Capítulo 9

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Passaram-se três semanas, com elas apareceu uma espécie de rotina. Todos os dias eu chegava na Granta House às oito da manhã, esperava Nathan ajudar Will a se vestir, e sempre escutava ele me dizendo sobre os medicamentos de Will e, não menos importante, o humor dele.


Depois que Nathan saia, dava os comprimidos que Will precisava, raramente precisava ser amassados. Depois de dez minutos frente a frente, Will deixava claro que não queria me ver tão cedo, mas antes de sair sempre ligava a TV ou sintonizava o rádio. Procurava sempre limpar o chão, lavar alguns panos, por mais que sempre estavam limpos. A mando da Sra. Traynor, olhava Will em cada quinze minutos, ele não fazia questão nenhuma quando isso acontecia.


Mais tarde servia o seu almoço, ou uma daquelas bebidas calóricas que supostamente serviam para manter o seu peso. Will possuía o uso limitado das mãos, mas não dos braço, por isso precisava ser alimentado com a ajuda de outra pessoa. Isso por si só já parecia errado, imagina alguém igual à ele. Esse era o pior momento que existia no dia, não conseguíamos olhar um para o outro. Fora as vezes que derrubava comida em seu colo, era horrível quando isso acontecia.


Na parte de tarde, certifico se ele não precisa de algo e aproveito para dar os comprimidos desse horário. Ele passou a usar o notebook, mas nunca abria mão dos filmes. Ele poderia passar horas e horas assim. Enquanto isso eu ficava entediada, limpando, lavando, ou organizando seus kits básicos. Passei a ler também.


De noite, enquanto terminava de preparar sua janta esperava seu pai chegar para conseguir ir embora. Sr. Traynor era um homem um pouco mais alto do que eu, de cabelo grisalho e magro, que aparentava ter envelhecido precocemente nesses últimos tempos. Algumas vezes percebia que ele chegava com a mesma roupa do dia anterior, com certeza Will percebia também.


Assim que era liberada ia o mais rápido possível embora, sempre tinha medo de precisar ficar mais. Chegava em casa cansada, mais psicologicamente, mas permitia curtir esses momentos em família. Mamãe estava a mesma de sempre, parecia mais competente naquilo que estava trabalhando, o que dava orgulho para mim e Alex. Falando dele, ele parecia mais distante ultimamente, mas nem me arrisquei perguntar o porquê disso. Sophie nem tem muito o que falar. Ah. Tem o Patrick, não se víamos mais tanto durante as semanas, ele está realmente focado no treinamento.


E assim foi os meus dias ao longo dessas semanas.



🐝



Estava deitada no chão do meu quarto lendo e escutando música, quando percebi que alguém deitou em minha cama.


_Lou, você não pode desistir.


Fechei o livro e tirei o fone de ouvido.


Alex percebia que não estava gostando do serviço, já tinha falado isso para ele, falei também que pensava em desistir do emprego. Mas estranhei quando ele me falou isso, já que o próprio deixou claro que não precisaria me preocupar, pois estava dando conta das despesas.


_ Ah, é? - levantei e sentei no espaço que tinha vago na cama.- Você não tenha dúvidas que eu posso.


Alex parecia incomodo.


_ Você só tá lá três semanas. Apenas três semanas.


_ Que por sinal são as três piores semanas da minha vida. Ele me faz sentir a pior pessoa do mundo. E pode ter certeza que vou desistir.


Ele se sentou e me olhou de uma forma que nunca vou esquecer. Ele estava com medo.


_ Você não pode Lou.


_ Por que eu não posso?- por meio desse ato dele perguntei também algo que já deveria ter perguntado.- Alex, o que tá acontecendo?


_ Você não pode deixar mamãe, ela ainda precisa de você. Sei que você já fez mais do que devia, mas ainda sim precisa ajudar ela.


Ele não estava bem, algo parecia corromper ele põe dentro.


Ainda não entendendo nada, ele continuou:


_ Estou pensando em ir embora de casa com Sophie.


_ Como...Como assim?


Nunca achei que que essa frase doeria tanto. Não conseguia imaginar a casa sem a voz e as brincadeiras do meu irmão, e muito menos sem Sophie, ela foi quem trouxe alegria pra cá, a menininha é a versão 2.0 do meu irmão em quesito de personalidade. Isso não poderia acontecer, não agora.


_ Mas tenho o por quê de querer isso.- engoliu em seco. - Estou pensando em encontrar uma casa e ir morar com Natalie.


Fiquei perplexa. A última vez que toquei no nome dela ele fez questão de mudar de assunto, mas agora tudo faz sentido, ele parecia mais distante ultimamente, isso só aconteceu quando ele teve noção que amava Natalie. Então esse tempo que ele estava estranho era por causa disso, de ter decidido isso.


_ Desde quando vocês estão juntos?


_ Lembra da última vez que Sophie adoeceu?


Assenti. Ela não era uma criança que ficava muito doente, mas sempre que acontecia passávamos noites e noites sem dormir. Dessa vez que ele citou ela ficou gripada por duas semanas, foram as semanas mais difíceis para nós, sendo as semanas que tivemos também mais contato com Natalie e seus pais.


_ Isso faz uns seis meses.


_ Sim. Nos aproximamos depois daquelas duas semanas. Todas as vezes que eu saio sozinho, ou com Sophie, é para encontrar Natalie.


_ Mas...


_ Convenci Sophie que era apenas encontros de amigos. Natalie e eu trocávamos olhares e carinhos quando ela não está por perto. Lou, você não tem ideia de como isso é difícil.


Não tinha mesmo, já que eu e Patrick não precisávamos nos esconder.


_ Por isso que não faz muito tempo que decidimos sobre a casa.


_Mamãe já sabe?


_ Não. - ele me lançou um olhar de súplica.- Ainda não. Natalie e eu decidimos contar aos nossos pais e principalmente para Sophie, quando estivermos já conseguido uma casa.


_ Isso é uau!- tentei parecer animada. - De verdade Alex, estou feliz por vocês.


_ É por isso que te peço para continuar firme lá. Vou tentar ajudar vocês aqui, mas vou ter uma casa agora, vou ter que ser pai e marido também. O começo temos certeza que vai difícil, mas existe amor. E vou dar um jeito de não deixar de ser o homem da vida sua e da mamãe.


_ Você pode ter certeza que isso nunca vai acontecer.


Sorrimos juntos e ele chegou mais perto e me abraçou.


Não imaginava mesmo meus dias sem ele, mas o maninho cresceu e precisa cuidar da vida dele, ele já fez papel de homem nessa casa, agora precisa fazer esse papel na vida de Natalie.


_ Você vai ter isso também Lou. Não vai poder viver sempre aqui com mamãe, só vocês duas digo. Aposto que Patrick vai ser um bom homem para você.


A primeira vez que senti que não era um alfinetada, ele estava sendo sincero.


Lembrei que fazia um tempo que Patrick e eu não tocávamos nesse assunto, acho que preferia assim.


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Demorei um pouquinho, mas apareci.

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Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora