Capítulo 31 - Parte II

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O almoço foi servido às quatro. Achei uma hora estranha para almoçar, mas, como observou Will, era um casamento. O tempo parecia ter se esticado e perdido o sentido. De qualquer jeito, foi preenchido por inúmeros drinques e conversas passageiros. Não sei se foi o calor, ou o ambiente, mas quando chegamos à nossa mesa, senti que já estava quase embriaga.
_ Tem álcool nesse coquetel de frutas?-perguntei a Will, depois de derramar o saleiro no colo.
_ O mesmo teor de uma garrafa de vinho. Cada um.
Olhei para ele, apavorada.
_ Está brincando! O coquetel era de frutas! Por isso, achei que não tinha álcool. Como vou dirigir de volta para casa?
_ Bela cuidadora você é - disse ele. Levantou uma sobrancelha. -O que eu ganho em troca se não contar para minha mãe?
Fiquei pasma com a reação de Will durante todo aquele dia. Pensei que eu fosse ver o Will Taciturno e Sarcástico. No mínimo, o Will Silencioso. Mas ele foi simpático com todo mundo. Nem reclamou de servirem sopa no almoço. Quanto mais eu me preocupava em ficar sóbria, mais animado e despreocupado Will parecia.
Will mesmo disse para ser um dia “divertido”. Então, lembrando disso, e os coquetéis continuando fazendo efeito, relaxei por um momento.
Do almoço, até o atual momento, tudo continuava saindo completamente bem. Nenhuma briga por comida, ou por alguma criança ter feito bagunça, ou até mesmo ninguém ter brigado por homem. Conclui que eu frequentava casamentos completamente diferente, até mesmo mais animados.
Desde que chegamos, os noivos não fizeram questão de nos cumprimentar, pareciam que estavam evitando isso ao máximo. Isso parece não ter feito em Will, já que o mesmo parecia estar se divertindo conversando com um senhor completamente risonho. Me senti excluída por não estar dentro das conversas deles. Comecei a cogitar a pegar mais um coquetel, mas precisava estar sã ora voltar para casa. Ainda mais para voltar no anexo.
Empurrei o copo, para tentar afastar esses pensamentos. Dei um leve suspiro, com a esperança de ninguém escutar, porém Will como sempre, escutou.
Will se inclinou para mim e disse:
_ Soube que há um hotel muito bom na estrada. Ligue para eles e veja se podemos ficar lá.
_ O que?
O senhor que Will conversava, cujo não consegui decorar o nome, me entregou um papel com um nome e um telefone rabiscado.
_ Sem problemas, Clark. – disse ele baixinho. - Eu pago. Ande, assim não precisa continuar se preocupando por ter bebido. Pegue o meu cartão de crédito na bolsa. Eles provavelmente vão pedir o número.
Peguei o cartão e meu celular e fui para o fundo do jardim. O hotel tinha um quarto disponível: para casal no térreo. Sim, era adaptado para deficientes.
Não sabia se ficava mal por ter que dormir no mesmo quarto que Will, ou pelo o valor da suíte.
Passei o número do cartão de Will, sentindo um leve enjoo ao ler os números.
_ E ai? - perguntou ele, quando voltei
_ Reservei, mas...-informei o preço do quarto.
_ Tudo bem - disse ele. Complementou com um sorriso malicioso: -Vou adorar dividir o quarto com você, Clark.
Não sei se foi o tom da voz dele, o calor do ambiente, a bebida, ou só a vontade que venho carregando dele, mas isso me fez arrepiar do dedão do pé, até o ultimo fio de cabelo.
_ Agora, tome seu drinque. Aliás, tome seis. Eu gostaria muito que você se embebedasse às custas do pai de Alicia.

