Capítulo 6

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(...Apesar da forte chuva que caiu na tarde de ontem, o nível do reservatório Guarapiranga, continua em situação alarmante...)*

-Não sei onde essa situação vaí parar filho.

-Eu também não sei...

Minha mãe e eu estamos assistindo ao telejornal, que mais uma vez fala sobre o baixo nível de água e o desperdício discriminado.

-O pai está demorando. Ele ligou?

-Ligou. Ele está preso no trânsito, está tendo manifestação na Paulista, esqueceu?

-Ah verdade ... Então ele não chegará em casa tão cedo. Bom, amanhã tenho prova, vou dar uma última revisada na matéria.- Dou um beijo na testa da minha mãe e levanto.

-Tabom filho. Quando o jantar estiver pronto eu  aviso.

-Tabom.

Passo as próximas 2 horas revisando a matéria, até que minha mãe avisa que a janta esta pronta.

Quando estamos terminando, meu pai chega em casa exausto.

-Cheguei.-Avisa ele ao abrir a porta.-Até que enfim cheguei em casa.

-Oi amor.-Minha mãe comprimenta meu pai. com um beijo carinhoso- Você quer jantar agora, ou primeiro vai tomar banho?

-Primeiro vou tomar um banho e já volto tabom?

-Tabom.-Levanto lavo a louça que está na pia .

Cerca de 30 minutos depois meu pai volta de banho tomado e vestido uma bermuda e camiseta. Minha mãe vai até cozinha fazer seu prato, como sempre e nos sentamos a mesa pra fazer companhia enquanto ele janta.

-Como foi seu dia filho?

-Foi bem corrido como sempre, mas foi bem e o seu pai?

-Nem me fale ... A situação está muito ruim, não tenho vendido nada.- Meus pais possuem uma loja de roupas e sapatos.-O dinheiro ultimamente mal da pra comer...

-É verdade pai. E agora? Será que essa situação é temporária?

-Espero que sim Rafa ou não sei oque faremos. Estamos vivendo só do seu salário praticamente.

-Enquanto der pra viver esta bom, o pior é se tudo continuar a subir do jeito que está.-Diz minha mãe pensativa.

-Vamos orar pra que isso tudo seja só uma fase ruim.- completa meu pai.

Acordo me sentindo perdido. Olho ao redor e vejo que infelizmente não estou em casa com meu país e sim nessa casa onde tenho passado os últimos 5 dias com a Mila.
Olho para meu lado e ela está dormindo pacificamente. Sua respiração é suave e lenta. Diferente dos primeiros dias que passamos juntos, onde ela tinha muitos pesadelos e acordava assustada e chorando.

É bom sonhar com meus país, sinto tanta saudades deles... Mas ao mesmo tempo é horrível, eles foram mortos de forma tão violenta, não tive chance de ajudar e por isso me sinto péssimo. Sei que eu deveria ter tentado mais, me esforçado mais. Agora é tarde.Suspiro pesadamente contendo minhas lágrimas de culpa e saudades.

Chego mais perto da Mila e passo meu braço por sua cintura a abraçando forte. Me sinto aliviado em um certo ponto por agora ter ela comigo, a solidão é horrível. Agora nossos sentimentos um pelo outro tem mudado tanto, isso só me dá mais forças pra continuar.

Me aconchego mais perto da Mila, fecho os olhos, aos poucos minha respiração vai ficando mais lenta e adormeço novamente.

-você vai por esse corredor que eu vou por aquele. Seja rápido e pegue oque puder.

-Pode deixar pai.

Pessoas correm pelo supermercado onde meu pai e eu estamos. Não existe mais ordem alguma. Todos correm desesperados tentando pegar água e comida. Ouço gritos estridentes de pessoas tentando pegar oque podem sem serem roubadas.

Ninguém está pagando por nada aqui , até os funcionários do supermercado e os seguranças, estão lutando por alguma comida pra levar pra suas casas, suas famílias...

Corro rapidamente empurrando um corrinho do supermercado e vou colocando nele tudo oque acho que seja necessário , comida, bebidas, pilhas, lanternas tudo que pode ser útil.

(...Esse é um momento para a população ter calma. A situação está sobre controle.
Tudo voltará ao normal o mais rapidamente possível. Eu repito a situação está sobre controle. Caminhões pipa estão sendo enviados para os locais mais necessitados...)*

Os televisores ligados no supermercado estão alto e em bom som e não param de repetir a mensagem presidencial ( a mentira presidencial).

Duvido que se qualquer um do governo estivece aqui correndo em desespero por um pouco de água ou comida estariam falando que tudo ficará bem e pra ter calma..

-PAI!!!- Grito em busca do meu pai .

--AQUI!- Vejo ele à alguns metros de distância e corro ao seu encontro.

-Conseguiu pegar água Rafa?

-Só um galão e o senhor?

-De água?! Nada. Vamos, vamos pra casa, sua mãe deve estar preocupada.

Corremos para o corro e guardamos tudo no porta malas rapidamente.

-SOCORRO! SOCORRO!- Escuto uma voz feminina gritar e corro em direção a voz . Um homem esta de pé e uma mulher está caída no chão enquanto ele está chutando violentamente suas costelas.

-Ei seu filho da puta ! Deixa a moça em paz.-Grito pra babaca e ele para olhando na minha direção.

-É melhor você sair fora daqui se não quiser se o próximo moleque. - De repente o cara puxa uma arma da cintura, ponta pra mulher caída no chão e atira.

BUM BUM BUM.

Três tiros. Sinto alguém me puxar pelo braço, nunca tinha visto uma pessoa ser morta na minha frente...Meu pai grita desesperado, me puxando pelo braço.

-RAFAEL CORRE!!! RAFA.

-Rafa, Rafa...-Sinto o corpo da Mila e sua voz sussurrando no meu ouvido -Rafa... Acorda, tem alguém na casa...

O SEGREDO DO AMANHÃOnde histórias criam vida. Descubra agora