Oitavo capítulo - Lucro

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— Ele está morto...

— Eu sei checar o pulso.

Era quente... Um corpo tão desamparado apoiado por mãos acolhedoras. Tudo parou naquele instante, as gotas que caíam sobre a face, tornando a visão embaçada, pararam de cair. O céu anteriormente hostil, entupido por nuvens escuras abriu passagem para os raios do sol do entardecer. O cenário mudou quando o corpo foi movido dali.

A correnteza era impiedosa. O frio das águas o cortava como balas, as feridas abertas de seu corpo, desconhecidas por ele, ardiam. Quando se deu conta de que estava submerso, Levi não pôde fechar a boca ou prender a respiração, evitando que água entrasse em seu pulmão. Ele era arrastado desajeitadamente por alguém, o aperto em volta dos seus ombros era firme, como se fosse algum tipo de carga valiosa. Sua consciência não registrava detalhes, apenas a fadiga enorme de não poder se mover e o pedido de socorro que sua alma gritava.

Ele não entendeu o que estava acontecendo, mas concordou que o inferno seria melhor. E quando tudo se apagou novamente, o frio assustador retornou. Levi não sentiu medo, porém. Ele não pode sentir nada, senão uma sequência de pressões acima do peito.

— Levi! — era complicado identificar aquela voz, parecia tão distante e apagada, como se fosse algo vindo do fundo de sua mente.

As pressões prosseguiram, e quando cessaram... O quente retornou. O calor invadiu sua boca e alma, sensação revitalizadora se não abrisse os olhos em desespero colocando uma quantidade absurda de água para fora.

— Levi! Acorde! — Mesmo com a imagem borrada, ele identificou o sujeito, incluindo as lágrimas dele. — Por favor, acorde!! — O que fora um pedido mudo se tornou um grito de súplica.

Ele queria dizer que já estava acordado, ele tentava dizer, mas não conseguia. O clamor lamurioso permanecia e Levi não compreendia. Era típico de pesadelo, onde você tenta fugir da morte, mas não consegue sair do lugar.

— Levi, por favor... Reaja!

Espera... Pesadelo? Era isso.

— Acorde!!

— Levi! Acorde! — berrou Hange em desespero, enquanto retirava os restos mortais da cabana de cima do soldado de olhos semicerrados, cujos dentes rangiam.

Levi já estava acordado quando a casa desmoronou, todavia, acordou tarde demais, diferente do habitual, seu sono estava pesado como nunca. Seus olhos buscavam o ajuste da visão, quando as duas Hanges se tornaram uma, o soldado notou que havia algo além dela, uma silhueta ainda turva, que foi o suficiente para assombrá-lo. Então imagine só, quando uma mão surgiu apanhando a mulher para longe de si.

— Hange! Saia daqui! — conseguiu gritar, tarde demais. Confuso sobre o que viu e sobre ser outro pesadelo.

A mão que pegou a tenente, cobriu todo o seu corpo, apertando-o. Um último grito abafado foi ouvido de Hange, e isso congelou o sangue de Levi, tornando-o um ser imóvel. Até mesmo a garganta do homem ficou travada, impedindo que sequer ar passasse. O choque de que aquilo não era um sonho, foi quando sentiu algo lamber seu braço. Era sangue, o sangue da ferida. Empurrando os escombros de si, ele se lembrou que o DMT já não estava consigo...

XX

A chuva caia fraca e mesmo dentro da cabana aquecida, era possível escutar os pingos beijando os objetos do lado de fora, formando uma agradável melodia. Sentados em frente à luz bruxuleante da lareira, Hange e Levi planejavam sua viagem de volta para o QG. Ainda era noite e ambos já haviam se alimentado e vestido suas novas roupas.

— Então, amanhã caminharemos na direção em que o sol se põe, atravessando o canal fluvial estaremos próximos ao distrito de Shiganshina. A caminhada a pé pode ser feita em cerca de nove horas. Mas claro... É um chute alto. — Tanto Hange, quanto Levi estavam ansiosos com o retorno às muralhas. A sorte que tiveram de passar dias em território titã, com recursos escassos, voltando seguros, era tremenda.

Um ao outro - LevihanOnde histórias criam vida. Descubra agora