Acordar pra quê?

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    — Ei... ei! Ei! Tudo bem?! — O bombeiro falava com uma voz como que para acordar aquela menina de um sono profundo.
    Ao fundo sirenes tocavam de uma forma ensurdecedora, atormentando a cabeça dela que já se encontrava desesperada dentro de sua mente.

    Sons de choros se escutavam ao longe, duas crianças ruivas, aparentemente gêmeas, eles não cessavam as vozes. Eram os irmãos da garota. Choravam como se o mundo estivesse acabando, eram tão pequenos.

    Fumaça... fogo... choro... Falaram sobre duas mortes... "Onde estariam meus pais?", se perguntou a jovem.

    Tudo ficara branco como a mais alva neve, o som e tudo ao redor sumiu. Um passo... ela quase caiu. Sentiu algo molhado, levou a mão ao rosto. Lágrimas. Não era capaz de controlar aquele sentimento súbito.
    A falta do som a deixava desnorteada, olhara para partes de si, parecia uma criança de oito anos, aquelas mãos macias, o corpo frágil, e a sensação de querer ter alguma proteção.

    Ela estava com seu antigo vestido roxo cheio de sóis e estrelas. Quantas lembranças destrancadas... Percebeu que suas pantufas da constelação de Órion não estavam em seus pés, como se aquilo fosse algo extremamente necessário para seu eu de agora, mas mesmo assim, aceitou que stava descalça e parou de se importar. Uma sensação de náusea, a cabeça girava... Ela não sabia se estava de cabeça para baixo ou para cima, talvez estivesse de lado, era tudo tão estranho.

    Sentiu um toque quente em seu ombro, olhou para a direção, não viu ninguém. Voltou a olhar para a frente como se seu instinto dissesse isso. Duas pessoas inclinavam as mãos em sua direção, eles emitiam um brilho sedutor que a atraia, claro que seria assim, pois eram seus pais... os pais quase já esquecidos... No lugar dos rostos, borrões pretos como de censura atrapalhavam a visão das faces já trancafiadas em sua mente.

    Começou a andar sem saber se estava fazendo certo, o som não ajudava. Não sabia, mas estava chorando sem parar, um peso estava sobre todo seu corpo, mas ela se forçou a levantar, foi quando percebeu quão grande era a força que tinha naquele momento, força suficiente ao ponto de fazê-la ficar em pé.

    Deu um passo e foi se aproximando daquela eterna imagem resplandecente a sua frente, para ela era tão lindo, como não seria? Deu o segundo passo e caiu. Bateu o joelho direito, sentiu uma dor como se os tivesse batido em pedras, queria chorar mais, mas não era possível, queria que sua voz fosse audível, mas não se escutava um gemido sequer. Levantou-se novamente, forçou seu corpo a obedecer sua mente e com toda a força que tinha, correu, sem se preocupar com cair, ela só queria saber de seus pais, apenas isso, deixou um sorriso escapar, mas que logo foi desfeito, não adiantava.... Ela achou que estava chegando perto, mas eles estavam ficando distantes demais para se alcançar. 

    — Papai!!! Mamãe!!! — Ela tentou gritar sem êxito. Nada saiu, absolutamente nada. 
    Os dois seres recolheram os braços e se viraram de forma com que seus rostos não fossem mais vistos. Algo foi caminhando no ar até os ouvidos da menina...

    — Adeus Emiih... — Um uníssono de duas pessoas sussurrando as palavras que mais a marcariam, sussurrando seu nome, Emiih...
    O clima pesado foil se adensando cada vez mais. O pijama já não passava de apenas um borrão preto e branco.

    A sensação de ter um chão sumiu, como se um alçapão tivesse sido escancarado, sentiu um frio na barriga, uma queda foi se iniciando. Tentou gritar, mas não tinha som algum tanto em si quanto no ambiente. Uma coisa foi se aproximando, talvez o chão? Não sei, era muito difícil de ver. Outro toque, mas dessa vez em suas costas.

    — Pare de olhar para baixo, minha flor. — Uma voz suave surgiu, parecia de alguém que conhecia, mas não era, infelizmente. Sentiu como se pudessem brotar asas daquele lugar onde fora tocada, mas não era possível. Se sentiu reconfortada por um momento, mas logo a sensação sumiu.
    Ela tentou responder, mas era inútil, fechou os olhos e tomou todas as forças que tinha para falar.

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