Capítulo 19

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O fato de não poder falar para ninguém que seu chefe possivelmente tem uma filha é que até ele não deve saber disso. Ou sabe e esconde.
Já sei que Will tem inúmeras histórias com mulheres, mas em nenhuma delas ninguém mencionará que ele tem uma filha. E ele não seria um babaca para esconder isso. Will parece gostar de criança, pois sempre quando falo de Sophie seus olhos brilham e ele me fez prometer que algum dia levaria ela ao castelo para fazermos um piquenique. Agora olhando por esse lado, ele passa a ser suspeito.
Aquela menina deve ter entorno dos seus dezesseis anos, não é uma criança. Mas ainda sim, segundo muitos pais, nunca deixaria de ser uma criança. 
Cogitei a ideia do Steven ter um caso com ela, mas isso seria pedofilia. Então não, isso não é verdade. O Sr. Traynor não é esse tipo de pessoa.



O fato de uma pessoa não dormir já é algo ruim. Agora você ter dois motivos para isso, é horrível. Não consegui dormir pelo o Patrick e pela a menina que é a cópia do Will.
Estava um caco, mas não poderia deixar essas coisas me atormentar mais.
Como previsto, lá estava eu esperando Patrick em um café do castelo. E como sempre ele estava atrasado. Nathan e Will me liberaram assim que terminei de preparar o almoço deles. Nathan me desejou sorte, já Will parecia está preocupado com essa conversa.
O local é meio rústico, propício para um castelo desse porte. E propício para uma conversa de casal.
Por conta da demora de Patrick, peguei minha pasta de atividades para fazer com Will e comecei a organizar. As coisas que a tínhamos feitos eram simples. Primeiro foi a ilustre exposição de artesanatos, que teve um resultado ruim. E os outros momentos era eu e Will fazendo piqueniques, vendo filmes, andando pelo o castelo ou indo buscar Nathan nas casas dos outros pacientes quando o tempo se fechava. Se aproximava aquele concerto, Will parecia animado, talvez isso seria bom. O tempo estava passando, por mais que não pensava muito sobre o contrato de fazer Will desistir de colocar um fim em sua vida, isso me fazia ter pesadelos. E se eu não conseguisse fazer ele mudar de ideia? Eu não poderia começar voltar agir como um robô, fazendo essas atividades com ele por puro profissionalismo. Tínhamos feito uma amizade, eu não suportaria perder outro homem que é importante em minha vida. E tinha também aquela garota, se de fato ela tem algum vínculo com Will, isso poderia ajudar, ou atrapalhar de vez. Precisava achar um jeito de encontrar ela e saber da verdade.
Assim que terminei esse pensamento, Patrick entrou no café e começou a me procurar. Demorou um tempo para ele me ver, ele parecia mais forte e animado do que nunca. Assim que ele me encontrou veio de pressa ao meu encontro.
_Desculpas, Lou.- disse me dando um beijo e se sentando de frente para mim.-  Só me atrasei por 27 minutos.
_ Só 27 minutos.-abri um sorriso amarelo.
Patrick percebeu o meu desconforto, mas ele parecia estar tão energético que nem fez questão de rebater meu comentário. Juntei minhas coisas que estava sobre a mesa e guardei em minha bolsa. Percebi que quando Patrick leu o nome de Will em uma das folhas, seu sorriso diminuiu, formou então uma careta.
_Então, vai querer algo? – perguntei quebrando a tensão que tinha se formado.
Ele apenas meneou a cabeça. Já vi que isso ia longe.
Chamei a garçonete, fazendo questão de pedir um chocolate quente e uma fatia bem grande de uma torta salgada. Isso deve ter feito Patrick começar a me odiar.
Quando a garçonete saiu, Patrick me analisava paralisado, ele precisou piscar algumas vezes até voltar em si.
_Você disse que queria conversar. – ele disse.- Aqui estamos.
Por meio dessa frase, pude perceber que perdi aquele Patrick que conheci a sete anos atrás. Passamos por poucas e boas juntos, ele foi a pessoa que me ajudou quando meu pai faleceu, que por sinal nessa época éramos apenas conhecidos. Não sei em que momento isso deve ter acontecido, mas o sentimento amoroso que tínhamos, se acabou.
_É...-comecei.- Patrick o que está acontecendo com você?
_Só comigo?
Não entendi aquilo.
_ O que você está insinuando?
_ Ah, Lou- ele disse em um tom irônico.- Não está acontecendo nada comigo. Já com você. Lou, você não é a mesma de antes. Não tem mais tempo para mim e nem para a sua família. Os momentos que temos você sempre está cansada. E olha para você agora, faz tanto tempo que você não se arruma assim para mim.
Abaixei o meu olhar para a minha roupa. Estava com roupas que usava quando estamos juntos: calça legging, uma blusa alongada de manga cumprida azul marinho, o meu all star preto e o cabelo em um belo rabo de cavalo despojado. Não entendi de imediato o que ele quis dizer, mas lembrei que passei a usar maquiagem, coisa que tinha preguiça de fazer isso quando saíamos.
Quis negar, ou rebater que ele não tinha mais tempo para mim também, mas de fato, ele estava certo. Eu mudei desde quando comecei a trabalhar com Will, mamãe e Alex disse que foi para melhor, só que não sei até que ponto agora.
_Talvez você esteja certo.- cedi por fim.- Mas de certa forma tive motivos.
_Motivos, Louisa? -ele bufou.- Que motivos? Aquele cadeirante é mais homem do que eu?
Algo em mim se rompeu quando ele disse isso.
Em voz calma respondi:
_Não fale assim de Will...
_Eu falo do jeito que eu quiser.
