as suas perguntas.

Como a garota não achou nada sobre a primeira pergunta, partiu para a segunda.

— Quem mente? — Pensando que poderia ter outro papel que talvez explicasse algo, a menina correu em direção a biblioteca.

Ela olhou perto do livro que encontrou o primeiro papel, mas não havia nada. Em baixo da mesa? Nada. Nas estantes? Nada. Em algum outro livro? Nadica de nada.

Estressada após tanto procurar Angel decidiu tirar um cochilo da tarde para clarear sua mente. No jardim um homem andava em direção a floresta, ele apenas queria verificar suas armadilhas. Para Hiago algo parecia estranho naquele lugar, as folhas e flores pareciam murchas e sem vida, o ar era difícil de respirar e o pequeno riacho estava poluído.

O homem não entendia o que estava acontecendo, ele passou por ali a poucas horas atrás e tudo estava radiante. Ao adentrar mais na floresta o clima se assemelhava a algo melancólico e vazio, como se faltasse algo.

— Estranho...

Ao Bater das AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora