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(Só um avisinho que esse capítulo talvez deixe algumas pessoas desconfortáveis. É a história da protagonista, e nela tem cenas que talvez sejam fortes, como mortes e incêndios)
 


  GANÂNCIA. AQUELES homens eram movidos apenas pela sua intensa e cega ganância.

Não se sabe onde e nem quando aquelas ideias surgiram na boca do povo, e foram passando de mente em mente.

Por que não tomamos o que é deles?

Aqueles egoístas não compartilham com seu povo!

Se eles não estiverem mais aqui, será nosso.

Pensamentos estúpidos com grandes potenciais. Potenciais destinos com discóridia instalada naquele pequeno vilarejo.

Foi corrompendo cada cabeça dos habitantes. Um por um foi tomado pela insanidade que é a sede por mais. A necessidade do poder em suas mãos.

Isso se tornara algo maior. A antipatia do povo da cidade contra os De La Fuente se declarou. Álcool. Fósforo. Chama! O caos se instalou.

De início ninguém de dentro da casa vira o começo de algo terrível. Estavam todos tranquilos com a ilusão do caráter do humano. Mas então alguém sentiu cheiro da fumaça. Outro viu uma faísca. Um sentiu o cheiro. Em pouco tempo todos viriam as chamas dominarem todo seu lar. A família se desesperou, corriam de um lado para o outro procurando a fonte daquele problema. Quando perceberam o fim iminente de sua Casita, já era tarde demais. Todas as saídas eram barradas por gananciosos sedentos por fortuna.

Matem-nos! Matem-nos! Matem-nos!

No meio daquilo tudo havia a garota, em seus 16 anos, sem ideia do que fazer. Sua família no meio do nervosisvo perante a situação à esqueceu. Ela estava trancada em seu quarto, não percebeu a morte batendo na porta de sua casa até o fogo ardente chegar no pé de sua cama. A primeira coisa em que pensou foi em salvar a flor do milagre da sua família. Correu no meio das chamas e da fumaça pela casa. Não conseguia ver nada, e naquele ponto já tinha certeza de que algum de seus parentes pegara a flor, ou ela queimara. Considerando que ainda tinha seu dom, a primeira opção era a certeira.

Com o pensamento da flor estar a salvo, Afrodite ganhou um novo objetivo, sair da casa viva. E encontrar sua família, claro. A garota estava ficando tonta por conta da fumaça que respirou. O fogo confundia sua visão. Via luzes ardentes piscando e se movendo, pontos pretos de formando no canto de sua visão, ouvia o latejar das chamas, os pedaços da casa caindo e desmoronando, gritos. Espera, gritos? Afrodite tampou os ouvidos, temendo descobrir quem seriam os que produziam o som agonizante. No fundo sabia que era sua família. Mas não queria ter a certeza.

Ouvir aquilo a despertou. Disparou em direção ao barulho, e se amaldiçoou por ter feito aquilo. Na sua frente o último corpo caía junto aos outros. Sem vida. Era sua mãe, Liriel, que segurava a flor. No chão jaziam as oito pessoas mais importantes para Afrodite. Cobertos de feridas e queimaduras, mortos. Ela por instantes nada fez. Não conseguia assimilar o que acontecia ali, tão de repente, na, antes tão segura, Casita.

Então ela caiu de joelhos ao lado de sua mãe. Não se deu o trabalho de olhar em volta, nos rostos daqueles que causaram aquilo. Seus olhos estavam focados somente nos oito corpos, que tiveram sua vida tirada tão cruelmente. Ouvia os passos chegando cada vez mais perto. O som de facas se chocando. Mas o medo ainda não tinha a atingido. A dor da perda gritava mais alto. E a raiva.

Com os olhos inundados por suas lágrimas, Afrodite levantou com a flor em seus braços. Ficou parada olhando os impiedosos. Depois fechou os olhos e berrou. Talvez na esperança de alguém bom ouvir. Ou para extravazar o que sentia naquele momento. O que importa é que apenas um milagre s tiraria dali. E aconteceu.

A flor começou a brilhar, e uma explosão de luz voou nos olhos de todos. Por um instante todos ficaram cegos. Aos poucos foram abrindo os olhos para verem o que acontecera. À sua frente viram a garota, que estranhamente parecia menos fraca. Depois notaram o desaparecimento dos oito corpos. E o da flor.

Afrodite não demorou para entender a situação. Podia sentir. Sentiu o poder dentro de si. Não o seu. O dos oito corpos mortos. Um segundo milagre viera para um De La Fuente, a flor passou os dons dos falecidos parentes para a garota. Porém, a flor do milagre se tornara uma semente, ao fazer isso. Afrodite não veria sua Casita por um tempo.

Mas ela não pensou nisso naquele momento.

Primeiro, sentiu o dom de sua mãe. Raios e trovões estavam aos seu comando. Ela começou a se divertir. Mirou raios no grupo que tentava matá-la, e atirou, vários e vários. Depois de uma dúzia de raios notou que não poderia fazer mais aquilo. Estava com queimaduras e fraca demais para usar tanto poder. Agora era hora de utilizar o dom de sua irmã, e fugir.

A super velocidade era emocionante de se usar, mesmo sendo atrapalhada por um machucado na perna. Afrodite saiu de perto de sua antiga casa rápido, mas os homens foram atrás. Com a ferida, estava correndo mais devagar, o que permitia que eles conseguissem acertar algumas flechas de raspão. E foi aí que seu tio entrou na jogada. O dom da invisibilidade. Nenhuma flecha mais poderiam acertar se não a vissem.

E ela continuou correndo. Por quilômetros. Mesmo depois de à tempos ter despistado seus perseguidores, continuou fugindo. Não se sabe exatamente do quê. Ela só fugia. E por fim chegou a uma casa, de onde não teve mais forças para fugir.

Quanto aos loucos por poder, eles se arrependeram. Depois de matar quase todos os De La Fuente, a família que os ajudava em tudo no vilarejo, apenas pelo desejo de obter o que eles tinham, no final só perderam. Agora não tinham mais uma família fantástica para auxiliá-los, e não ganharam posse de seus dons. Mas já era tarde demais. O sangue já havia sido derramado.

HUELE A AMOR - Mirabel MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora