01

769 65 10
                                    

   AFRODITE ACORDOU se sentindo... bem?

Mas como?, ela pensou, ontem eu estava à beira da morte!

Olhou em volta. As paredes tinham tons de azul e verde, com padrões que lembravam docinhos e... aquilo era uma cozinha dentro do quarto? Cada vez ficava mais estranho para Dite. Continuou observando o quarto, era um lugar agradável, e enorme. O cheiro de amor habitava ali, não só os de doces. Notou que estava em uma cama de casal, com edredons das mesmas cores que as paredes. Se levantou rápido, para ir embora de onde quer que esteja.

Os últimos momentos daquela noite aterrorizante haviam sido um borrão, conseguia lembrar de correr por uma casa enorme e estranha, com seus moradores atrás dela.

Ao tentar sair da cama, Afrodite encontra alguns cobertores no chão, formando uma cama, em que a mulher que Dite tinha uma vaga lembrança de lhe oferecer algo ontem à noite, estava deitada, a menina acaba sem querer pisando na mão da moça, que acorda.

Elas ficam um tempo se encarando, imóveis. Julieta tentava desvendar o que se passava na mente da misteriosa adolescente que derrepente aparecera em sua casa, enquanto Afrodite considerava se valia à pena usar suas habilidades para despistar a moça. A questão era, estando fraca do jeito que estava, ela não tinha certeza de que conseguiria usá-las. Mas decidiu arriscar.

De la Fuente fechou os olhos por alguns segundos, e proferiu:

— Adormeça, señorita, volte aos sonhos abastados. Permaneça, señorita, em seus domínios encantados... — Dite cantarolou baixinho, ao abrir os olhos violeta que brilhavam.

Julieta, se forçou à olhar no fundo daqueles olhos, e tentou resistir, mas nada podia fazer, seu corpo só ansiava cair aos charmes da garota. Era impossível não fazer o que a cantoria pediu, e Julieta então voltou à roncar.

Os olhos violeta pararam de brilhar, e a dona deles suspirou, cansada. Ainda estava fraca do outro dia, usar os poderes lhe custou energias.

— Mas que porra?! — ouviu a voz baixinha de uma menina. Droga.

De La Fuente virou a cabeça para a direção de voz e pôde ver várias pessoas atrás da garota que falara. Seus olhos se arregalaram, e agora? Não poderia usar a lábia de novo.

— Quem são vocês? — Ela perguntou com a voz rouca. Estava nervosa, e quando isso acontecia a cor o comprimento e a textura de seu cabelo mudava freneticamente.

— Uou, cara, o que caralhos é isso? — Um menino de sua faixa etária perguntou. — Primeiro você cantou uma música de ninar para minha tia, e ela simplesmente adormeceu no mesmo segundo! E agora seu cabelo tá fazendo.... isso.

— É... é um tic nervoso, não interessa! Apenas digam quem são vocês, e aonde eu estou.

— Nós somos os Madrigal. — Uma senhora se pôs na frente de todos eles e se aproximou da menina. — E você está no vilarejo Encanto. Agora que respondemos suas perguntas, pode nos dizer quem é?

— Não, eu não deveria estar falando com estranhos... — Afrodite murmurava para si mesma — Tenho que fugir, ir para bem longe, plantar a semente do milagre e viver isolada. Sem estranhos. Sem invasores. E...

— Ei, ei, ei. Calma aí, garotinha. Está parecendo mi mamá — Uma moça com um coque alto bonito falou — Só nos diga seu nome. Prometemos não lhe fazer mal. Ah, e também seria legal falar de onde veio.

— Um vilarejo qualquer, bem longe. Não importa, já não existe nada lá. Tudo foi queimado. — por um instante todos ficaram quietos — Ah, e eu me chamo Afrodite. Não que interesse à vocês... argh, só me digam onde é a saída daqui. Preciso fugir, eles estão atrás de mim.

— Eles quem?

— Eles ninguém! Esqueçam tudo o que eu disse, esqueçam de mim. Por favor...

Ninguém sabia o que fazer. Não podiam simplesmente deixar alguém tão fantástico e diferente ir embora, sem saber sua história.

— Olha, Afrodite, nós realmente gostaríamos de te ajudar... mas precisamos de explicações antes. — Uma mulher ruiva falou.

Todos concordaram com a fala de Pepa,  e então a enxurrada de perguntas começou.

— Quais são suas habilidades?

— De onde elas vieram?

— Porque estava cheia de machucados?

— Sua família também recebeu um milagre?

— Se sim, porque você não tem só um dom?

— Pode, por favor, acordar mi mamá?

—  Cadê sua família?

Ela realmente não queria responder à tantas perguntas. Principalmente a última. Mas queria ir embora.

— Se eu responder as perguntas posso ir embora?

Ninguém soube o que responder. Depois de um silêncio, Alma disse:

— Se responder as perguntas, nós...hum... te ajudaremos.

Afrodite suspirou. Olhou para o quarto. As rotas de fuga eram poucas. E sua perna por mais que fantasticamente não tivesse nenhuma cicatriz, ainda doía, usar o dom de sua falecida irmã não adiantaria.

— Sim, consigo acordar sua mãe. — Dite estralou os dedos e Julieta acordou imediatamente. Ela estava perdida. — E posso ao menos comer algo antes de responder tudo sobre a minha vida?

Os Madrigal se entreolharam como se procurando a resposta entre si, mas sem falar nada. Em dado momento todos pareceram concordar, e Alma falou:

— Claro, botaremos a mesa para o café da manhã.




HUELE A AMOR - Mirabel MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora