O CHALÉ | CAPITULO 4: A Floresta

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O vento gelado chegou aos seus rostos antes mesmo que pudessem compreender o que estava acontecendo. As enormes e centenárias árvores da floresta os cercam bloqueando os raios do sol da manhã que ia ganhando força no céu. Ricardo e os amigos pareciam não acreditar que os dois grupos tinham tomado caminhos diferentes e de alguma forma tinham acabado na mesma clareira na floresta. O outro grupo tinha chegado antes de já tinham feito o reconhecimento do local. Além da grande clareira, após as árvores mais próximas, havia uma construção quase em ruinas e mais para frente uma pequena capela com enormes esculturas de arcanjos na entrada. O plano inicial era tentar se localizar atrás dos GPS dos smartphones e em seguida marcar o local para não perder. E então eles iriam retornar com Ricardo e os outros amigos para fazerem a busca juntos, mas com a surpresa da chegada deles por outro caminho, eles puderam ir direto a parte do plano em que eles exploravam a capela e seus arredores. Bastou olhar de longe para Henry perceber que não se tratava de uma simples capela, mas sim de um mausoléu, mas a duvida era quem construiria uma coisa assim em meio à mata, com acesso tão difícil. E ainda quem construiria tuneis tão grandes até ali. Depois de pensarem todos continuavam com muitas duvidas e apenas duas certezas. Tudo estava intimamente ligado aquele chalé e ao misterioso Linderberg e que sinceramente assim que encontrasse a Emily eles não se importariam de sair o mais rápido possível daquele lugar, tendo ou não entendido o que estava acontecendo.

Desta vez decidiram que não se separariam por nada, havia muitos mistérios por ali, e não era prudente querer descobrir sozinho o que acontecia por ali. A porta de entrada do lugar estava trancada, mas os garotos não tiveram dificuldade de arrombar a porta. Lá dentro havia uma mesa de pedra, provavelmente usada nos velórios, e no centro o enorme receptáculo dos caixões. Tudo em um branco mármore que refletia a luz das lanternas, fazendo com que o ambiente ficasse muito iluminado. Eles eram muitos então em poucos minutos conseguiram analisar todo o mausoléu. Nenhum sinal que a Emily em algum momento estivera por ali eles resolveram procurar pelos arredores e na floresta. Quem quer que tenha levado a garota já devia esperar que os amigos a procurasse, então não havia motivos para fazerem silencio ou agir em surdina. Então divididos novamente em dois grupos eles combinaram de não se afastarem muito e a cada um minuto chamar por Emily. Os chamados serviriam também para medirem a distancia que estavam um dos outros. O grupo liderado por Ricardo chamaria primeiro, dez segundos depois seria a vez do grupo liderado por Jonatas. Eles não sabiam o quão longe estavam do Chalé Linderberg, e nem para onde seguir para o norte os levaria, mas tinham a esperança que fosse em direção a Emily e que se ela reaparecesse no Chalé tivesse o bom senso de permanecer ali e chamar por ajuda deles ou da policia.

Eles andaram durante muito tempo sem ouvir qualquer barulho que não fosse dos gritos dos amigos chamando por Emily. A floresta ia ficando mais densa a cada passo e Jonatas começou a se preocupar que estivessem na verdade se afastando ainda mais da amiga. Algumas partes da mata eram tão fechadas que ele duvidava que mesmo alguém acostumado com aqueles lugares se arriscaria a entrar ainda mais carregando outra pessoa. Sim, porque ele tinha certeza que por vontade própria a amiga não iria com quem quer que fosse sem lutar. Pensar que ela devia estar em algum lugar escondido naquela mata dava calafrios nele, e ver o desespero no olhar de Ricardo cortava seu coração. Ele quase se sentia agradecido por não estarem no mesmo grupo e não precisar ver a cada segundo o olhar do amigo, mesmo sendo um fato que o deixava desconfortável por não apoiar o garoto.

