— Faz tanto tempo? Mudamos tanto assim? — Saulo brincou, rindo.
Olívia nem percebeu quando ele tentou abraçá-la.
— Ah, mas até que você está conservada, não é Helena? — Disse Saulo, virando-se para a esposa.
Helena deu um sorriso amarelo confirmando com a cabeça.
Saulo sempre fora impertinente. Olívia não se admirava que ele fosse amigo de Fernando a anos. Parecia tão alegre, brincalhão, mas algo soava falso nele. Existia algo que Olívia nunca soube dizer o que era.
— Ah, mas nós sentimos muito mesmo. Por tudo o que aconteceu. — Saulo pegou nas mãos de Olívia para demonstrar condolências. Ela tentou afastá-las de maneira discreta.
— Obrigada. — Respondeu ela.
— Onde está Leonardo? E Fernando? — Saulo indagou, ajeitando o paletó amassado.
— Bom, creio eu que vá ter que esperar um pouco. A polícia está aqui colhendo depoimentos e o Leonardo está dentro do escritório com eles. Suponho que o Fernando seja o próximo.
— Ah sim — Saulo murmurou.
— E você, bom rapaz, como está? — Saulo abraçou Renato. — Te peguei no colo!
Olívia não estava confortável. Então decidiu interromper.
— Bom, mas suponho que queiram descansar um pouco, não é?
— Ah sim, estou louco para tomar um banho! Ainda há quartos disponíveis aqui?
— Sim, Saulo. O hotel estava fechado para o casamento, e os convidados já foram embora. — Olívia engoliu em seco — então quase todos os quartos estão vagos.
Saulo assentiu, pensativo.
Renato acompanhou Saulo para mostrar o quarto.
— Ah não, não... Por favor. Um funcionário virá buscar, não se preocupe. — Interpelou Olívia, ao ver que Helena iria arrastar as bagagens em direção ao marido.
Ao fazer isso, as mãos das duas se tocaram depois de tantos anos. Elas se olharam desconcertadas enquanto um homem uniformizado surgiu e levou a bagagem em direção às escadas.
Pelo canto do olho ela viu Saulo subir as escadas. Olhou para ele e esboçou um sinal com a mão em direção a Olívia. Saulo entendeu a mensagem e fez um sinal positivo. Depois riu e colocou a mão na boca e sussurrou. Helena entendeu como "fofoca".
Saulo desapareceu escadas acima enquanto acompanhava Renato.
— Por favor — Propôs Olívia, indicando a porta. As duas saíram para terem a conversa tão esperada.
***
Era uma mulher morena, por volta dos 45, 47 anos. Baixa e usando um uniforme de camareira. Estava deitada de bruços, com dois tiros nas costas, jogada ali na estradinha de terra.
— Quem é ele? — Indagou Lincoln ao outro policial que encontrou a mulher.
— É um velho camponês. Ele tem uma fábrica de queijos artesanais no sítio dele. — O policial fez uma pausa, coçando o nariz e olhando fixo em direção ao velhinho — Ele diz ter ouvido os tiros — Sussurrou o policial.
— Vou lá falar com ele. — Afirmou Lincoln, indo em direção ao senhor.
Ele foi se aproximando cauteloso e notou o olhar do velhinho em direção ao distintivo pendurado no pescoço do inspetor.
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A terra que ninguém conhece
Mystery / ThrillerSão Paulo, 1986. Mesmo apaixonada por outra pessoa, Júlia Vasconcelos estava prestes a se casar. No dia da cerimônia, no entanto, um crime interrompeu a entrada da noiva na capela do Hotel Rancho Azul, gerando um clima de desconfiança e intriga entr...