Capítulo 7: Intenções perversas

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Tristan não podia fazer nada além de encarar a parede áspera e úmida de pedra do calabouço através das grades, ou, para uma mudança de cenário, o baldo feixe de luz que penetrava corajosamente aquela cela minúscula e fétida, por uma pequena brecha na parede externa. Ao seu lado, um pobre diabo velho e louco balbuciava consigo mesmo, tão moribundo e incapaz de articular frases inteligíveis, que nem ao menos lhe servia de companhia para tornar aquilo tudo um pouco mais suportável. O jovem prisioneiro apenas imaginava que tipo de torturas teria sofrido para acabar naquele estado tão lamentável.

Seu estado de quase transe, fermentando pensamentos enquanto encarava a parede suja do corredor sem nem piscar, foi interrompido pelo baque de uma porta batendo na entrada do corredor. O som vinha de cima deles, além das escadas em espiral que davam acesso àquelas celas subterrâneas. Ouviram-se passos, mas Tristan só ficou realmente alerta quando os passos estavam perto o bastante para que visse quem acabava de entrar. Era Georg, o capitão da guarda urgandiana.

— Está com problemas, garoto — Georg disse-lhe com franqueza.

Pensou em dar uma resposta irônica diante de uma afirmação tão truísmica, afinal ele não era mais seu capitão: estava condenado, não importava o que dissesse. Mas resolveu fazer uma pergunta de maior relevância.

— Quando vão me executar?

Sentado ali, encurvado sobre os joelhos com os braços largados sobre eles, olhando para o nada, o rapaz mostrava-se lacônico como nunca. Georg soltou um suspiro abafado e encostou-se na parede em frente à cela, olhando para Tristan com pena.

— Amanhã de manhã.

Tristan respirou dentro da mão que segurava o rosto, ainda sem encarar Georg. Imagens do julgamento, conduzido há algumas horas pelo supremo tribunal paladino com o fim de decidir sua sentença, perpassavam-lhe a mente. As faces arrogantes e intransigentes dos jurados que o cercavam, a implacável deliberação do juiz, e por fim sua condenação a morte, contra todos os depoimentos que prestaram seu capitão e antigos companheiros da guarda de Urgand. Exceto Yorgen.

Não sabia dizer o porquê, mas não estava realmente surpreso com sua traição, apenas... desapontado. Yorgen sempre fez de tudo para conseguir o que queria, desde que eram crianças ele já sabia que nada ficaria entre o amigo e suas ambições.

No entanto, se perguntava o que poderia haver de tão interessante, tão valioso na proposta dos paladinos para que descartasse uma amizade de tão longa data daquela maneira. Ele definitivamente não ocupava mais a mesma posição que os demais soldados da guarda. Sua postura estava diferente, seu olhar estava diferente e principalmente, sua relação com o primeiro ministro parecia muito diferente.

Assistiu ao julgamento inteiro ao lado da víbora, boquejando e encarando-o, com grande desdém. Até depôs contra ele! "É verdade, Excelência, a sirene foi criada como irmã dele e ele jamais estaria disposto a entregá-la, nem mesmo pelo bem de Urgand, a nação ascendente e gloriosa, que tão bondosamente o acolheu".

Quando se lembrava daquelas palavras, sentia vontade de vomitar... não, queria cuspi-las de volta na cara de Yorgen, só por tê-los colocado a todos naquela situação.

Onde estariam agora, se não fosse por Yorgen? Será se não estariam todos juntos, vivendo em paz, em algum lugar bem longe? A própria Pishca mal era lembrada pelo reino, a não ser quando se tratava das cotas de pesca. Se aquele verme traiçoeiro não os tivesse entregado, quem sabe não estaria até hoje servindo à coroa como oficial?

— Eu fiz o que pude para convencer os paladinos de que você é um bom soldado, mas... — o capitão não conseguiu concluir, porque Tristan o interrompeu.

A Guerra dos Sirenes (Suspensa)Onde histórias criam vida. Descubra agora