E fui o que eu fiz.
Em um passe de magica, mais do que já era possível para aquele dia, os garçons afastaram as mesas de perto da pista de dançando. Quando percebi, a mesa em que Will e eu estávamos, estava perto da parede da tenda.
Por volta das dez da noite, Freddie pegou o microfone e anunciou a valsa dos noivos. Pude perceber que Will aproximou sua cadeira perto da pista de dança. Não conseguia decifrar o Will de hoje. Não queria atormentar ele, mais do que a cena que estava tendo diante de si: sua ex e seu melhor amigo.
Sem perceber, uma senhora, bem cuidada aparentemente, sentou-se perto de mim.
_ Deveria ser um crime homens ingleses dançando.
Abri um sorriso em resposta. Na verdade, ela estava certa.
_ Amiga da noiva?
_ Ah... Não... Na verdade, nenhum dos dois. E você? – perguntei.
_ Madrinha da noiva. – respondeu ela, com um certo desdém. – Falhei miseravelmente em cuidar dela.
Não consegui segurar uma gargalhada.
_ Não sei como você está aguentando tudo sóbria. – a senhora disse depois de um tempo em silencio.
_ Na verdade, já passei da minha conta hoje. – abri um sorrisinho em lembrar quantas vezes um garçom veio recolher os meus copos. – Estou responsável pelo o Will. – apontei para ele, percebendo que o mesmo estava concentradíssimo em ver os noivos dançar.
_ O jovem, Will. Foi a grande chance dela– ela suspirou. Acompanhei seu olhar, focando nele. – O único daquela turma que valia alguma coisa. Uma pena.
_ Mas ele não esta morto. – me arrepiei ao falar isso.
_ Não. Eu quis dizer para ela, não para ele.
Respirei aliviada.
_ O Rupert é um babaca. – mudando seu tom de voz, para algo mais doce. – Cuida bem dele. Ele é um bom rapaz. Conselho de quem entende. – disse piscando para mim. Assim como ela chegou à mesa, ela saiu, nem percebi muito bem.
Olhei novamente para Will. Ele é um bom rapaz.

No meio da música, outros casais também foram dançar, de modo que os noivos foram meio apagados e me distrai com o Will fazendo um comentário infeliz sobre um bando de seus amigos. Até que, inesperadamente, me deparei com Alicia bem à nossa frente, a supermodelo de vestido de seda branco. Meu coração ficou na garganta.
Alicia nos cumprimentou com a cabeça e inclinou-se um pouco para que Will pudesse ouvi-la apesar da música. Seu rosto estava um pouco tenso, como se tivesse se obrigada ir até ali.
_Obrigada por ter vindo, Will. De verdade. - Ela olhou de relance para mim, mas não disse nada.
_ É um prazer-disse Will, simplesmente. - E você está linda, Alicia. Foi uma grande festa.
Um lampejo de susto passou pelo rosto dela. Tomado depois por uma leve desconfiança.
Me segurei para não revirar os olhos.
_ Acha mesmo? Eu... bom, há tantas coisas que eu gostaria de dizer...
_ Jura? Não precisa. Lembra da Louisa?-perguntou Will.
_ Lembro.
Fez-se um pequeno silêncio.
Rupert estava logo atrás, olhando para nós, com cautela. Alicia olhou para Will e estendeu a mão, se despedindo.
_ Obrigada, Will. Foi superlegal você ter vindo. E obrigada pelo...
_Espelho
_ Isso, adorei o espelho - Ela se endireitou e foi até o marido, que virou-se, segurando-a pelo braço.
Vimos o casal atravessar a pista de dança.
_ Você não deu um espelho de presente.
_ Eu sei
Os noivos ainda conversavam e Rupert lançava rápidos olhares em nossa direção. Como se não acreditasse que Will tivesse sido tão simpático. Aliás, nem eu.
_ Isso o incomodou? - perguntei
Ele desviou o olhar dos noivos.
_ Não - respondeu, e sorriu para mim. O sorriso tinha ficado um pouco torto depois de beber e os olhos estavam ao mesmo tempo tristes e pensativos.
Então, no instante em que a pista se esvaziou, antes da próxima música começar, eu me vi perguntando
_ O que acha, Will? Vamos dançar?
_O que?
_Vamos dar assunto para esses panacas. – acrescentei: - Vamos. Enquanto ainda estão tocando música lenta. Pois acho que você não conseguir dar pulos sentado nesse negócio.
Não dei nenhuma opção a ele. Sentei com cuidado no seu colo e coloquei os braços no pescoço dele para me firmar. Ele olhou bem nos meus olhos um instante, como se pudesse recusar o convite. Depois, surpreendentemente, conduziu a cadeira para pista e começou a dar pequenas voltas sob as luzes faiscantes dos globos de luz.
Fique, ao mesmo tempo, muito insegura e meio histérica. O jeito como me sentei fez o meu vestido subir até metade das minhas coxas.
_ Deixe assim mesmo-disse Will no meu ouvido. - Vamos, Clark. Não me decepcione agora.
Fechei os olhos e apertei os braços em volta do pescoço dele, nossos rostos colados, sentindo o seu cheiro de loção pós-barba. Podia senti-lo cantarolando a música.
_Eles já estão pasmos?-perguntou ele.
Abri um olho na meia-luz Duas pessoas sorriam e lançavam olhares encorajadores, mas a maioria não sabia como reagir aquela cena. A madrinha de Alicia assim que nos viu, saudou com sua taça de bebida. Depois, vi Alicia olhando para nós, boquiaberta. Quando me viu olhando para ela, virou-se e disse alguma coisa para Rupert. Ele balançou a cabeça como se estivéssemos fazendo algo infame
Senti um sorriso maldoso se abrir em meu rosto.
_ Estão pasmos, sim-confirmei.
_ Hum. Chegue mais perto. Você está muito cheirosa.
_ Você também.
Will mudou de direção. Com meus braços envolvendo o pescoço dele, afastei um pouco o rosto para olhá-lo e vi que não estava mais inseguro. Baixou o olhar para meus seios. Para ser justa, na posição em que eu estava, não havia nenhum outro lugar para onde ele pudesse olhar. Tirou os olhos do meu decote e levantou uma sobrancelha.
_ Você sabe que só deixa esses seios tão perto de min porque estou em uma cadeira de rodas- murmurou.
Olhei-o, firme.
_ Você nunca iria olhar para os meus seios se não estivesse numa cadeira de rodas.
_ O que? Claro que olharia.
_ Não. Se não fosse cadeirante, estaria muito ocupado olhando as loiras altas de pernas largas e cabelos compridos, que gastam uma fortuna a cada passo que dão. De todo jeito, eu estaria aqui. Estaria cuidando das crianças. Seria uma das pessoas invisíveis.
Ele piscou.
_ Então? Não tenho razão?
Will olhou para um canto aonde tinha uma concentração grande de crianças e depois para mim.
_ Tem. Mas, em minha defesa, Clark, devo declarar que eu era uma besta.
Dei uma risada tão alta que fez mais gente olhar para nós.
_Sabe de uma coisa?
Podia passar a noite toda olhando para ele. Para o brilho no canto dos seus olhos. Para o lugar onde o pescoço encontrava o ombro.
_ Que?
_ As vezes, Clark, você é a única coisa que me da vontade de levantar da cama
_ Então vamos para algum lugar.- As palavras saíram da minha boca antes que eu percebesse o que queria dizer. - Vamos para algum lugar. Passar uma semana nos divertindo. Só nós dois.
_ Aceite, Will. Vamos.
Ele não desviou os olhos dos meus.
Eu não sabia o que estava dizendo. Não sei de onde veio tudo aquilo que eu disse. Só sabia se não conseguisse convencê-lo a aceitar a minha proposta aquela noite, com a ajuda das estrelas, das flores e dos risos, então eu não tinha a menor chance.
_ Por favor.
Os segundos anteriores à resposta pareceram durar uma eternidade.
_ Vamos. – ele concordou.

🐝

Assim que, Will e eu percebemos que o lugar estava ficando apertado demais para a nossa bolha de felicidade, decidimos deixar o lugar. Ele me carregou da mesma forma que estávamos até ao carro, deixando para trás rostos completamente assustados. Com Will já colocado devidamente em seu lugar no carro, dei partida indo em direção ao hotel.
Chegando no hotel, entendi o por quê do valor alto. No estacionamento consegui uma vaga preferencial logo perto do elevador, o que foi fácil para mim e Will. Já na recepção, consegui fazer o check-in rapidamente. Estranhando como por um momento consegui parecer estar sóbria. Will estava logo atrás de mim, do lado de um mensageiro.
Assim que a recepcionista entregou nossas chaves, o mensageiro nos acompanhou até o nosso quarto. Achei que por ser no térreo seria um lugar mais perto, mas eu estava errada. Entramos em um corredor, com paredes brancas e detalhes dourados. Possuía aparadores em dourado com vasos enormes de flores. Andamos por 5 minutos até parar em uma porta branca.
Já no quarto, consegui que o mensageiro me ajudasse a colocar Will deitado na cama. Will devia estar meio alterado mesmo, já que não reclamou da ajuda. Assim que o mensageiro saiu, deixando Will e eu sozinhos, pude arrumar ele. Consegui trocar seu cateteres, não igual a Nathan, mas por essa noite estaria de bom tamanho. Na bolsa que sempre carregamos, havia duas trocas de roupas, já que nunca sabemos o que poderia acontecer. Coloquei nele uma camisa de algodão preto e uma calça de moletom cinza.
Evitei de olhar nos olhos de Will desde o momento em que ficamos sozinhos, mas não poderia ficar ignorando ele. Levantei o olhar até encontrar o seu, assim que isso aconteceu, pude ver um sorriso surgir. Will parecia ter ficado sóbrio de uma hora pra outra também.
Balbuciei algo sobre me trocar e corri para o banheiro.
Não poderia dormir com aquele vestido e simplesmente não podia dormir sem ele. Voltei para o quarto novamente, indo até a bolsa de Will pegando a outra peça de roupa dele e voei para o banheiro. Senti o peso do olhar de Will em cada movimento que eu fiz.
Demorei mais do que pretendia no banheiro. Após lavar o rosto, desfazer o penteado e colocar as roupas de Will que é três vezes maior do que eu, voltei ao quarto pela segunda vez.
Will assim que me viu com suas roupas segurou uma gargalhada, mas não conseguiu segurar por muito tempo.
Como o quarto possuía apenas uma cama, decidi que dormiria no sofá de dois lugares que havia perto de uma janela que ia do teto ao chão. Já estava indo pegar um travesseiro e uma coberta, que tinha no guarda roupa vintage. Will chamou a minha atenção.
_ Louisa. – voltei para ele. Sua voz era completamente séria, diferente das vezes que já tinha escutado ela assim. Will possuía um semblante sério também. – Você não vai dormir no sofá. Olha o tamanho dessa cama. Por favor, não durma no sofá.
Sua voz na última frase parecia como uma súplica. Decidi então que cumpriria ela.
Me deitei ao seu lado, aconchegando-me de um forma que ficasse de costas para ele e não tivesse o perigo de que no meio da noite rolasse para cima dele.
Após alguns longos minutos, fingindo estar dormindo e escutando a respiração pesada de Will, escutei ele engolir em seco.
_Lou. - Will me chamou. Pude sentir o mesmo que ele transmitiu naquele tom de voz. Vontade.
Tentei apertar mais os olhos.
_ Eu sei que você não está dormindo, Louisa.
Bufei.
Virei-me para ele. Pude sentir seu olhar pesado sobre mim. Os castanhos se escurecendo mais uma vez, mas não era por ciúmes.
Estávamos sozinhos dessa vez. Sem anexo, castelo, Granta House, os pais de Will, Nathan e principalmente, de Lily. Era só eu e Will. Só nós dois.
Fechei o espaço que estava nos separando. Aconcheguei dessa vez no seu ombro, passando um braço pelo o seu pescoço e colocando minhas pernas sobre as dele.
Assim que colei meus lábios no de Will, pude sentir o seu hálito fresco (sim, tinha escovado os dentes dele assim que chegamos, assim como o meu), pude sentir a quentura e o quanto aquilo era bom. Era aquilo que eu precisava desde o momento que percebi que o amava. Durante muito tempo Will manteve um sorriso, e ele continuou assim por muito tempo depois.


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Demorei, mas apareci com tudo!!!
Completamente apaixonada por esse capítulo.
O que vocês acharam desse casamento? Da aproximação dos dois?
Desde , muito obrigada.

Como Eu Era Antes de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora