17 - Eda

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À tarde, jogamos jogos de tabuleiro no sofá.

— Não sou boa em perder — digo. — Não como você é, pelo menos.

O homem em minha frente semicerra os olhos, insatisfeito.

Ele move seu bispo, uma péssima decisão. Sorrio. Serkan é horrível no xadrez. Devo dizer que, apesar disso, o maldito é excelente em todos os outros jogos que disputamos. Ele me fez perder em Monopoly, Scrabble e Gamão. Eu fali em Banco Imobiliário. Apelei nesse último, porque o desgraçado pegou uma carta de sorte muito infeliz... para mim. Com ela, Serkan pôde exigir que eu vendesse para ele uma propriedade que já era minha. O patife tocou em um tópico bem sensível nesse movimento.

Ele teve a coragem de dizer que gostaria de poder fazer isso na vida real.

Fiquei meia hora o ignorando. E é possível que Serkan esteja perdendo feio agora para me deixar contente, mas não gosto de pensar muito nessa possibilidade.

— Você fica péssima quando ganha — ele comenta, ácido — e quando perde... também.

Estreito os olhos.

Nas vezes que perdi — vergonhosamente, não foram poucas — aceitei a derrota com classe. Só no Banco imobiliário que as coisas ficaram difíceis.

Mas isso foi culpa dele.

— Ah, nem inventa! Você só ganha porque me deixa com raiva e eu me desconcentro fácil! — retruco, guinchando. — E tirar a camisa naquela hora? Foi baixo até mesmo para você, senhor!

Serkan sorri.

— Nesses jogos, vale usar tudo. — Ele tira um fiapo invisível de sua calça, atraindo meu olhar para lá. — E estava quente.

Sem vergonha mentiroso!

— Vale tudo mesmo? — Brinco com meu peão. — Se você quer adicionar distrações ao jogo, vamos fazer isso direito.

O patife me encara, seus olhos brilhando.

Ele quer rir de mim:

— Por favor, amor. Diga como vamos fazer isso direito.

Posso ficar um pouquinho animada demais quando faço listas com regras, muitas vezes descabidas.

E pode ser que Serkan já saiba identificar isso, porque temos uma lista — ligeiramente inútil — sobre assistir a nossas novelas brasileiras. Mas, por tudo o que é mais sagrado, eu precisava inventar uma penalidade para aplicar quando ele perguntasse quantos minutos faltam para o episódio acabar. Serkan nunca resiste.

— A cada vez que você derrubar uma das minhas peças no xadrez...

— Você tira uma peça de roupa? Gosto disso.

Reviro os olhos e concluo:

— Eu tenho que responder uma de suas perguntas. E vice-versa.

Ele observa o tabuleiro.

— Qualquer pergunta? — Seu tom é desconfiado.

— Qualquer uma — respondo, sorrindo.

O jogo ganha uma atmosfera diferente. Tenho muito o que perguntar para ele, mas não achei que Serkan se interessaria em saber algo de mim.

Os próximos movimentos dele são mais calculados. Primorosos, até.

Mesmo assim, pego seu bispo.

— Por que você quis tanto cuidar de mim? — disparo de imediato.

Serkan ergue as sobrancelhas. Sorri, balançando a cabeça.

Sem Honra | EdserOnde histórias criam vida. Descubra agora