CAPÍTULO 6

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“O novo sempre destrona o velho, não existe zona de conforto neste nosso mundo”.

Luciano Leggio

   À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano

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   À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano. Um pouco mais atrás estavam seus irmãos como testemunhas e chicoteadores, Hades estava fazendo aquilo pela segunda vez na sua vida.

   — Aqui está, Hades D'Angelo, sucessor e primogênito de Ares D'Angelo, assim como a lei da famiglia diz, hoje estou seguindo o mandamento não citado nos 10 mandamentos; de passar o cargo de Don da Cosa Nostra a Hades D'Angelo. — A palma de mão é levantada para cima pelo Pagano, a faca furou a ponta do seu dedo e o italiano nem sentiu o corte.

   No meio do ritual, Hades viu todos os seus irmãos — Menos Apolo — olhando para ele, anos atrás ele pegou seus irmãos mais novos e colocou cada um em um país, longe da Itália, longe de seu pai e consequentemente longe da sua mãe. O sangue escorreu e pingou em cima da imagem religiosa do colar da santa.

   Depois de poucas gotas a santa é passada para a mão de Hades, e banhada a álcool ela é incendiada, Pagano fez Hades fechar sua mão e o calor das chamas queimou a palma sensível porém grossa. Hades não resmungou ou murmurou de dor. Ficou quieto, inabalável, acessível porém inexpressivo.

   — Que minha carne queime como esta santa se eu falhar em manter meu juramento diante a famiglia Cosa Nostra — O ritual é selado assim que a última chama se apaga entre a mão de Hades.

   — Hades já foi um homem de honra, e como ainda não conquistou a confiança dos irmãos cumprindo sua vendetta para honrar seu pai, foi declarado que o novo Don deve receber duas chibatadas de cada irmão do seu sangue.

   Nenhuma interrupção ou objeção.

   O italiano lentamente percorreu a mão queimada, já vermelha e com bolhas. Ele escorregou a palma na blusa social branca, empurrou para o lado os dois suspensório e desabotoou a camisa.

   — Prefere fazer isso de joelhos ou em pé? — Hermes perguntou olhando-o.

   Hades simplesmente olhou em silêncio e não moveu um músculo.

   — A primeira chibatada é de seu irmão Pan — O Don não tirou os olhos do ponto fixo e se concentrou, as costas cheias de cicatriz eram de um passado não muito distante já acostumado com tal punição.

   A primeira chibatada soou com o estalo da pele sendo atingida e queimada, Hades sentiu a fileira de sangue sair da ferida aberta e escorrer pelas suas costas já grossas de cicatrizes. A segunda chegou a atingir sua clavícula e como um rabo de uma cobra o coro preto desapareceu rápido do seu ombro.

   — Perseu.

   Demorou alguns segundos, mas Hades não foi surpreendido quando foi chicoteado nas costelas de uma forma horizontal, seu irmão estava mostrando sua fraqueza escolhendo um ângulo diferente para não atingir novamente as feridas já abertas. Se Hades tinha percebido isso era porque Perseu queria que ele soubesse disso, estava poupando-o. Ele não olhou para Hermes ou Pagano e analisou se os dois perceberam o mesmo, Hades silenciosamente pediu que não.

   Novamente a chicotada atingiu o outro lado e um x com uma linha no meio estava desenhada em suas costas.

   — Pegue leve Hefesto, amanhã nosso irmão irá se casar — Pan disse para que todos ouvissem.

   A surpresa do casamento arranjado tinha tomado todos naquela manhã. Seu pai poderia estar um passo à sua frente estando morto, mas Hades estava dez a frente dos seus tios e capos.

   Hefesto foi o mais rápido dos irmãos, as duas chicotadas vieram seguidas porém não menos doídas. Hades ficou em pé, não mexeu um músculo quando acabou. Como se nada tivesse acontecido ele recolocou sua blusa e suspensório como se suas costas não tivesse sido afetada.

   Os rituais dos seus irmãos reconhecendo-os novamente como homens de honra foi rápido. Quando Hades saiu do lugar secreto no meio da madrugada com seus irmãos ele estalou seu pescoço e entrou no carro.

*****

   Ao chegar na mansão D'Angelo o italiano encontrou sua mãe sentada no sofá batendo os pés contra o chão. Assim que seus olhos alcançaram Hades ela corre para ele pegando na sua mão e fazendo-o sentar para olhar suas costas.

   — Vou pegar o kit de costura. — Hefesto disse saindo da sala. Sua mãe com toda delicadeza tirou os suspensórios dos seus ombros e rasgou a camisa já grudada na pele por causa do sangue seco.

   — Meu pobre filho. — O sussurro da sua mãe foi ouvido pelos três filhos na sala.

   — Tome. Vai precisar.

   Perseu lhe entregou uma garrafa de whisky e Hades segurou já engolindo o líquido alcoólico.

   Hades olhou para seu irmão Pan, seu distanciamento era a resposta de que ele estava se sentindo culpado pelo chicoteamento.

   — Não leve essa culpa com você Pan — O primogênito finalmente abriu a boca. Ele não sentia muita dor desde sua adolescência, os seus tecidos musculares mesmo sendo resistentes estavam quase mortos.

   O seu irmão com venda nos olhos virou a cabeça em sua direção e comprimiu os lábios em uma linha reta.

   — Estarei aqui amanhã para o casamento — Sem o auxílio de bengala para guiá-lo, Pan saiu da casa como se realmente enxergasse.

   Hefesto tinha voltado com as agulhas e em dez minutos tinha ido para o hospital ficar de guarda no quarto de Ártemis.

   Sua mãe ficou em silêncio, concentrada em remendar a sua pele. Perseu e Hades compartilham de um olhar como se a cena que os dois presenciaram foi um gatilho para suas infâncias de merda. Foi mais de dez minutos depois que todas as suas costas estavam costuradas e por pura insistência sua mãe colocou um remédio por cima para a cicatrização ser mais rápida.

   — Durma de barriga para o colchão — Com um beijo em sua cabeça, Antonella saiu da sala em silêncio depois de beijar a bochecha de Perseu.

   Nenhum dos dois falou nada, Hades olhou para as luvas de couro de Perseu e refletiu sobre o ocorrido daquele trágico dia.

   Com o copo na mão, seu irmão analisou como seus dedos cobertos seguravam o objeto de vidro.

   — Preciso de um entretenimento — A voz de Perseu perversa e cheia de veneno soou para Hades.

   — Irei te colocar no posto de cobrar nossos amigos — Isso era quase uma carta branca para Perseu matar quem ele quisesse.

   — Quando? — Hades estava decidindo se aquela fome de matar e machucar pessoas nasceram com ele ou evoluiu com o passar da sua existência.

   — Poucos dias.

   Mesmo não gostando da resposta, Perseu acenou com a cabeça. Ele era um tipo de líder passivo agressivo, ele entendia que Hades estava agora sendo seu Don e não irmão, e como tal, deveria aceitar a palavra de Hades como se fosse uma profecia, ninguém deve questionar um Don, principalmente o da Cosa Nostra.

   Hades se levantou e suas costas esticaram quando alongou seu pescoço e ombros.

   — Tenho que dormir, amanhã me tornarei marido.

   — De uma russa.

   As mãos no bolso e sem camisa tornaram um Hades pensativo no meio da sala.

   — De uma russa filha do Don da Bratva, e a primogênita. — Hades esperou Perseu segui-lo para o andar de cima, porém o seu irmão ficou sentado na poltrona à sua frente olhando a mão coberta pela luva e o copo de Whisky pela metade.

   Decidindo que era melhor não chamá-lo ele subiu para o seu quarto e esperou amanhecer.

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HADES - O Novo Don - Irmãos D'Angelo - Livro 1 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora