Drink Me

water

Serkan e eu temos tido dias incríveis. Todos os meus momentos ao seu lado são regados de muitos sorrisos e afeto mútuo, eu me sinto feliz, realizada... como se nada pudesse estragar nosso mundo particular.

Mas da mesma maneira que toda nossa história começou rapidamente, as coisas também mudaram rapidamente. Em um momento estamos confessando estarmos apaixonados e no outro eu estou em um quarto totalmente paralisada com a ideia de estar grávida.

A ideia de ser mãe… será que eu seria uma boa mãe?

Durante muito tempo eu falei que não queria ter filhos, eu não sei se consigo ser essa pessoa que uma criança precisa ter ao seu lado… Eu tinha e ainda tenho medo de repetir os mesmos erros que minha mãe cometeu comigo, eu não quero que meu bebê cresça se sentindo indesejado, como se tivesse atrapalhado a vida dos seus pais, porque foi assim que eu me senti e eu jamais desejaria colocar uma pessoa que eu amo nessa mesma posição.

Eu e Serkan pensamos no futuro, mas não chegamos a falar propriamente sobre filhos e é assustador encarar isso de frente agora. Não sei se estamos "na mesma página" quanto a isso, mas eu sei que ele seria o melhor pai que uma criança poderia ter.

Sou eu que preciso arrumar minha própria confusão.

Principalmente quando a possibilidade de uma gravidez agora me preocupa por ter sido imprudente nas últimas semanas… Tenho consumido muita bebida alcoólica, sempre tomando meus anticoncepcionais certos e pensar que isso pode causar algum prejuízo ao meu filho é agoniante.

Qual a probabilidade de as pílulas falharem mesmo eu sempre estando em total controle? Qual a probabilidade de que isso tenha afetado meu bebê? Eu realmente estou grávida? São tantos questionamentos que eu não consigo nem olhar para o Serkan agora, eu sei que isso também é sobre ele, mas está no meu corpo e é minha responsabilidade, se meu desleixo prejudicar a formação da minha criança eu nunca vou me perdoar.

— Melo, posso me encontrar com você? — Ligo para a minha amiga assim que Serkan sai do apartamento.

— Desculpa, amiga. Estou no hospital agora, será que poderia ser depois... — Ela tenta se explicar.

— Na verdade, eu preciso dos seus trabalhos como médica. — A linha fica muda por alguns minutos, quase chego a pensar que a ligação caiu.

— Estou deixando a hora vaga pra você, esteja aqui o quanto antes. — Ela responde e assim eu troco de roupa e vou ao hospital.

Ao chegar ao hospital, tento sempre me manter discreta. Não quero que ninguém me reconheça e conte para ela que eu estou aqui… não quero ter que falar com ela, não hoje pelo menos.

— Oi, o que está acontecendo? Porque exatamente você precisaria de um obstetra, Eda… — Melo é direta. E como resposta eu apenas a entrego o teste de gravidez.

— Entendi. Vem, vamos para a minha sala. — Ela diz, me encaminhando para o final de um dos corredores.

— Você estava tomando anticoncepcionais, não estava? — Melo pergunta, nos acomodando em sua sala.

— Sim, isso é o que mais me preocupa. Não era pra eu estar grávida, Melo. Todos os dias eu tenho tomado as pílulas religiosamente, eu e Serkan não usamos camisinha a maioria das vezes e por isso eu redobrei a atenção. Não sei como isso pode ter acontecido… e eu tenho bebido muita bebida alcoólica também. — Desabafo para a minha amiga.

— Mmm, calma. Não é um problema, não agora pelo menos. Se você estiver mesmo grávida, você vai precisar parar com as pílulas e com as bebidas com teor alcoólico. Mas é muito raro que a pílula afete o desenvolvimento do feto nos primeiros dias de gestação, você pode ficar tranquila quanto a isso.  — Ouvir isso me faz lembrar de como respirar, como se eu tivesse tirado um peso das minhas costas.