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"Se houver vida depois da vida na Terra, você viria comigo?  Mesmo assim? Já que estamos fadados a ser algo, por que não juntos?"

- Mary Oliver, West Wind.

NOSSO MUNDO

— O que te salvou foi as marcas de vocês terem permanecido.

— Eles chamam de tatuagem aqui — Regina respondeu automaticamente enquanto andava de um lado para o outro no pequeno cubículo.

— Bom, eu sei muito pouco desse mundo, Regina. Eu não tive os dois meses de ensino sobre essa realidade que nem você.

Era a mesma coisa que conversar com uma parede naquele momento, Regina parecia não escutar nada do que ela dizia, o seu olhar estava perdido e a sua mente estava longe. A morena só conseguia encarar a pequena e única janela daquele cômodo. A imagem, as falas e o abraço da sua amada ainda sem sair da sua mente.

— Eu sabia que o juramento que fizemos naquela noite, a noite antes de tudo, fora algo forte. A sua mágica permaneceu até nesse mundo – a morena sorriu tristemente, olhando para o céu através da janela do apartamento. Nenhum céu chegaria aos pés da imensidão estrelada de Nepenthe naquela noite, mas esse era capaz de deixá-la emocionada do mesmo jeito. Ela se virou para a sua amiga e inclinou a sua cabeça. — Ela estava tão linda, Ruby.

A ninfa imitou o sorriso melancólico de Regina. Em qualquer mundo, ela era a que mais entendia o sentimento da mais velha. Ruby caminhou até ela e alisou os seus braços carinhosamente, tentando não piorar a situação da sua mentora.

— Esse mundo não é sem magia como falam, eu e vocês somos a prova disso. Há coisas que existem por energias maiores. Mas eu preciso que você tome cuidado, Regina. Por enquanto, somos só eu e você, e os meus poderes estão ficando cada vez mais fracos e limitados aqui.

— Eu sei — ela suspirou e entrelaçou as suas mãos com as da ninfa. — Mas eu não sabia o que dizer. Na verdade, o que uma pessoa diz nessas horas? Oi, somos de um mundo mágico onde nos apaixonamos, casamos e vivemos várias dificuldades graças à sua família e à sua deusa Ayrélia, passando por muitas aventuras até a noite em que você morreu? — A sua narração começava a ficar mais desesperada, ao passo que não parava um pouco para respirar. — Ah! E por acaso, nessa noite, eu não só te perdi como perdi a nossa filha também.

Essa última fala desequilibrou Regina e ela voltou a chorar forte. Foi preciso Ruby segurar o corpo da sua amiga contra o seu. Ela esperou a sua mentora se acalmar, fazendo leves carinhos nas suas costas.

— Eu nem passei pela parte mais difícil ainda, Ruby — sussurrou baixo no ombro da sua pupila. — Como eu vou falar para ela sobre Agatha quando o momento chegar?

— Regina, você precisa focar. Você vai contar da garota, mas primeiro você precisa fazer Emma se lembrar de tudo que vocês já viveram. — Ela se soltou do abraço para olhar para a mais velha. — Só não deu tudo errado hoje graças a marca do amor de vocês ter permanecido. Você não pode jogar tudo de vez em cima dela.

— E o que eu faço? Você parece mais digna disso do que eu. — A mentora olhou para ela e depois ao seu redor. O apartamento delas poderia ser minúsculo, velho e um pouco escuro, mas, ainda assim, sentia-se orgulhosa pela conquista e pela ajuda de Ruby ao conseguí-lo. — Na verdade, você quem fez tudo até agora.

— E eu faria de novo, eu procuraria ela e te tiraria daquele lugar até que as minhas aptidões se esgotassem nesse mundo — a ninfa foi sincera, demonstrando mais uma vez que a sua característica mais forte era a sua lealdade. — Além disso, podemos agir tranquilamente agora que Ayrélia está morta.