Cupido

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Estava sentada sob o luar.

Admirando a miragem das árvores refletida nas águas cristalinas do riacho.
E junto a elas uma lágrima minha derrama.

Com aquela imensidão líquida, faria alguma diferença uma simples gotinha?

Respirei fundo.

Olhei para as estrelas, e milhares refletia seu brilho.

Anularia a beleza da lua?

Se Eros aparecesse aqui e agora, mandaria se danar.

Que tipo de cupido não tem controle sobre a própria flecha?

Atirar-lá em mim e apenas em mim

Covarde.

Uma brisa forte e gélida transparece a todo lugar. Sinto minha pele arrepiar.
Um brilho alaranjado surge, coloco minhas mãos em súbita tentando me proteger seja lá do que for aquilo.

Derrepende a luz tão forte vai ficando mais fraca. E...

- Doce criança, por que choras?

Só pode ser palhaçada.

Seria um anjo? Não, não seria.

Reconheceria aquele arco de longe.

Cupido idiota.

Fico calada.

- Sei que está triste... Mas, assim tinha que ser.

- Tinha? Sorrio com escárnio.

- Você tinha o poder, poderia ter o encantado. Assim como fez comigo.

- Não, eu não poderia.

- Como não? Você é Eros, o cupido. Une pessoas.

- Não, uno corações.

Reviro os olhos, clichês. " É a mesma coisa " resmungo.

Com a cabeça baixa, sinto o olhar dele em mim.

- Vocês, humanos não entendem.

- Ah claro, é super fácil entender o porquê de um coração partido. Aliás, você ja o teve?

Ele continua a me encarar. Isso está me dando nos nervos.

- Ao contrário do que pensa, eu mirei a flecha. Mas não o acertou.

Ótimo, pra completar não sabe contornar uma flecha. Que belo cupido. Penso.

- A várias razões para que a flecha não tenha o acertado. Tem interesse em saber?

continuo calada. Apenas com os meus pensamentos.

- Bem, primeiro o coração dele poderia já está ocupado.

Sorrio amargamente.

- Conte uma novidade.

Debocho. Ele sorri verdadeiramente.

Ódio.

- Segundo, ele não se permitiria sentir.

- Então pra que serve seu trabalho mesmo?

Indago.

Ele ignora minha pergunta e continua.

- Terceiro, havia destroços nele.

Arqueio a sombracelha.

Ele suspira.

- Bom, acabou?

Pergunto impaciente.

- A flecha não o acertou. Pois ele não estava preparado para arriscar de novo. O coração dele estava ocupado, mas não por alguém, e sim por algo. A dor. A dor o acompanha. Ele não se permitiria sentir algo que o destruiu a pouco tempo. Há resquícios de pedaços mal curados. Feridos e que sangra a cada vez que ele olha para a ferida. Então, passa a ignorar. O sangue não se ver mais, porém o corte ainda está presente. Você se apaixonou por alguém que não estaria disposto a se apaixonar por você.

- Disposto? Então, agora podemos escolher? Por que estou aqui? Sofrendo por alguém que não quer ser meu? Por que não posso simplesmente escolher não sentir?

- Criança, você é intensa demais pra se permitir não sentir. Você sente tudo. Olhe bem ao seu redor. Ver essas árvores? Águas cristalinas? E repare nesse ar, perfumado não?

Não entendo onde o cupido quer chegar. Com esse papo todo. Está querendo me enrolar, é óbvio.

- Você e ele, são pessoas diferentes. Com pensamentos diferentes, sentimentos diferentes...

- Literalmente.

Interropo.

Eros, sorri e prossegue.

- Ver? Até você sabe disso. Quando ele foi machucado, se fechou para o mundo. Se fechou para o amor. Quando você foi machucada, está aqui agora questionando tudo. Ele ficou na dele, criou um abismo entre a própria alma e o coração. Para encontrar o caminho de volta, exigirá esforço. Você? Garota. Você criou isso.

Ele rodopeia pela ar, girando apontando todo o lugar.

- Não ver? Hum? Me diga? Você criou isso. As águas, as árvores, o cheiro de jasmim. Não é um lugar aleatório. Muito menos superficial. É você, doce criança. A sua casa, sua essência. Quem você é. Enquanto no eu interior do seu amado, há caos, medo, destruição...No seu, há um universo inteiro. Quem pudera eu, dá a chance à ele, de se libertar. Eu não junto pessoas, eu junto corações. Quando quer sentir. Quando precisa sentir. Quando está pronto para sentir. O dele, precisa se curar. O seu, só precisa sorrir. A minha flecha te acertou, pois você emana amor. A pobrezinha ficou sem norte quando passou pelas sombras que ele criou, mas se reencontrou na sua áurea.

Acordei.

Olhei ao meu redor e só vejo meu quarto.

Cadê tudo aquilo?

Cadê a margem?

Sorri, eu verdadeiramente sorri.

Eu sonhei, não, eu me visitei.

Reencontrei comigo.

Talvez, Eros esteja certo, o amor é dado para todos, mas não são todos que atraí o amor.

Sinto meu peito se inflar de esperanças.

Oh cupido idiota, se te julguei errado, saiba que ainda acho isso, mas você é o errado mais certo que já conheci.

Pela janela uma brisa sopra lentamente...

-Obrigada...

Sussurro...

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