_E se eu te dizer que ele é sim mais homem do que você.-explodi.- Olha o jeito que você age, Patrick. Sempre me colocou depois do que esse seu trabalho insuportável. Cansei de ter assunto sobre quantas calorias que você perdeu em um treino. Você iria fazer de nossas férias um campeonato. Que tipo de namorado é você?
_Você deve tá brincando comigo.-ele abriu um sorriso assustador.- Você está completamente apaixonada por ele. Em menos de 3 meses, Louisa.
Corei. Aquilo não é verdade.
_Não precisa nem me responder.
O sorriso que Patrick sustentava se desfez quando ele viu do que se tratava. Mais uma vez queria negar, mas não consegui juntar as palavras.
Fui interrompida pela a garçonete antes que eu tivesse chance de falar. Tinha que deixar uma gorjeta alta para ela por conta disso. Ela se retirou assim que deixou o meu pedido, que eu ignorei, pois não tinha mais fome.
_Louisa.-Patrick me chamou com um tom de voz vacilante.- Você fala de nós no passado. Age diferente comigo e agora deixou claro que está apaixonada por ele . Como você quer que eu devo agir? Perder você para um cadeirante é demais para mim.
_EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR ELE!
Essa frase fez todos que estavam no café nos olhar. Abaixei o tom de voz.
_Quer saber, cansei. Cansei desse seu ego enorme. Cansei de tudo que envolve você. Eu te amei desde o primeiro momento, mas agora nem te conheço mais.
_Espera aí. Isso significa que você escolhe ele?
_”Ele”, tem nome, é William Traynor.- abaixei mais a voz.- Eu não escolho ninguém, eu me escolho. E com isso, acho melhor terminarmos aqui.
Patrick está boquiaberto. Ele apenas pegou em minha mão. Queria recuar, mas estava sem força.
_Lou, você não pode fazer isso.
Olhei um bom tempo para ele. O que consegui fazer foi pegar em minha carteira a passagem para Espanha e coloquei sobre a mesa. Junto coloquei o dinheiro do meu pedido, mais uma gorjeta.
_Desculpas.
Peguei minha bolsa e me levantei.
Olhei novamente para ele.
_Tome pelo menos esse chocolate quente.- falei.-Talvez você precisa de açúcar em sua vida.
E saí. Nem fiz esforço para ver a reação dele.
Sai do castelo com sentimentos inexplicáveis. Acabei de romper com o meu namorado, que apontou uma certa paixonite que eu possa ter no homem que cuido e deixei uma torta para trás. Só conseguia me odiar por tudo isso.
Achava que não poderia ficar ainda pior. Mas eu estava completamente enganada.
Estava de cabeça baixa assim que peguei o caminho para a Granta House, pois já sabia de cor aquela passagem. Só conseguia me odiar a cada passo que dava. Até que provoquei um colisão com outra pessoa.
_Srta. Clark?
Quando levantei a cabeça vi a Sra.Traynor, que segurava  meu braço com força e me olhava espantada. Grande dia!
_Louisa, tá tudo bem?
Seu tom de voz denunciava uma certa preocupação.
_Está.
Assim que ela teve certeza que eu estava com o pé firme no chão, soltou o meu braço.
_Obrigada. E desculpas.
_ Está tudo bem. Só presta atenção por onde anda.
Não tinha percebido que a colisão foi tão grande, até que Camila abaixou e pegou minha bolsa do chão. Me entregando, começou a me olhar de uma forma profunda. Esse ato dela me fez lembrar de Will.  E da garota cópia dele.
_O que aconteceu, Srta. Clark?
Por algum motivo me senti confortável em falar para ela sobre o acontecimento de minutos antes.
_Eu... Eu acabei de terminar o meu namoro.
Em uma fração de segundos vi um relance de esperança passar em seus olhos. Acho que ela percebeu esse ato também, pois fingiu franzir o cenho.
_Minha nossa, Louisa. Você tá bem mesmo?
_Eu não sei. Eu não sei de verdade.
E comecei a chorar.
Sra. Traynor pareceu que pela a primeira vez ela não soube agir. Ela de fato estava preocupada, por mais que não entendi aquele ato dela.
_ Tire hoje de folga, Clark. -ela me disse depois de um tempo.-Vá pra casa. Eu posso ficar com Will hoje.
Seu tom de voz era verdadeiro, como se fosse um pedido vindo da minha mãe. Acho que esse pedido era a melhor opção. Will não iria achar bom, mas ele iria compreender.
Consegui apenas assentir.
Camila passou seu braço sobre a minha costas e me guiou até o anexo, alegando que eu deveria beber pelo o menos um copo d’água. Ela me soltou assim que passamos pela a porta. Fomos para a cozinha. Lá estava Will e Nathan. Will parecia fazer companhia a Nathan, já que ele estava almoçando. Quando os dois perceberam a minha situação, pararam o que estavam fazendo. O olhar de Will se encontrou com o meu, sua boca se entreabriu, dando a entender que não conseguia falar nada. Nathan apenas observava a cena.
Me surpreendi com a atitude da Sra.Traynor, ela não disse uma palavra desde quando me falou sobre a folga, e parecia não querer falar isso para eles. Ela se aproximou de mim e me entregou um copo d’água. Tomei e devolvi o copo.
Voltei o meu olhar para Will. Ele estava do mesmo jeito de antes. Não queria ver mais aquilo. Me virei e saí. Antes de passar da porta de entrada do anexo escutei o barulho da cadeira de Will. Aparentemente ele saiu do seu transe. Segurei na maçaneta da porta e virei o rosto para ver ele.  Seu tom de voz oscilou e pude notar raiva em seu olhar.
_Louisa.
Voltei o olhar para a porta. Respirei fundo e saí.
_Louisa.
Dessa vez a voz de Will não oscilou, estava mais firme do que nunca, mas apenas continuei o meu caminho. Entrei no carro e me permiti desabar.
Saí de fato dali depois de meia hora.



