Prólogo

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   OS MADRIGAL estavam reunidos na sala de estar da Casita. Imersos em um momento de família, que foi abruptamente interrompido. Um vulto, beirando o invisível, passou em uma velocidade além do possível, tropeçando e batendo por tudo. Deixou para trás um rastro vermelho, sangue. Todos se olharam e assentiram mentalmente uns com os outros para se levantarem dos assentos e irem ver o que poderia ser aquilo. Julieta foi na frente, já com um de seus quitutes em mãos, para curar a ferida que jorrou aquele sangue pela Casita. O resto foi atrás dela, e deram de cara com algo...peculiar.

Apoiado em seus próprios joelhos, o que quer que fosse aquilo, tinha a forma de uma pessoa. Não só Dolores, como todos, podiam ouvir a respiração ofegante do ser. Não se podia muito ver dele, afinal, a pessoa as vezes estava invisível, outras não, ou só algumas partes se podiam ver. Ela piscava como uma lâmpada quebrada, entre acesa e apagada, visível e invisível. Entre algumas piscadas e outras pode-se perceber que se tratava de uma garota. Não era muito mais velha que Camilo e Mirabel. Todos se assustaram ao notar que seria alguém tão novo neste estado. Julieta foi se aproximando, com as mãos estendidas à frente de seu corpo. Ela ia devagar, tentando ver mais detalhadamente a garota entre as piscadas. Ela piscou, e deu para ver o seu rosto. Ele estava virado para baixo, mas então olhou para as pessoas que à observavam e os Madrigal então viram o desespero. Medo estava estampado no rosto dela. Um tão genuíno que ninguém ali jamais vira, exceto Alma. A matriarca da família, ao ver a expressão que a garota carregava, se sensibilizou. Era a exata mesma mistura de sentimentos que anos e anos atrás refletiam em seu rosto, enquanto ela via os invasores matarem seu marido. Alma ficou em choque, queria ajudar aquela pobre menina. Precisava ajudar ela. Mesmo sem saber sua história, e toda a explicação para sua velocidade anormal e as piscadas invisíveis, ela sabia que era sua obrigação ajuda-la. Alma já havia sentido o que ela sentia agora, e faria de tudo para acabar com o seu sofrimento. Não queria ver mais ninguém passando pelo o que ela passou.

A garota em um sobressalto tossiu sangue e voltou a correr. Porém, sua velocidade era reduzida pela ferida de sua perna. Ela mancava, mas continuava em uma rapidez impresionante. Os Madrigal iam atrás tentando acompanha-la, e ela corria em circulos pela Casita, sem saber para onde ir. Enquanto passava pela frente do sofá, Casita levantou um ladrilho, o que fez a garota se desiquilibrar devido a ferida, e cair no acolchado. Ela tentou arranjar forças para se levantar, mas elas já haviam se esgotado. Aos poucos, a família foi chegando até onde ela se encontrava. Ela já não pisacava mais, agora estava totalmente visível, e vulnerável. Seus olhos ardiam para descansar, mas ela se recusava, agora estava em ambiente hostil, desconhecido. Os Madrigal à cercaram, alguns com expressões de espanto, outros com medo, já Abuela apenas dor. Dor ao pensar no que aquela menina passou, antes de ir parar ali, em sua casa. Julieta lhe estendeu seu quitute, hesitante. Com um último suspiro de força ela bateu com sua mão no doce, que saiu voando. Não iria comer algo de estranhos. Não confiaria em pessoas que nunca viu. Ainda sentindo suas lágrimas escorrerem por todo seu rosto, o pedido de seus olhos enfim fora atendido. Eles se fecharam e tudo ficou preto.






HUELE A AMOR - Mirabel MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora