São Paulo- SP, 1984
Havia chegado a hora que ele havia tanto desejado. A mulher era muito mais rica do que Germano havia falado. A casa ficava em uma área bem distinta. E que casa. Tobias olhou para tudo aquilo e pensou que ele poderia ter sido um daqueles ricaços. Ele poderia estar morando fora como a irmã. Sim, Tobias riu quando descobriu que tinha uma irmã.
— Jardinagem? Aqui não. Não me avisaram nada — Disse a empregadinha de nariz em pé — O senhor tem certeza que não confundiu a casa?
— Passei uma vida pra achar essa casa. Não me enganei, não. Chama a sua patroa aí, ela deve tá esquecida — Tobias sorriu.
A empregada o encarou e pôs as mãos na cintura.
— Eles não estão em casa. Quando eles voltarem você se resolve. Desculpa moço, tenho muito serviço. Bom dia.
Tobias foi tentado a pôr o pé no portão enquanto e revelar que tinha um revólver na cintura, mas se controlou. Precisava matar a pessoa certa, no momento certo. Ele voltaria mais tarde para dar as boas vindas aos donos da casa.
***
São Paulo- SP, 1958.
O tempo parecia não passar. Augusto olhava para o prato com desânimo. Emília, do outro lado da mesa, se resignou ao seu papel de mãe. E ela, ficava entre os dois, um pai imprevisível e uma mãe presa ao papel de escrava.
A vida não era a mesma fazia um mês, quando toda a família fora atropelada por uma série de acontecimentos. Eles não sabiam como reagir. O pai calara-se, envergonhado. A mãe não podia fazer muito. Tudo era um constrangimento diferente na hora do jantar.
― Tomei uma decisão sobre isso.
As mulheres na mesa se sobressaltam. Augusto tinha na voz a carga de um trovão.
― Sobre o quê, querido? ― Emília, tentou ser gentil simulando um sorriso.
Augusto a olhou com sarcasmo.
― Tomei a decisão definitiva sobre o problema que você é a principal culpada ― O pai suspirou.
Emília abaixou a cabeça.
― Não fique assim, Emília. A sua estupidez está gerando uma criança maldita na barriga dessa daí. ― Augusto largou os talheres no prato.
O coração de Emília estava despedaçado.
― Ela também é sua filha, Augusto.
Ele cerrou os punhos e Emília ficou em estado de alerta. O homem pigarreou e olhou para a mulher. Mesmo mantendo o tom da conversa calmo, ele parecia que iria explodir a qualquer momento.
― Eu não tenho mais filha ― Respondeu.
― Podemos tirar. Não podemos? ― Num desespero de que o pai a olhasse pela primeira vez, depois de tudo, ela disse as palavras erradas para o momento, mas saberia disso apenas segundos depois.
Augusto não pensou duas vezes e marcou a mão pesada no rosto rosado da filha. O estalo fez Emília pensar em se levantar para socorrer a filha, mas Augusto a olhou.
― Quieta. Se pensar em ajudar eu quebro você e ela.
Emília apenas viu a filha levantar com a mão no rosto, aos prantos. A garota fugiu para o quarto, enquanto Augusto continuou a bebericar o resto do vinho, como se nada tivesse acontecido. Depois de se espreguiçar na cadeira, ele levantou e resolveu contar para a mulher o que tinha em mente.
― Precisamos nos mudar o mais depressa possível!
― O quê? Pra onde? Quando? ― Emília entrou em desespero.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A terra que ninguém conhece
Mystery / ThrillerSão Paulo, 1986. Mesmo apaixonada por outra pessoa, Júlia Vasconcelos estava prestes a se casar. No dia da cerimônia, no entanto, um crime interrompeu a entrada da noiva na capela do Hotel Rancho Azul, gerando um clima de desconfiança e intriga entr...