Conflitos do passado

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Não sabia há quanto tempo estava sentado naquele banco enquanto chorava, só sabia que o professor e os colegas de Yuu haviam voltado para o seu quarto. Senti alguém se sentar ao meu lado e passar suas mãos grandes por minhas costas em um carinho reconfortante, levantei o rosto minimamente e pude ver Hajime me olhando. Não pude evitar, ele deve ter percebido o rubor em minhas bochechas, afinal, eu era branco igual a um papel.

Me sentei corretamente e passei as costas da mão pelos meus olhos, limpando os últimos resquícios do choro anterior. O ruivo ao meu lado deixou um suspiro escapar de seus lábios e voltou a olhar para mim, o carinho em minhas costas sendo constante.

- Cho...podemos conversar um pouco mais tarde se quiser...está livre à noite? - perguntou, sério como sempre. Eu não tinha voz para responder então apenas acenei com a cabeça, concordando. - Ótimo. Nos vemos então, preciso voltar ao trabalho.

Ele deixou um leve carinho em minha nuca e se levantou, ajeitando o jaleco no corpo e entrando em uma das salas por ali. Suspirei nostálgico e me levantei, indo em direção ao quarto do meu irmão. Entrei sem bater na porta, encontrando o professor de cabelos brancos e a garota rindo sentados nas poltronas enquanto Yuu estava no colo do outro rapaz, ambos com o rosto completamente rosado, o que não mudou muito assim que me viram entrar.

- Aliás, Yuuji-chan nunca disse que tinha um irmão mais velho. - apontou o de cabelos brancos enquanto desviava seu olhar para mim.

- Pois é Itadori-kun! Por que nunca contou?? - perguntou a garota com um tom de incredulidade, fazendo o de cabelos negros ao lado de Yuuji suspirar.

- Ahn...não sei? - disse o rosado, mais perguntando do que afirmando, retirando risadas de todos na sala, inclusive minhas. Era bom ver que apesar de tudo ele continuava sendo o mesmo de sempre. - Ah! Nii-chan deixa eu apresentar meus amigos!! - exclamou animado. - Aquela dali é a Kugisaki! Aquele é o Gojo-sensei, e esse daqui é o...-

- Fushiguro, certo? - perguntei, cortando a fala dele e deixando os dois na cama com as bochechas avermelhadas. - Meu irmão sempre me falava de você nas cartas... - disse, deixando um clima de escola fundamental no quarto ao passo que Gojo e a garota soltavam sons maliciosos em direção aos outros dois.

- N-não precisava ter dito isso Nii-chan! - resmungou Yuuji enquanto escondia o rosto na camiseta de Fushiguro, que estava igualmente envergonhado.

- Fofos. - resmunguei e me sentei na ponta da cama, olhando para os garotos com certa ternura. Eles me lembravam da minha adolescência, um bobo apaixonado que fui. - Precisamos conversar sobre coisas sérias agora Yuu...

O professor pigarreou e se levantou do lugar onde estava sentado, chegando perto de onde eu e os garotos estávamos. Ele deixou um leve carinho nos cabelos rosados de Yuuji e sorriu, suspirando com pesar.

- Eu não queria falar sobre isso minha criança...mas preciso. Você deve saber que...ahn... o Sukuna causou um estrago na escola Jujutsu enquanto eu não estava lá e...- ele retirou seus óculos e limpou as lágrimas que trasbordavam de seus olhos, olhou para cima e continuou, com a voz embargada - Nanamin... acabou morrendo em combate e...você não pode mais voltar pra escola.

O sorriso que havia no rosto dos adolescentes sumiram em um piscar de olhos. A garota se levantou em um lampejo de fúria, protestando contra as palavras de seu professor com todas as forças que tinha. Itadori parecia...chocado. Não triste, e sim chocado, era como se ele esperasse algo assim. Fushiguro também, ele me parece um bom aluno, provavelmente já sabia disso. O de cabelos esbranquiçados saiu do quarto, levando a garota junto com ele, provável que para acalmá-la. Me levantei e deixei um beijo na testa do rosado antes e saí do quarto, dizendo que tudo iria ficar bem, ele não precisava mais se preocupar.

Havíamos passado bastante tempo no quarto, o dia já sumia e dava lugar a noite e as estrelas que surgiam. O expediente de Hajime já deveria estar no fim, então me coloquei a esperar em frente ao hospital.

Minhas mãos suavam, meu corpo todo tremia e meu rosto estava febril. A esperança de resolver um conflito do passado me deixava ansioso, ver Hajime novamente me deixava ansioso. Tentava controlar minha respiração e os tremeliques do meu corpo quando senti suas mãos em meus ombros, os massageando de leve.

- Sinto por lhe fazer esperar Choso...podemos ir agora se quiser. - ofereceu, estendendo uma de suas mãos para mim e me mostrando o mesmo sorriso galanteador que me conquistou no passado. Senti meu rosto corar mais ainda e afirmei com a cabeça, levando minha mão até a sua.

Assim, de mãos dadas e com sorrisos dançando nos lábios, saímos em direção à qualquer lugar onde pudéssemos ficar juntos.

A noite era uma criança, é o que todos diziam certo?

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