Meu irmão

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Itadori acordou uma semana depois do ocorrido. Sua cabeça doía, seus ouvidos zuniam e sua visão estava embaçada, o gosto de vômito no âmago de sua garganta. O corpo estava todo dolorido, o estômago doía como se não comesse há anos. Escutava diversas vozes não só na sua cabeça, mas no ambiente em que estava, não conseguia distinguir quem era quem ou o que era o que.

Soltou um resmungo ao tentar se virar na cama de hospital, chamando a atenção de quem quer que estivesse no quarto completamente para si, estavam preocupados com ele. Sentiu mãos quentes tocando sua pele fria, tomando cuidado para não apertar seus machucados. Aquelas mãos gentis...reconheceria mesmo em um milhão de anos. Mãos que o cuidaram quando tudo parecia desmoronar, as mãos de seu irmão.

- S-Soso?...- resmungou enquanto tentava acostumar seus olhos com a luz clara do quarto, ao perceber que o garoto tinha dificuldades em enxergar, apenas pediu para que alguém fechasse as janelas.

- Sou eu Yuu...eu 'to aqui. 'Tá tudo bem. - disse em sua voz calma e rouca habitual, que Itadori não escutava haviam anos. O rosado deixou um soluço agudo sair de sua garganta e abriu seus braços, esperando um abraço do irmão, que prontamente o atendeu.

Choso acariciava os cabelos do mais novo igual fazia quando eram crianças, tentando acalmá- -lo enquanto ele se martirizava e se culpava pela morte de um dos seus professores. O mais velho apenas pronunciava palavras de conforto, deixou que o outro se acomodasse em seu colo e o deixou chorar igual à uma criancinha.

Depois de um tempo o rosado caiu novamente no sono, abraçado ao corpo forte do moreno, que não soltaria seu garoto muito cedo. Os outros presentes no quarto (Gojo, Nobara e Megumi ) apenas assistiram à cena com os olhos cheios de lágrimas, sem entender quem era aquele moreno cujo Itadori era tão apegado.

- Vocês poderiam, por favor, se retirar do quarto? - ouviram uma nova voz vinda da porta do quarto, todos os presentes olharam para ver quem estava lá, encontrando um médico de cabelos longos, olhos bicolores e sardas pelo rosto. Choso o conhecia, como esquecer um amor de infância?

- Hajime... - o moreno resmungou, olhando nos olhos do garoto e deixando um sorriso sem jeito escapar de seus lábios. O médico porém não esboçou nenhuma reação, e apenas repetiu suas palavras anteriores. Com muita dificuldade, Choso se desvencilhou dos braços do irmão e se levantou, saindo do quarto juntamente com os outros.

- Gojo é o responsável legal pelo garoto, certo? - o ruivo perguntou, vendo o citado acenar com a cabeça. - Ótimo, eu preciso de uma autorização para que o paciente possa tomar alguns remédios mais fortes. - disse enquanto estendia um papel e uma caneta pra o professor.

- Que tipo de remédios? - perguntou a única garota do pequeno grupinho, chamando a atenção de todos para si. Ela estava preocupada, não queria ver Itadori chapado por conta de remédios. Megumi notou a amiga tremendo e entrelaçou suas mãos com as dela, passando assim um pouco de conforto.

- Não precisam se preocupar, não são remédios tarja preta, e não vão alterar o comportamento dele, mas como ele é menor de idade eu preciso da autorização do adulto responsável... - começou com um longo suspiro, deixando os colegas do rosado tensos. - Itadori tem depressão, isso já é algo óbvio, e todos os exames que nosso psiquiatra fez com ele deixou bastante claro que não é algo que ele vai conseguir superar com apenas sessões de terapia. São ansiolíticos que ele vai precisar tomar por dia, vai ajudar com as questões de troca de humor, as crises e essas coisas.

Os dois amigos se entreolharam aliviados, o professor assinou a autorização e Choso se sentou em um banco próximo para regular sua respiração. Queria uma vida boa para seu irmão, isso não podia estar acontecendo, mais importante, por que não estava aqui quando ele precisou?? Choso se encolheu no banco e abraçou suas pernas, deixando um choro inaudível e tremores fracos tomarem conta de seu corpo.

Por outro lado, Itadori já havia acordado novamente e estava sentado em sua cama, somente olhando para o tempo. Não aguentava mais olhar aquele quarto, não queria mais estar ali dentro. Os últimos acontecimentos passavam como flashes em sua mente, tudo muito rápido, sua cabeça estava uma bagunça. Sukuna havia feito alguma coisa consigo, ele sabia disso, mas não conseguia descobrir o que.

- Eu odeio esse quarto de hospital.

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