13 - Serkan

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Era manhã e estava chovendo.

— Você está grávida... — repeti as palavras, confuso.

Um copo de whisky pendia em minha mão.

O rosto de Selin, que ganhara um rubor fascinante nos últimos meses, estava pálido. Ela pressionou a toalha úmida em sua boca e levantou os olhos para mim. Um bebê, a palavrinha ainda ricocheteia em minha mente agora, do mesmo jeito que fez há anos atrás. Minha esposa... esperando um bebê. Mas seu rosto estava livre de qualquer emoção ou sentimento, como se os últimos minutos fossem um sonho estranho meu. Irreal. Por um momento, tive certeza que escutei errado.

Até suas palavras hesitantes:

— Estou... grávida.

Não estou sonhando, não dessa vez.

Revivo a memória, enquanto olho para as garrafas em minha adega, porque quero me sentir mal.

Ainda sinto o perfume de Eda no ar, infiltrando-se em meus pulmões como um remédio prazeroso.

Seu gosto ainda está em minha boca.

Não sei por que me sinto brevemente culpado por isso, afinal, era manhã e estava chovendo quando minha querida esposa partiu meu coração anos atrás. E já é quase madrugada quando saio do pequeno cômodo, reenterrando sentimentos desnecessários.


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— Você quer que eu faça o quê? — A gerente do Cosmos, Fifi, me encara em profunda descrença.

Continuo organizando as cadeiras do bar, agora fechado.

— Quero que tente arrumar meu computador. Meu celular também — repito, conciso. — Se não tiver conserto, compre novos.

Leyla, a namorada da mulher responsável por quase tudo o que eu delego no bar, ri suavemente atrás de mim enquanto revira sua bolsa.

— Pode dizer exatamente como suas coisas se "afogaram", Serkan? — ela provoca, fazendo aspas com os dedos. — Só uma vez!

Esfrego o rosto, cansado.

Sei que a fofoca sobre o que aconteceu no bar se espalhou entre os meus funcionários. Normalmente, nós sempre conversamos depois de fechar o estabelecimento e agora eles querem explicações para o que houve mais cedo. Não posso ignorá-los. Essa equipe se tornou uma família querida e constante durante os últimos anos, algo que jamais diria para eles. Não somos próximos a ponto de demonstrar sentimentalismo, mas tenho uma grande consideração por cada um.

Abri o Cosmos quando Selin morreu. Poderia ser um escape para o luto ou algo assim, mas foi só mais um negócio. Só por dinheiro. Aproveitei uma boa oportunidade, comprei o lugar, solucionei a questão da logística e contratei as pessoas necessárias. A maioria da equipe que começou lá atrás está comigo até hoje. Tenho certo carinho por todos eles, mesmo que sejam irritantes e que interfiram em meus assuntos.

Sem Honra | EdserOnde histórias criam vida. Descubra agora