Uma semana depois
Ela digeriu a notícia por algumas horas. Sua mente lhe pregava peças e a assustava quando lembrava que Alice estava morta. Havia sido seu segundo velório na semana. Antes, teve o do pai de André. Corina mirou o bebedouro e foi até ele em busca de respostas na forma de um copo de água. Respirou, contou de um até dez para nos próximos minutos não agredir uma idosa de atitudes muito suspeitas, que por um acaso, era a suspeita de matar o pai de seu melhor amigo.
Estava em mãos muitos elementos para pressionar Estela. O resultado da perícia do grampo telefônico encontrado no antigo escritório de Walter que concluiu que a origem do sinal estava na casa do prefeito (os jornais locais e a oposição adoravam essa parte). Na outra pasta algumas transcrições dos áudios da pesquisa que Alice estava fazendo e que contavam uma história inacreditável.
- Corina, a operadora já mandou os registros do telefone da Viviane - Mirian, a escrivã, segurava uma pasta nas mãos.
Corina acenou com a cabeça. Mais tarde ela veria aquilo. Nos papéis que tinha em mãos, o sigilo telefônico do homem que tentou matar a primeira dama também foi quebrado. Haviam mensagens suspeitas que mencionavam vigiar os passos de Alice Werneck. Corina não estava tranquila com aqueles papéis, principalmente os que envolviam a morte Alice. Não tinha mandado matar ninguém, mas não conseguia tirar a culpa do coração. Contou de um até três mais uma vez e entrou na sala.
***
- Pode ir Thiago, obrigada - Corina acenou para o policial.
Ele funcionava como um anjo da guarda para Estela. Levou dedo na cara e quase foi atingido por uma pedra, pois protegia a persona non grata de Odille. Estela já teria sido linchada por estar envolvida no assassinato do prefeito mais querido de todos os tempos.
Na sala, André estava numa ponta bem afastada da avó, que se contentava em ficar imóvel sentada frente a mesa, encarando-a como se não quisesse interagir com mais ninguém ali. Corina já lembrava de seu treinamento e aptidões físicas toda vez que colocava André e Estela no mesmo recinto. Ele havia prometido se comportar e implorou para acompanhar o caso, mas por precaução Corina o olhou no fundo dos olhos como forma de alertá-lo que ela agiria com truculência em caso de descontrole.
- Que é? - Ele levantou as mãos para o ar - Eu não vou fazer nada.
Estela não reagiu. Continuou olhando para a mesa como se o caos não girasse em torno dela.
- Você não é obrigada, mas depois eu não quero ninguém questionando o meu método ou as provas do seu caso, que sendo bem sincera, é bem complicado. Então vou te perguntar mais uma vez, você tem algum contato de advogado? Um defensor pode ser nomeado...
Estela continuou olhando para baixo, com um semblante de coitada. Vestia uma camisa branca e uma calça jeans folgada. Não tinha maquiagem, brincos, colares, pulseiras e seu cabelo estava preso com uma tiara. Corina não negava a vontade de sacudir aquela mulher, mas sempre respirava fundo ao lembrar do Estatuto do Idoso.
- Muito bem. Eu vou direto ao ponto. Eu não sei se eu já disse para você que seu silêncio é legal, mas que se você colaborasse as coisas seriam bem mais fáceis, mas é isso mesmo. Seria bom você me contar, caso queira sair dessa em uma menos pior. Outra coisa que eu já falei é que a informação chega até a gente, de uma forma ou de outra, mesmo você não querendo dizer o seu lado. Pois bem, nós já sabemos sobre o Filinto, sobre o Fernando e sabemos que o homem com o qual você se casou em segredo mandou assassinar duas pessoas.
Pela primeira vez, Estela esboçou uma reação. Aquela última informação era surpreendente para ela.
- Quem? - Estela perguntou.
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A terra que ninguém conhece
Mystery / ThrillerSão Paulo, 1986. Mesmo apaixonada por outra pessoa, Júlia Vasconcelos estava prestes a se casar. No dia da cerimônia, no entanto, um crime interrompeu a entrada da noiva na capela do Hotel Rancho Azul, gerando um clima de desconfiança e intriga entr...