tons de amarelo e rosa

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"Você não é um monstro", eu disse. Mas eu menti. O que eu realmente quis dizer é que um monstro não é uma coisa tão terrível de ser. Da raiz latina monstrum, um mensageiro divino da catástrofe, em seguida adaptado pelo francês antigo para significar um animal de inúmeras origens: centauro, grifo, sátiro. Ser um monstro é ser um sinal híbrido, um farol: abrigo e perigo ao mesmo tempo. "

 Ocean Vuong, On Earth We're Briefly Gorgeous.


MUNDO NEPENTHE

8 anos e 4 meses atrás

Os piores dias eram quando ela virava pela saída da gruta e não avistava logo cabelos loiros em algum ponto da ilha. Durante a primeira estação, Regina sentiu um certo medo ao vir para o esconderijo delas e não encontrar a princesa na ilha. Sabia que ela saia para correr, averiguar mais partes da floresta ou até para ir atrás de mais comida, nunca sabia se o que trazia era o suficiente para Mélios, visto que ela ainda costumava a caçar. Porém, o pavor que tomava conta dela naqueles primeiros meses era de não saber onde Emma estaria nesses momentos de sumiço, se ela havia adentrado alguma zona proibida ou se apenas resolveu voltar para Plemme.

Atualmente, ela se permitia ficar mais tranquila, ainda mais depois que fizera a loira prometer que não iria mais longe do que deveria e, se resolvesse voltar para o terceiro reino, iria avisá-la.

Regina detestava o fato que Mélios estava sempre pensando em voltar para Plemme, mas o que ela poderia esperar? A garota não podia ficar escondida na sua ilha para sempre e ela havia criado laços com as crianças injustiçadas pelo comércio sujo entre os outros reinos.

Suspirou fundo e resolveu esperar por Emma, sabendo que ainda era cedo e tinha tempo de ficar ali. Buscou pelo baú que ela mesma trouxera para guardar as coisas da loira e tirou de lá um lençol para sentar-se em cima na grama. Assim que estava sentada e virada para o lago, voltou a pensar na princesa.

Mélios havia conquistado habilidades incríveis de sobrevivência no primeiro ano que ficara em Plemme, porém, ainda continuava sendo uma pessoa altruísta e ousada, o que era uma péssima combinação, porque Emma nunca pensava nela mesma, mas estava sempre voltada para o perigo.

Apesar de deixá-la preocupada toda vez que sumia, Regina sabia que essas qualidades eram intrínsecas à Mélios, só o que ela podia fazer era esperar que Emma estivesse bem enquanto ela sentia falta da loira.

— Você fica muito bonita pensando assim.

Regina praticamente pulou para fora do lençol ao perceber que não estava sozinha na ilha como pensava, seu coração começou a disparar no seu peito ao perceber que a voz havia vindo de cima de uma árvore e não da gruta. Quase enxergando tudo amarelo por raiva, ela procurou pela responsável do seu susto.

Ao perceber que a mulher estava na ilha o tempo todo e estava descendo agora por uma árvore ao seu lado direito, a feiticeira fez questão de ignorá-la enquanto voltava a se acalmar e sentar-se de forma mais confortável.

— No que estava pensando? — Emma perguntou assim que deu um pulo final da árvore para a grama, carregando um sorriso brilhante no rosto.

Regina conseguiu controlar o seu estresse um pouco, mas ainda sentia seus músculos faciais duros e uma leve ardência no fundo dos seus olhos. — Em como eu ainda não te estrangulei viva.

— Desculpa pelo susto. — Emma percebeu a mudança na feição da feiticeira e hesitou um pouco antes de ir sentar ao lado dela na toalha. — Mas existia formas piores de eu te avisar que eu estava aqui esse tempo todo. Eu vi você chegando com o seu cavalo no topo da árvore, acima do muro de rochas, mas você chegou aqui tão concentrada que eu apenas fiquei te observando um pouco.

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