31 - Serkan

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Espanto. Meu corpo quase se retrai de tanto espanto.

Estaciono em frente a minha casa e a encaro com certo receio.

Ela foi invadida por um tsunami de personagens da Disney. E isso só pode significar que estou muito atrasado para o chá de bebê.

Engulo o desconforto ao desligar o motor e abrir a porta do carro apressadamente.

Caminho até o lugar que antes era minha casa.

- Tio! TIO!!! - minha sobrinha exclama, jogando-se em mim assim que me vê chegando na varanda. - Posso ficar com um dos seus gatinhos?

Pego-a nos braços, fingindo que o impacto de seu corpo foi muito forte - isso a faz rir, deliciada.

Atrás dela, Engin, Piril e minha mãe caminham até nós.

Eles devem ter encontrado os gatinhos que retirei do telhado de Eda tempos atrás - os animais ainda estão no meu celeiro.

Reparo que meu cunhado está sujo da cabeça aos pés, o que pode ter relação com os filhotes. Só posso imaginar o que aconteceu.

Dona Aydan e Piril não parecem preocupadas com a situação dele. As duas estão tranquilas... Não devo estar tão atrasado assim, penso. Procuro Eda por perto, mas não a vejo.

Na verdade, a equipe de decoração ainda está montando a festa.

Eles tomam conta do lugar, espalhando enfeites e outras coisas infantis no pátio externo em frente à casa. Meus tios estão ajudando enquanto meus primos dão palpites inúteis. Controlo o impulso de olhar as horas... onde Eda está? Minha noiva já deveria ter chegado. Hm... chamá-la assim é prazeroso.

- Esses gatos são de Eda, você vai ter que pedir para ela - respondo Elif, que abre um grande sorriso ao replicar:

- Ela me dá tudo o que eu peço!

Quero perguntar qual é a sensação disso, mas me contenho.

- Você sabe que vai ter que pedir para a sua mãe, não é? - Cutuco-a, suprimindo o riso. Elif fecha a cara ao pensar nisso, bufando em seguida.

Aperto a garotinha em meus braços.

Ela cresceu tanto em pouquíssimos meses. Já fala sem tropeçar nas palavras e dá para ver que está se tornando tão diabólica quanto a minha irmã. Fico fascinado, porque sinto que foi apenas alguns dias atrás que a peguei no colo pela primeira vez.

- Eles crescem rápido. - É a primeira coisa que minha mãe diz ao se colocar na minha frente. - Quando tiver filhos, o tempo passará voando mais ainda.

Levanto os olhos para ela, arqueando uma sobrancelha.

Não pretendo ser pai, mas não é isso o que me chama atenção em seu comentário:

- Ainda é assustador como você sabe exatamente o que estou pensando - digo surpreso.

- Sempre foi fácil. Nós somos muito parecidos. - Ela dá de ombros como se isso explicasse tudo.

Aperto os lábios, achando frustrante admitir que é verdade: somos semelhantes.

Piril puxou meu pai: extrovertida, animada e um espírito livre disposto a viver todas as suas paixões. Herdei a personalidade da minha mãe. Nós dois somos pé no chão, um pouco rudes e fechados. Não é só nisso que nos assemelhamos - Aydan se apaixonou e casou com um traidor, e eu segui o mesmo padrão com Selin.

- Papai, eles estão me chamando de velha? - Elif pergunta para Engin, soando aflita. Com apenas isso, a mocinha corta meus pensamentos e me puxa para o presente.

Sem Honra | EdserOnde histórias criam vida. Descubra agora