conversa de irmãs

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"Você sabe por que temos os Girassóis (quadro)? Não é porque Vincent Van Gogh sofreu. É porque Vincent Van Gogh tinha um irmão que o amava. Apesar de toda a dor, ele tinha uma corda, uma conexão com o mundo. E esse é o foco da história de que precisamos."

— Hannah Gadsby in Nanette (2018).


NOSSO MUNDO

Regina terminou de subir as escadas e andou até a porta do seu apartamento, a sua cabeça ainda repassando todos os momentos que vivenciou com Emma hoje. Até os seus lábios ainda estavam sorrindo por terem sentido parte dos lábios de quem um dia já fora a sua esposa sobre eles, além de saber que tinha um encontro marcado com ela amanhã.

Era estranho sentir toda essa sensação nova pela pessoa que ela conhecia mais do que ela mesma. Emma estava um pouco diferente, mas ainda era ela. Regina conseguiu reconhecer aquela Mélios do início quando se afastou de Emma após beijar o canto dos seus lábios. Regina sempre gostou do fato que as íris da mulher sempre demonstravam o seu amor, olhos verdes que brilhavam sempre que a olhavam, até pareciam ficar meio moles, derretidos, como se ela fosse a melhor coisa que aqueles olhos claros já viram.

Foi esse olhar que se despediu dela agora há pouco na calçada.

Ela sorriu ao virar a chave e entrar no seu apartamento, lembrando-se de ter deixado Emma tímida por um momento. Talvez, seja em qualquer mundo, seja em qualquer vida, ela ainda tinha o poder de desarmar a loira por inteiro.

— Nossa, pelo tamanho do sorriso no seu rosto, penso que esse dia foi melhor do esperávamos.

Regina virou-se para a sua amiga sentada na cama dela, parecia que Ruby só estava esperando ela chegar em casa para saber de tudo. Como se ela não tivesse controle sobre as suas próprias reações, o seu sorriso apenas aumentou. — Foi um dia de histórias, gritarias e até choro. — Percebeu Ruby ficar um pouco preocupa, mas logo concluiu: — Mas também foi um dia bom, de mais conhecimentos, e nós temos um encontro amanhã.

Isso fez ela receber um par de olhos claros arregalados em sua direção. — Ela te chamou para um encontro?

Alisando a sua mão pelo seu colchão, antes de sentar-se nele, Regina abriu mais um sorriso malandro. — Bom, na verdade, eu que chamei, mas ela concordou e vai escolher o lugar. — Fez questão de segurar o olhar de Ruby enquanto chegava para trás na cama para se encostar na parede. — Dei um beijo no canto da boca de Emma, antes de subir.

Ruby imitou o seu sorriso, ficando feliz pela amiga, mas também considerando engraçado o nível de maturidade daquele recomeço delas.— Que bonitinhas. Sabia que quando eu tinha quinze anos eu flertava assim também?

Apesar das suas bochechas corarem, Regina riu e negou com a cabeça. — Pode falar o que quiser, nada vai matar o meu bom humor.

— Eu sei, eu sei. — Lymnis levantou as suas duas mãos em uma falsa defesa. — É bom ver você assim de novo depois de meses. — Concedeu um sorriso mais sincero agora. — E, é um bom sinal, significa que Mélios vai voltar conosco para Nepenthe no momento certo.

Isso pareceu ter matado um pouco da felicidade de Regina. — Quase me esqueci disso. Estar com Emma me distrai de como as coisas realmente estão. — Passeou seus dedos pelo seu cabelo, procurando um jeito de explicar toda aquela confusão. — É como se fosse um início que nunca tivemos antes, aquela emoção de ansiedade e esperança de quando você está gostando de alguém e vão conhecer mais um do outro no próximo encontro. — Voltou a sorrir só pela sensação boa que voltou ao seu peito ao se lembrar de Emma. — Em Nepenthe, eu já conhecia Mélios muito antes do nosso primeiro beijo. E, no início, tentamos restringir muito do nosso relacionamento.

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