Os relógios de seus smartphones marcavam dez horas e quinze minutos quando Matheus pediu para os amigos pararem em silêncio. Ele tinha ouvido algo mais a frente, imediatamente Jonatas, Alice e Maria Eduarda pararam e ficaram todos ouvindo apenas os barulhos da natureza, até que por alguns segundos viram uma sombra humana correndo entre as árvores mais a frente. Jonatas só teve tempo de gritar para os amigos do outro grupo:

- Pessoa correndo na mata, lado direito, vamos atrás, nos sigam.

E seguido pelos amigos de seu grupo eles saiu correndo. Os amigos que já estavam do lado direito deles se apressaram a olhar entre as arvores procurando por qualquer sinal da tal pessoa, dois minutos depois a sombra passou correndo mais além e os amigos atrás, eles se uniram ao comboio de perseguição. Os galhos se quebravam sob seus pés fazendo pequenos estampidos. O eco na floresta era enorme e os passos deles alguns segundos depois dos da sombra parecia com o som de uma manada de bois rompendo por entre os galhos secos. Dez minutos depois o caminho entre as árvores ficou mais largo e logo se tornou uma trilha, a pessoa que corria a frente deles não pode mais se esconder entre as folhagens e puderam ver que se tratava de um garoto um pouco mais velho que eles, mas com a estatura mediana, com um incrível condicionamento físico, ele corria pela trilha como se nada pudesse cansa-lo, e os garotos atrás dele cansados pelas longas horas de caminhada, mas sem parar motivados pela necessidade de encontrar a amiga. Depois de quase uma hora correndo pela mata a trilha se tornou um caminho largo e então uma estrada de terra margeada por um riacho calmo. Vinte minutos depois chegaram ao pé de uma montanha pouco íngreme e o garoto sumiu da vista deles, o que era quase impossível, ele mantinha apenas uma pequena distancia deles, como se desejasse que eles o seguissem. E então do nada sumiu como que no ar. Eles diminuíram o ritmo e então se permitiram parar, as garotas estavam claramente muito cansadas, e como não tinham mais o que seguir os seus namorados pediram para elas ficarem perto do riacho e se recomporem, enquanto eles iriam atrás de pistas mais a frente. As águas do riacho eram límpidas e fazia quase vinte quatro horas que estavam na missão de busca, sem pararem e sem se hidratarem, então elas mesmo com receios, olhando para a paisagem que as cercavam, decidiram que teriam que beber daquela água, e esperar que a poluição exterior não tivesse chegado até ali. Assim elas tomaram água e se refrescaram no riacho enquanto os namorados e amigos não voltavam da busca. A paisagem era linda, com três montanhas ao fundo e as árvores enormes e frondosas ao longo da estrada de terra. Elas tinham certeza que teriam adorado passar um tempo ali, se a amiga não estivesse desaparecida. Tiffany sugeriu ligar para a policia, mas ao pensarem juntas chegaram à conclusão que a ligação seria considerada um trote já que elas não sabiam como explicar como chegar à estrada afinal tinham andado muito tempo no subsolo e a estrada começavam em um pedaço de mata e terminava em uma montanha.

Os garotos voltaram um pouco depois, e ao contrario das garotas nem mesmo hesitaram em beber a água do riacho antes de qualquer coisa. E após se refrescarem Ricardo disse:

- Demorou mais achamos uma entrada, e parece ser a certa.

- Como vocês tem certeza? - Maria Eduarda perguntou

- O garoto esta lá, a uns vinte metros dentro da montanha.

- Ele está lá parado, como que nos esperando... Imóvel, tentamos falar com ele, mas não respondeu. - Jonatas completou a fala de Caio.

- E vocês vieram para bolarmos um plano?

- Não, viemos buscar vocês... O plano é simples, ele entrou na caverna... E nós vamos entrar também.

O Chalé  [ Concluida]Onde histórias criam vida. Descubra agora