Nada parecia certo, sua mente tentava encontrar combinações conhecidas nos cheiros. Seus olhos estavam vendados e as mãos amarradas nas costas. O ar tinha um cheiro acre que era mais perturbador do que enjoativo. Ela acordará a poucos minutos e não entendia porque estava amarrada e impedida de enxergar, se aquela era uma nova brincadeira dos amigos, eles se arrependeriam de agir de forma tão infantil, ainda mais o seu namorado Ricardo, ele deveria proteger ela deste tipo de brincadeira boba. No entanto nos poucos minutos que estava com dificuldade tentando se manter desperta, ela já tinha percebido que não estava próxima dos amigos. Ali o ar, o cheiro e as sensações que chegavam a ela eram totalmente diferentes do que sentia no chalé. O silêncio era cortado apenas por alguns baixos murmúrios a meia distância dela. Aos poucos a consciência foi voltando mais firmemente trazendo a certeza que algo muito estranho tinha acontecido, sua ultima lembrança antes de acordar naquele lugar era que estava com os amigos a beira da fogueira, mas que resolveu repousar por conta de uma chata dor de cabeça, o namorado a acompanhou e ficou com ela no quarto até que ficar com os olhos abertos se tornou algo extremamente dificultoso, foi quando então ela pediu para ele voltar para junto dos amigos, enquanto ela mergulhava profundamente no mundo dos sonhos. Sem conseguir precisar quanto tempo passou ela tinha certeza que sentirá uma leve picada no pescoço e que tinha acordado para mergulhar novamente em um sonho pesado e cansativo. Mas depois que Ricardo saiu do quarto tudo era apenas um borrão, ela não sabia o quanto era verdade e o quanto sua mente se esforçava para dar sentido aquilo.
Ela resolveu gritar por ajuda dos amigos. Será que eles estavam ali também? Tinham sido capturados? Ela tinha sido capturada? Por quem? Nada fazia sentido primeiro às invasões ao chalé e agora alguém a sequestrava. Aquilo era para serem dias divertidos de verão, mas não estavam sendo nada legais.
Não tinha a menor ideia de onde estava, tinha certeza que se os amigos não estivessem tão encrencados quanto ela, eles a encontraria e tudo ficaria bem. Ela deveria se preparar, tentar se livrar das amarras das mãos e da venda que cobria seu rosto. Já tinha dormido demais, agora era hora de perturbar quem quer que fosse seu algoz. Com algum esforço as mãos ficaram soltas da fina corda que as prendiam, ai foi fácil se ver livre das amarras dos pés e da venda dos olhos. E ela se viu em um cômodo muito alto e vazio, mas não parecia ter mais que quarenta metros quadrados, entrava bastante ar então em algum lugar devia ter uma janela ou exaustor, mesmo que ela não conseguisse identificar. Até então nada mostrava que o seu aprisionamento fosse algo muito pensado ou planejado, ela tinha conseguido de livrar muito facilmente do que a prendia, e claramente as paredes não eram grossas, e ainda tinha o fato de poder sentir a corrente de ar vinda do exterior. Isso fez ela pensar que até ali tudo estava fácil demais, o que a fez pensar no ditado que diz que tudo que parecesse muito fácil, na realidade não é bem assim. Seu primeiro impulso foi tentar abrir a porta que se mostrou intransponível, era um destes modelos corta fogo e o lado que abria era o outro, provavelmente tinha sido instalada ao contrario de proposito. Ela se lembrava bem do funcionamento das portas do mesmo tipo no prédio do escritório do pai, com certeza por ali ela não conseguiria sair, mas ainda poderia encontrar o local de entrada do ar, ela tinha experiência cinematográfica suficiente para saber que pelo menos encontraria um duto de ventilação. Já que até ali aquilo se parecia muito com um filme de péssimo gosto.
Com certeza quem quer que a estivesse vigiando do outro lado da porta já sabia que ela estava acordada e tentando sair depois das batidas que tinha dado na porta, mas aparentemente não se importava com isso, talvez imaginando que uma patricinha como ela não teria capacidade de fugir. Ela provaria o quão errado ele estava, fugiria ali e voltaria com as autoridades para que ninguém mais passasse por algo parecido por ali.
Depois de quase uma hora vasculhando cada canto daquele lugar ela sentiu uma pequena quantidade de ar vindo de trás de um armário e usou toda a força que tinha para arrasta-lo do lugar. Acabou por derruba-lo em um baque forte e sem barulhento sem se importar. A fonte de ar vinda do chão, uma pequena porta escondia a entrada de ar. Seu sequestrador não se preocupou em trancar a porta então ela abriu sem esforço, e se deparou com um cano de plástico do tipo usado em grandes construções para despejar os entulhos do alto direto nas caçambas. Ela teria que se jogar sem saber o que a aguardava no final. E se jogaria assim que entendesse o que estava acontecendo ali. E por que não parecia que estavam tentando impedi-la de sair. Pensou que talvez seu sequestrador achasse que ela preferiria estar ali a estar exposta no mundo exterior. Só havia um modo de saber, ela teria de falar com a pessoa que silenciosamente estava do outro lado da porta. Para isso teria de chamar sua atenção, já tendo notado que nada de mal lhe foi feito fisicamente, ela achou seguro pensar que ele não iria lhe fazer mal agora. Afinal ali pelo quarto tinha muitos suprimentos para ela, de modo que a pessoa não queria que ela morresse de fome ou frio, então bastava saber o que ela queria.
Uma ideia lhe ocorreu e ela procurou os fósforos que sabia que tinha jogado em algum lugar, ela os usaria em conjunto com o papel higiênico e faria a fumaça passasse por baixo da porta, onde tinha um pequeno vão. Quem estivesse do outro lado teria de abrir a porta. E então conversariam!
A assim que ela tocou fogo na pequena quantidade de papel enfiada no vão, e a fumaça começou a subir a porta foi aberta. E um garoto aparentando ter entre dezenove e vinte anos atlético e com os cabelos muito negros e lisos acompanhado de uma garota de uns seis anos de idade e muito parecida com o rapaz estavam do outro lado. Antes que ela falasse qualquer coisa o rapaz disse:
- Fogo? Que criativo! Você tem mais fibra que sua imagem demonstra. Espero que seus amigos sejam iguais... Você pode sair pela porta se quiser e procurar seus amigos. E falando nos seus amigos, eles devem estar pra chegar, meu irmão foi busca-los...
- Busca-los?
O garoto ignorou a pergunta e continuou:
- Eles já devem estar chegando - Ele colocou a cabeça pra dento do quarto - Meu Deus que bagunça você fez em nossa despensa, nós vamos precisar destes suprimentos para o desafio que vamos ter pela frente.
- Desafio? - Emily parecia só conseguir fazer perguntas em palavras únicas.
- Depois falamos de desafios. Você deve estar louca pra sair dai e comer algo, quem sabe tomar um banho.
- Eu posso mesmo?
- É claro que pode, só pegamos você para atrair seus amigos também. Tentamos fazer com que vocês seguissem a Maika, aqui, mas seus amigos desistiram muito rápido. Então pensamos que se fosse uma busca por um de vocês a motivação seria maior. Desculpe pelo mau jeito!
- Que insano!
- Desculpe de verdade. Se não acredita em mim, pode ir... Pegue o que quiser da dispensa e pode ir. Posso te dar a direção que eles estão chegando, mas não posso garantir que não irão se desencontrar. E não posso te livrar de ele a encontrar primeiro.
-Quem é ele? Não estou entendendo nada!
- Fique apenas mais alguns minutos e tudo será explicado quando seus amigos chegarem.
- Posso mesmo confiar? Ficar aqui, tomar banho e comer algo?
- A Maika até pegou algumas roupas na sua mala. Ela tem bom gosto, acho que vai aprovar.
- Ok! Ficarei mais não mais que meia hora. - Ela disse enquanto torcia para não se arrepender.
- Não será preciso mais do que isso.
- Onde é o banheiro?
- Duas portas a esquerda. Têm toalhas limpas - O garoto maior abraçou o menor e o conduziu ao velho sofá - Depois pode se juntar a nós e assistir desenho animado. Adoramos estas coisas. - Ele disse sorrindo.
Ela foi ao banheiro.
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O Chalé [ Concluida]
Mystère / ThrillerO Chalé narra a história de nove amigos em sua última viagem antes de ingressarem na Universidade. É a última chance que terão de estarem juntos antes de se separem para seguir rumo a vida adulta, mas seus planos podem ser mudados quando se deparem...