O clima em casa pesou assim que cheguei. Pela a primeira vez nessa semana minha mãe estava em casa na parte de tarde. Fui recebia com um abraço caloroso dela. Ela pela a primeira vez não fez algum discurso de como era incrível ou qualquer outra coisa, apenas disse que tudo ficaria bem. Sophie tentou ajudar também, ela me entregou um desenho, que segundo ela era nós duas em um abraço. Fiz aquela cena acontecer. Alex iria demorar para chegar em casa, mas sabia que ele iria deixar claro que nunca gostou do Patrick.
Parei para pensar em tudo. Não estava mal por ter terminado o namoro, estava leve até, mas o comodismo fez o amor se esfriar. Que ele encontra uma batata doce que o completa. Já a possível possibilidade de que tenho uma paixão em Will me assustava mais do que tudo. Isso não pode acontecer, eu odeio ele, ou odiava até começarmos ter uma amizade. Não posso negar que ele é uma pessoa encantadora, por mais que age com uma ignorância sem tamanho, mas ainda sim ele é William Traynor. E para somar tudo isso tinha Camila que pareceu feliz com o meu término; O Steven que deve tá me odiando por eu saber algum possível segredo dele; E por último, tinha aquela garota.
Grande dias.
Entrei em meu quarto depois de um longo momento com Sophie, o que me fez querer mais do que nunca tomar banho e cair na cama. Mas algo chamou minha atenção assim que me aproximei do meu guarda roupa. Meu olhar parou em um pequeno buquê encima da minha escrivaninha. Me aproximei e contemplei aquelas rosas. Minha surpresa foi maior quando vi um envelope, que apressei em abrir.
                 
                      “ Sinto muito.

                              W.T ”

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora