Terceiro capítulo - Vamos parar

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O farfalhar dos papéis roçando uns nos outros soava como trilha sonora para um clima tão enfadonho

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O farfalhar dos papéis roçando uns nos outros soava como trilha sonora para um clima tão enfadonho. Aquela quantidade absurda de velas pelo escritório, não fora o suficiente para ofuscar a escuridão presente na mente do mais novo comandante da tropa de exploração. O local estava tão caótico, quanto si. Pilhas de livros pelo chão, papéis amontoados com descuido sobre mesa, além de uma lixeira transbordando tentativas falhas de um relatório decente.

A luz bruxuleante das velas tornava o rosto de Erwin ainda mais sombrio, destacando e obscurecendo suas linhas de expressão que expunham seu estado de frustração. Ele tentava ler o que escrevia, mas estava simplesmente impossível se concentrar. Em sua cabeça, era como se tudo fosse apenas um sonho, um infeliz sonho. Nem a perda de amigos tão próximos havia o impactado como a dos dois soldados. Neste ponto, Erwin avaliou que a relação com eles era mais do que superior e subordinado.

Hange o visitava com frequência em seu antigo escritório, ela se acomodava próxima a ele, debruçando-se sobre sua mesa enquanto reclamava de suas papeladas ou contava alguma teoria sobre os titãs. Erwin só queria mandá-la sair, para ter um maior foco em suas obrigações, mas Hange nunca dava trégua e no final, sempre retirava teorias e reclamações do próprio superior, algo que alimentou o vínculo deles, significativamente. No entanto, quando se sentia exausto com suas infinitas conversas, ele pedia alguma tarefa, como limpar sua estante, organizar livros e papéis, a segunda tenente logo se despedia alegando que havia esquecido de concluir alguma pesquisa em seu laboratório, ao menos a estratégia sempre funcionou muito bem.

Com Levi era um pouco diferente, ele era, sem dúvidas, mais silencioso. O soldado costumava visitar Erwin com duas canecas de chá em suas mãos, dirigindo algum comentário ofensivo ao comandante como forma de saudação. E então, ele se sentava silenciosamente em frente ao seu superior, atual comandante, observando-o trabalhar. Poucas palavras eram trocadas por ambos, apenas o necessário, como Levi costumava pensar. Erwin não precisava ter longas conversas com o soldado para ter a certeza de que Levi era alguém que poderia sempre confiar, e mesmo em silêncio a presença dele era benéfica.

Erwin sentia um gelo crescendo dentro de seu coração, isso trazia alguns tremores ao corpo, e até um certo frio. A vida do comandante costumava ser sempre baseada em mudanças, mas esta última lhe deixou deslocado. Erwin estava num cargo novo, com mais responsabilidades, e em breve teria que recrutar soldados. Seria estranho não ter por perto a hiperatividade da segunda tenente, ou a quietude e palavras sujas de seu soldado, outrora incrivelmente promissor.

Amassando mais uma folha e lançando-a ao cesto de lixo, algumas bolinhas se despedem dele, tornando o chão ainda mais poluído. Erwin suspirou, ajeitando suas costas no encosto de couro da cadeira. Ele precisava continuar, em breve teria que partir para a capital, apresentando o relatório da missão pessoalmente, o que era um saco.

Quando estava prestes a retornar com seu trabalho, alguém invade seu espaço, abrindo a porta com violência. Erwin já se alertou ao estado em que o invasor se encontrava, era Nanaba, estava ofegante, com a mão ainda presa a maçaneta da porta. Em seu rosto havia espanto, pela maneira em que seus olhos estavam arregalados, bem como seus lábios entreabertos compactuando para que sua respiração fosse controlada, em assopros longos, após a inspirações nasais profundas. Naquele momento, o cômodo se tornou ainda mais nebuloso. O impacto em que a porta fora aberta contribuiu para que uma brisa gélida entrasse no escritório, assobiando como uma ventania e apagando chamas de algumas das velas.

Um ao outro - LevihanOnde histórias criam vida. Descubra agora